quinta-feira, 30 de julho de 2015

O equívoco da fé




Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola.

Particularmente acredito que o esvaziamento das casas de orixás não se deve a falta de fé e sim ao equivoco da fé.

Equivocadamente o nosso povo foi ensinado a acreditar nos orixás somente quando tudo está indo bem.

Na verdade existe uma enorme variante em cada questão entre a resposta positiva e a negativa, mas nos foi ensinado a acreditar no orixá quando tudo está correndo bem e os resultados são positivos.

Chegamos ao ponto de acreditar que o orixá deva fazer tudo que queremos, na data e local por nós escolhidos, na verdade somos tão poderosos que damos ordens para os orixás baseados no equívoco da fé ou no excesso de ignorância.

Quando as coisas não acontecem da forma que queremos mudar de casa ou de família de axé é a opção mais usada, esquecem os menos avisados que existem várias implicações nesses afastamentos já que seguimos uma religião Yoruba temos que ter a consciência que no território Yoruba o homem nasce e vive uma vida inteira pertencendo a uma única casa.

Qual seria a explicação para essa enorme variante na forma de agir que difere tanto os nossos iniciados dos iniciados em terras nigerianas?

A explicação para esse fato que implica no entra e sai das casas de axé é a forma equivocada que nos foi mostrado o orixá, o orixá no Brasil é um super herói que é retratado com uma musculatura excepcional e uma beleza indescritível. Esse exemplo de perfeição ao nosso ver nada mais é que um secretario de luxo que obedece sem replicar, em nada retratando o orixá.

Esse enorme absurdo nos levou a acreditar que a nossa religião é a melhor porque nos possibilita emprego, dinheiro, poder e amor.
Se fosse assim jamais um babalorixá ou um babalawo adoeceria ou teria problemas financeiros.

A pergunta é seguinte:

- Porque em todas as outras religiões não existe essa forma de imaginar as divindades?

O equívoco da fé é o retrato do equívoco da educação como um todo, nos países menos esclarecidos as pessoas são criadas para respeitar os ditames religiosos sem nenhum questionamento, mas se o educador não é bem educado o reflexo é visto no iniciado ignorante.

Oxum não é a mulher maravilha e Ogun não é o super homem, é difícil acreditar, mas é mais ou menos esse o conceito que nos foi passado, com um agravante, os nossos super heróis são escravizados e não tem vontade própria, são obrigados a fazer tudo que pedimos ou deixamos de acreditar neles.

Se isso continuar assim os filhos dos filhos serão reflexos da ignorância que se viveu no passado. A insistência na falta de informação perpetuará o equívoco, prejudicará o presente, desmoralizará o passado e aniquilará o futuro.

Cabe a nós mudarmos essa história com simplicidade e honestidade, orientando os iniciados para que não se equivoquem dando ordens aos orixás. Ensinar religião é como alimentar alguém, a escolha do alimento é que vai implicar em um futuro saudável, se você não orientar corretamente o iniciado, as expectativas não serão correspondidas e a decepção certamente vai acontecer.

As pessoas precisam entender que se elas em um passado foram atendidas em suas preces e hoje não o são, isso não deve implicar em afastamento da sua fé.

Se um iniciado nega o seu nome ele está negando a sua iniciação e está negando a proteção dos antepassados daquela família.

Isso é bem claro, pois se um babalawo jura segurando o ekodide e quebra o juramento o ekodide não tem nenhum sentido, e a sua iniciação deixa de existir. Se ele não usa o nome familiar porque os antepassados daquela família deveriam ouvi-lo em suas orações?

Se um iniciado em orixá quebra um juramento de respeito a sua família e o culto a orixá é familiar, como pode ele seguir invocando aquela mesma divindade, se não pertence mais a aquela família?

As implicações são muitas e os equívocos se multiplicam, fruto da falta de informações corretas, iniciados mudam de casa em busca dos resultados milagrosos e dá resposta dos super heróis.

Acreditar é preciso, mas ter lucidez é fundamental!



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