terça-feira, 28 de abril de 2015

O sacerdócio e Orunmila..




Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola.

Em todas as profissões existem dificuldades e sempre aparece alguém que pensa diferente de você, por essa razão estou escrevendo esse texto, escrevo esse texto por acreditar que estou no caminho certo. Na verdade a opinião das pessoas pouco deve influenciar o nosso trabalho depois de mais de cinquenta anos nesse meio.

Conhecendo o comportamento dos críticos de plantão, ser sacerdote é muito difícil, principalmente quando você tem princípios.

O caso se complica muito quando lidamos com pessoas sem nenhuma noção da realidade, o conceito de sacerdote em nossa cultura tem como parâmetro os padres católicos, não somos católicos, praticamos a religião tradicional do povo Yoruba e não devemos raciocinar com base na filosofia católica.

Os católicos seguem uma religião que tem como exemplo de comportamento seus santos, todos devem tentar ser iguais aos santos e se comportar com base em seus atos, no culto a orixá isso não é indicado, imagine que eu siga o comportamento de Ogun e resolva sair cortando cabeças de todas as pessoas que não falem comigo.

Imaginem que eu copie o comportamento de Soponan, e deseje para as pessoas que se opõem a mim todo tipo de doença, não seria o mais indicado.

A religião tradicional é muito diferente do catolicismo, no catolicismo a filosofia indicada está alinhada com a teologia e os ritos, o culto ao orixá em nosso país tem ritos próprios e uma teologia com muita informação, já a filosofia do culto ao orixá está na mão dos Babalawos é eles quem tem o conhecimento passado pelo profeta AGBONNIREGUN.

Se os Babalawos não assumirem as suas funções de informar e divulgar os ensinamentos de Orunmila o nosso povo vai continuar raciocinando como católicos, isso implica diretamente na perda da fé porque as pessoas esperam de nossa religião o que é pregado na filosofia católica e não somos católicos, o desastre é certo, se não for divulgado a filosofia do povo Yoruba.

No culto ao orixá somos nós que escolhemos o nosso destino antes de vir para terra e o percentual a ser mudado nele em razão de nosso comportamento é muito pequeno.

Um comportamento adequado faz com que nós tenhamos satisfação e prazer pessoal, se comportar bem em nossa religião não garante um terreno no céu, como pregam alguns seguidores mercenários de Jesus.

Jesus não faz parte da nossa religião, nós respeitamos Jesus, mas não temos essa filosofia, então estudar é preciso, temos que alinhar a nossa forma de pensar com a nossa forma de agir, as pessoas continuam pedindo para o orixá um destino que elas não escolheram ao invés de buscar o destino por elas escolhido.

Cada vez que um de nós reza para os orixás pedindo o que não está em nosso destino estamos destruindo a capacidade de ter fé, esses pedidos jamais serão atendidos, e o não atendimento implicará em um afastamento por falta de retorno.

Outro dia ouvi de uma iyalorixa, minha amiga, a seguinte frase, (meus filhos de santo são a minha vida). No culto ao orixá é totalmente diferente, a minha vida são os meus orixás e não as pessoas que eu início, vou tentar explicar a cultura de orixá e a sua filosofia.

Na religião de orixá não atendemos somente as pessoas que simpatizamos e tão pouco iniciamos somente as mesmas, atendemos e iniciamos as pessoas indicadas pelo orixá.

Um exemplo que posso citar é que durante longo tempo de minha vida combati o tráfego de drogas, isso seria um indicativo suficiente para que eu não atendesse pessoas com dependência química, mas se orixá traz essas pessoas em minha porta e Orunmila manda que eu as inicie eu as iniciarei.

A iniciação é para ajudar as pessoas a melhorar se ela já é perfeita não precisa religião, então não posso discriminar as pessoas por seus comportamentos.

Um exemplo é que em nossa religião atendemos pessoas com preferência sexual completamente diferente da nossa, na religião católica durante vários anos não se falava em homossexualismo. Nas casas de orixá essa questão não é observada, a preferência sexual de cada um é uma escolha dela, sendo assim, os ensinamentos de Orunmila devem ser compartilhados com qualquer pessoa, Ifá é para todos.

Fazer religião para dizer as pessoas o que elas querem ouvir é muito fácil, qualquer idiota consegue; reproduzir o que o orixá indica implica em ter coragem e sobretudo conhecimento para fazer a interpretação.

Atender pessoas é indicar a elas um comportamento para a melhoria de qualidade de vida, não é manter simpatizantes fazendo agrados, ser sacerdote é seguir os princípios religiosos e não é seguir as pessoas.

A religião é para melhorar o homem e não faço religião para ter seguidores indico as pessoas que sigam a orientação de Orunmila, independentemente de ser em minha casa ou não. Não quero ser proprietário dos meus iniciados, e eles tem liberdade para ir e vir.

O iniciado não é perfeito, a imperfeição é o motivo da iniciação, só tem sentido a iniciação quando ela conduz a pessoa ao destino por ela escolhido e somente Orunmila conhece esse destino, Orunmila foi testemunha de nossa escolha.

O sacerdote de nossa religião não deve buscar agradar as pessoas, ele deve agradar os orixás, se você acredita na indicação do orixá não importa se as pessoas se opõe ao seu pensamento.
Você precisa ter muita coragem e força de vontade além de fé, para se opor a opinião da maioria, porém se o orixá indicou esse caminho para você, é esse o caminho que deve ser seguido.

O sacerdote que inicia pessoas por simpatia ou por afinidade de pensamento, cria um elo de ligação que inibe a verdade, e a mentira como forma de agrado, passa a ser a dialética.

A oposição ao seu pensar por parte de seus iniciados ou a não aceitação do comportamento dos mesmos pelo sacerdote não deve indicar as tratativas no dia a dia, o parâmetro deve ser estipulado e mantido pela sagrada palavra do orixá, então se você inicia somente as pessoas que se comportam de forma a que você admira, você não precisa inicia-las elas já têm a perfeição em seu agir.

Vai chegar o momento em que nossos sacerdotes vão deixar de pensar como católicos e vão estudar a filosofia do culto ao orixá, isso vai implicar diretamente na redução do enorme número de pessoas que abandonam a nossa religião.

O orixá vai deixar de ser o mágico que resolve tudo, quando as pessoas conseguirem sair do terreno alagadiço da ignorância.




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