Escola Superior de Ifá (Èsì)
Curso de Filosofia e Teologia Yorùbá
Módulo Inicial
Aula (01) - Jogo de búzios não é Ifá.
A
influência da população escrava trazida para o Brasil na época da colonização
portuguesa é evidente nos hábitos de nosso povo, na música, na culinária e na
forma alegre de viver de um povo que acredita em Òrìṣà.
Consultar
os Òrìṣàs através do jogo de búzios em nosso país é uma coisa muito comum, mas
não é Ifá.
Existe
a necessidade de esclarecer os nossos leitores, porque equivocadamente as
pessoas seguem dizendo que consultaram Ifá, quando na verdade consultaram Ọ̀ṣun.
A
consulta ao conhecido jogo de búzio é muito diferente de uma consulta a
Ọ̀pẹ̀lẹ̀ ou Ikin, no jogo de búzio o Òrìṣà que orienta o consulente é Ọ̀ṣun,
e em uma consulta a Ifá, quem orienta o consulente é Ọ̀rúnmìlà.
O
conhecido jogo de búzio é conhecido no território Yorùbá pela denominação
Ẹ̀rindílógún, essa prática é desenvolvida com uso de dezesseis pequenos
caramujos como instrumento de consulta ao Òrìṣà Ọ̀ṣun.
Na
Religião Tradicional Yorùbá, um mesmo Òrìṣà tem vários nomes, Ọ̀rúnmìlà é um
Òrìṣà que quando atua na intuição do sacerdote recebe o nome de Ẹ̀là.
Ọ̀rúnmìlà
tem vários nomes, o mais conhecido é Ifá, essa denominação acontece quando
Ọ̀rúnmìlà é invocado em forma de Oráculo.
O Oráculo de Ọ̀rúnmìlà através dos odùs e dos
versos sagrados é conhecido como Ifá.
O funcionamento do
oráculo é baseado em elementos conhecidos como odùs, que constituíram a criação
do universo sobre as orientações de Deus (Olódùmarè). Todos Òrìṣàs, assim como
todos os seres humanos e todos os elementos da natureza nascem dos odùs.
As
palavras de Ọ̀rúnmìlà são sagradas e constituem uma vertente de infinita
sabedoria como extensão de Deus que recebe a denominação de Ifá.
Todo
odù é composto de inúmeros versos que contam histórias dos Òrìṣàs e de vários
personagens que retratam a palavra de Ọ̀rúnmìlà.
Conta
a história que entre todos os discípulos de Ọ̀rúnmìlà o que mais se destacou
chamava-se Agbọnnìrègún, esse sacerdote é conhecido como a reencarnação de Ọ̀rúnmìlà.
O
Bàbáláwo é o sacerdote que consulta Ọ̀rúnmìlà através do oráculo conhecido pelo
nome de Ifá com um instrumento conhecido pelo nome de Ọ̀pẹ̀lẹ̀.
Instrumento
usado nas consultas a Ifá que consiste em uma espécie de corrente com quatro
sementes cortadas a o meio.
Os
ikins são uma espécie de semente de palmeira que também é usado por Bàbáláwos e
Ìyánífás como Oráculo de Ifá.
As
Ìyánífás são sacerdotisas de Ọ̀rúnmìlà que também consultam a Ọ̀rúnmìlà com o
Oráculo de Ifá, Ọ̀pẹ̀lẹ̀ e Ikin.
De
acordo com a Religião Tradicional Yorùbá, Ọ̀rúnmìlà é o único Òrìṣà que estava
presente quando escolhemos o nosso destino, Ọ̀rúnmìlà é aquele que tudo sabe.
Conforme
o Odù Ìwòrì Òdí toda pessoa pode ser iniciada em Ifá, não devemos confundir com
ser um Bàbáláwo (sacerdote de Ifá).
Esse
texto fala de iniciação e não de sacerdócio.
Kosi abiyamo ti ko lee
bi Awo l’omo,
Kosi abiyamo ti ko lee
bi Orunmila.
Baba eni, bioba bi’ni
ni pipe,
Bopetiti, a tun nbi
Baba eni l’omo’ Yeye.
Eni, bioba bi’ni ni
pipe,
Bopetiti, a tun nbi
Yeye eni l’omo.
A daa f’Orunmila, ti o
wipe:
Oun maa m’Orun bo wa si aye,
Oun maa mu Aye lo
s’Orun.
Ki o baa le se bee
dandan,
IFA ni ki o ru
ohun-gbogbo ni mejimeji,
Abo ati Ako bayi
Agbo kan, Agutan kan,
Obuko kan, Ewure kan,
Akuko-adiye kan,
Agbebo-adiye kan; ati
beebee lo. O gbo o
rubo.
Bee ni aye nbisii ti won si nre sii.
Tradução:
Não
existe nenhuma mulher que dê à luz a filhos que não possa dar à luz a um
Sacerdote de Ifá.
Não
existe nenhuma mulher que dê à luz a filhos que não possa dar à luz a Ọ̀rúnmìlà.
Nosso
pai, se ele nos dá à luz em plenitude, inevitavelmente nós devemos em tempo dar
à luz a ele em retribuição.
Nossa
mãe, se ela nos dá à luz em plenitude, inevitavelmente nós devemos em tempo dar
à luz a ele em retribuição.
O
Ifá foi consultado por Ọ̀rúnmìlà, quando ele disse que “Ele trará os Céus
abaixo para a Terra, Ele trará a Terra acima para os Céus.”
De
forma que ele possa realizar com sucesso sua missão, a Ele foi dito para
oferecer tudo em dois, um macho e uma fêmea.
Um
carneiro e uma ovelha, um bode e uma cabra, um galo e uma galinha etc.
Ọ̀rúnmìlà
escutou, prestou atenção, obedeceu e sacrificou.
Assim
a Terra tornou-se frutífera e multiplicou grandemente.
Olúwo Ifagbaiyin Awolola Agboola
3
Aula (02) - Ifá x Elénìnì
Autor:
Olúwo Ifagbaiyin Agboola
Nos
últimos anos se tornou muito comum ouvir dizer que diminuiu a qualidade do
ensino nas escolas, também se ouvi muito falar que diminuiu a segurança e que
aumentou muito o risco de assalto.
Além
disso o perigo no trânsito aumentou muito e os acidentes quase que triplicaram
nos últimos anos, fala-se que os alimentos nunca estiveram com os preços tão
elevados.
Os
historiadores, os economistas e os cientistas políticos afirmam que existe uma
grande possibilidade que aconteça a terceira guerra mundial.
A
soma dos fatores acima citados exerce uma enorme pressão no homem e o resultado
disso é o aumento de pessoas com distúrbios do sistema nervoso.
A
Religião Tradicional Yorùbá classifica de forma diferente esses problemas da
vida moderna considerando os fatores de influência como Ajogúns e Elénìnì.
-
AJOGÚNS: elementos externos que
podem penetrar na mente e no corpo do homem influenciando a sua qualidade de
vida.
- ELÉNÌNÌ: elemento interno que se desenvolve na mente limitando o desenvolvimento e a evolução.
Para
as pessoas que não cultuam Òrìṣàs e não conhecem as palavras iorubanas citadas
acima:
Os
Ajogúns são a morte, as doenças e os problemas de um modo geral.
Elénìnì
é o desanimo, as frustações e os traumas que ao longo do tempo desenvolvem
bloqueios e privações no dia a dia.
Sempre
me fazem a mesma pergunta quando abordo esse tema, é possível mesmo diante de
tantos acontecimentos externos manter a paz interna?
Esse
texto é uma forma de explicar de acordo com a filosofia religiosa Yorùbá como
isso é possível.
Primeiramente
através das iniciações é possível desenvolver o auto conhecimento e a percepção
que a felicidade mesmo diante dos problemas não é alienação e sim solução.
A
pessoa feliz não deve se sentir culpado por estar em harmonia com o seu Òrìṣà
e com as orientações do seu odù, pois só assim haverá uma total realização do
destino escolhido antes do nascimento.
A
principal barreira para a superação dos bloqueios é o medo.
O
medo é o principal sintoma da presença de Elénìnì.
É
uma construção interna que normalmente acontece na infância deixando marcas
profundas no Orí e no Ìwà, (caráter).
Quando
o medo se instala ele automaticamente cria a insegurança e a insegurança gera a
inibição e traumas.
Quando
o indivíduo não reage de forma positiva a um trauma ou uma experiência negativa
o caráter poderá ser abalado e as reações exteriorizadas dificilmente serão controladas.
Para
controlar as reações de Elénìnì em primeiro lugar, deve ser desenvolvido a
busca pelo auto conhecimento.
Embora
exista uma outra forma de combater esse problema conhecida como a transmissão
do àṣẹ.
O
àṣẹ é uma energia que pode ser transmitido de várias maneiras.
-
Primeiramente como já citamos o auto conhecimento adquirido nas iniciações é a
transmissão de àṣẹ mais eficiente.
-
Embora o Bọrí também oferecer uma forma de tratamento diferenciada com grandes
resultados.
-
O ẹbọ é método mais comum e o menos eficaz nesses casos, pois, não se trata de
uma construção negativa externa.
Tem
como principal aliado o medo, o egoísmo e a arrogância, esses fatores paralisam
e afastam o entendimento e as soluções para as dificuldades.
O
medo é desenvolvido com forma de defesa em momentos de dor profunda, Elénìnì se
aproveita desses traumas para enfraquecer o indivíduo abrindo a porta para os Ajogúns.
Quando
os Ajogúns começam a agir Elénìnì é fortalecido criando uma série de
sentimentos negativos como o egoísmo, embora muitas vezes a presença do Ajogún
também auxilie na transformação positiva.
Infelizmente
quando Ìyá mi Òṣòròngà permite a entrada dos Ajogúns na vida dos homens
existem reações negativas e positivas é o que popularmente descrito como
aprender pela dor.
São
bastante conhecidos por suas forças transformadoras, o ideal seria que a
transformação acontecesse através das iniciações e não com os sofrimentos.
Baseado
no raciocínio descrito acima é de fácil entendimento que os Ajogúns e Elénìnì
são obstáculos que podem ser superados com um conjunto de ações interligadas
que contribuem para a evolução do espírito.
Sendo
assim o tratamento da pessoa afetada deve ser simultâneo, deve existir a
recuperação do equilíbrio e o aprimoramento do caráter.
Quem
acreditar que existe uma formula mágica vai sofrer uma grande decepção.
Aula (03) - A Saudação dos iniciados em Ifá.
Àbọ̀rú Àbọ́yẹ́ Àbọ́ṣíṣẹ
Significado da saudação:
Àbọ̀rú Àbọ́yẹ́ Àbọ́ṣíṣẹ,
é a contração das palavras:
kí ẹbọ fin, kí ẹbọ
dá, kí ẹbọ o ṣe.
Que significa:
Meu
sacrifício será autorizado, meu sacrifício será aceito, meu sacrifício se
manifestará respectivamente.
Em resposta a esta saudação teremos:
Agbó Atọ́, Àsúre Ìwòrì
Òfún.
Agbó Atọ́ é a contração das palavras: A Ìyá gbé, A Ìyá tọ́, que significa, que você tenha prosperidade e longevidade.
Àsúre Ìwòrì Òfún,
significa: que tenhamos uma vida longa, saudável e que recebamos as bênçãos do Odù Ìwòrì Òfún.
O
Odù Ìwòrì Òfún, é utilizado para
abençoar às pessoas
Sendo
assim teremos:
Àbọ̀rú Àbọ́yẹ́ Àbọ́ṣíṣẹ
(meu sacrifício será autorizado, aceito e se manifestará respectivamente) – Agbó Atọ́ Àsúre Ìwòrì Òfún (que tenhamos
uma vida longa, saudável e que recebamos as bênçãos de Ìwòrì Òfún).
Bàbáláwo Brasileiro
“Um dia foi me perguntado se poderia haver um Bàbáláwo
Brasileiro, e isso me fez pensar, que trauma de inferioridade nosso povo vive
ao longo da história, que só o que é estrangeiro é bom.”
Ifagbaiyin Agboola
Se
um brasileiro, que passa pelas mesmas cerimônias que um iorubano, o que o torna
menos capaz diante dos olhos de Ọ̀rúnmìlà? (Nada).
O
ritual conhecido como Ìtẹ̀fá, qualifica a pessoa para ser um sacerdote e dar
início a uma jornada de aprendizado e qualificação sacerdotal para o resto da
vida, no qual, dependendo dos esforços, dedicação e estudos o recém iniciado
poderá levar mais ou menos tempo para sua formação como Bàbáláwo.
Antigamente
dizia-se que o iniciado em Ifá, deveria estudar no mínimo 15 anos para se
tornar um Bàbáláwo. Hoje, com tantos mecanismos disponíveis que auxiliam para o
desenvolvimento do ensino-aprendizagem, os sacerdotes conseguem reduzir
bastante esse tempo de aprendizado.
Todo
o iniciado que se submete as devidas cerimônias de iniciação deve
obrigatoriamente ser reconhecido pelo título que recebeu. Se ele vai ser um
sacerdote qualificado ou não irá depender muito dos seus próprios esforços,
assim como, em qualquer outra profissão. É importante ressaltar que o fato do
iniciado passar por certos rituais, não o habilita a realizar os mesmos, mas, o
torna reconhecido como o tal.
Dizer
que todo brasileiro não pode ser um Bàbáláwo, é no mínimo imprudência, porque
Ifá, ensina que generalizar não é inteligente. Devemos estar abertos ao diálogo
e as mudanças, pois, até a natureza está em constante transformação. Uma das
missões que Ifá, deu aos Bàbáláwos, é que ele ande pelo mundo e inicie novos
sacerdotes.
Aula (04) - A Honestidade, O Sacerdócio e a Verdade
“A honestidade é uma qualidade de ser verdadeiro, não
mentir, não fraudar, não enganar e deveria ser a principal característica de um
sacerdote. Quando uma pessoa procura uma casa de religião para consultar é isso
que ela espera, mas muitas vezes termina pagando para ouvir mentiras e ser
iludida conforme o interesse de quem está manipulando o oráculo.”
Ifagbaiyin Agboola
É difícil de acreditar que existem pessoas que utilizam o nome do Òrìṣà, para benefício próprio. Em nome dos Òrìṣàs, atos são proferidos e verbas são liberadas, documentos são assinados, acordos ignorados, diante tudo isso, pessoas são iludidas.
O
indivíduo que é honesto procura agir dentro de uma lógica que implica em manter
uma postura digna e coerente com a prática religiosa que professa. A obediência
incondicional às regras existentes dentro e fora da religião, faz de um
sacerdote um exemplo de comportamento, um elemento em permanente destaque.
Exercer
o sacerdócio com honestidade em caráter amplo é muito difícil, mas, é o mínimo
que o Òrìṣà espera do sacerdote. Não existe um procedimento onde possa burlar
a verdade e mudar a realidade, os Òrìṣàs jamais mentem, poderá acontecer até
uma má interpretação do sacerdote, porém, nunca um erro do Òrìṣà, o Òrìṣà não
erra, o Òrìṣà não mente.
Para
muitas pessoas ser honesto é aquele indivíduo que não mente, não furta, não
rouba, que respeita os outros, enfim, mas, isso não é suficiente, você deve ser
uma pessoa confiável e fazer tudo que os Òrìṣàs indicam, sem criar artifícios
para benefício próprio. Para ser um sacerdote você precisa ser verdadeiro,
precisa acreditar e praticar tudo aquilo que você intermedia entre o Òrìṣà e a
pessoa, caso contrário nada fará sentido.
Todo
ser merece ser respeitado, todos nós temos um Orí e Òrìṣàs, sendo assim, não
minta em nome dos Òrìṣàs, pois, você estará ofendendo seus próprios
antepassados. Faça somente aquilo que você está habilitado a fazer, não
invente, não minta e não crie.
Isso
é o mínimo necessário para você se dizer um sacerdote, é o que as pessoas
esperam de você quando lhe procuram para uma consulta, honre a sua religião,
honre seu Òrìṣà, seja digno de seus antepassados, pois, aquele que fala em
nome dos Òrìṣàs, tem a obrigação de dizer sempre a verdade.
Aula (05) - A Descoberta do Òrìsà
“No nosso privilegiado Brasil, com sua natureza exuberante e
um povo acolhedor, somos capazes de receber pessoas de vários países e com
práticas religiosas diferentes, sendo assim, é muito comum, pessoas mudarem de
religião depois de adultas, começarem a praticar outra crença por curiosidade
ou até mesmo influenciado por alguns amigos ou familiares...
Ifakemi Agboola
O primeiro contato com a religião dos Òrìṣàs é tudo muito bonito. E é nesse exato momento que os maiores erros poderão ser cometidos.
A
religião afro brasileira é belíssima com suas cores, seus sabores e com seus
ritmos, a pessoa se encanta com o conjunto, mas muitas vezes, desconhece alguns
aspectos importantes, como por exemplo, uma consulta de búzios que implica um
ẹbọ.
Feito
o jogo de búzios, começa ali sua caminhada de descobertas dentro da religião,
que na maioria das vezes, o que era para te levar ao encontro com o sagrado
harmoniosamente acaba em um total desencontro e desarmonia, pois, isso irá
depender muito da seriedade e do conhecimento do sacerdote ao qual você
confiou.
Eu
levanto aqui a seguinte pergunta: Quantos de vocês, na primeira vez, que foram
consultar o oráculo, lhes disseram que o Òrìṣà deveria ser feito e você
iniciado? Causando assim, a impressão de que você deveria ser feito para
determinado Òrìṣà, após, a primeira consulta.
Sendo
assim, a sua busca pela descoberta da religião, aquela na qual você acredita
ser capaz de suprir todos os seus vazios dentro de seu interior, acaba se
tornando um mundo de magias, com um Òrìṣà já estabelecido na sua cabeça,
revelado em minutos, como um passe de mágica.
Logo
em seguida, através da primeira consulta, a pessoa sai em busca de tudo sobre o
Òrìṣà que lhe foi atribuído. Paralelamente, a pessoa começa um processo de
transformação para receber (incorporar) o seu Òrìṣà. Sendo que não houve tempo
para compreender nem mesmo o significado do próprio Òrìṣà.
Ao
longo do tempo, alguns problemas vão se intensificando e tornando ainda maiores
e o que antes era para ser uma solução passa a ser um verdadeiro embaraço. E
não para por aí, o fato de a pessoa ter se vinculado a uma religião que muito
das vezes desconhece, juntamente com sacerdotes despreparados, potencializam
ainda mais o problema que já se encontra instalado.
Vários
fatores podem contribuir para essa sequência de falhas, mas, os mais comuns
são: a pressa e a desinformação, tanto por parte da pessoa que busca uma
consulta, quanto a falta de preparo do sacerdote. É importante ressaltar que
todos esses problemas podem ser evitados por um sacerdote bem qualificado e com
o real conhecimento sobre a religião, evitando assim, o sofrimento e a
desilusão.
Aula (06) - O Despreparo e o Perigo
“A preparação de um Bàbáláwo, é demorada além
de exigir muito estudo e dedicação, o awo (iniciado), que deseja atender com
Ọ̀pẹ̀lẹ̀ Ifá ou Ikin Ifá, deve estar muito bem preparado, pois, veremos alguns
perigos e danos causados pela falta de preparo. Um exemplo é alguns odùs que
são bastante conhecidos para a prosperidade que estão sendo utilizados
indistintamente, como o caso do odù Ìrẹtẹ̀ Alàjé, que é um odu bastante
conhecido por facilitar o ganho financeiro, porém, deixa de ser citado, como um
odù de risco de morte...”
Ifagbaiyin Agboola
O odù Òtúrúpọ̀n Ìwòrì, é um odù que requer um tratamento especial, pois, ele inviabiliza naquele momento o uso do Ọ̀pẹ̀lẹ̀ Ifá, já o odù Òfún Ọ̀sá, indica que o consulente não tem saída, a não ser uma iniciação imediata. O odù Ọ̀yẹ̀kú Ọ̀ṣẹ́, assim como, Ìrẹtẹ̀ Ọ̀yẹ̀kú, alerta que a morte está próxima. Assim como esses odùs, existem vários outros, que requer muita atenção e conhecimento por parte do sacerdote. Pois, um Bàbáláwo com uma má formação, poderá levar a ruina a sua própria vida, assim como, das pessoas que o seguem.
Como
forma de esclarecimentos, citarei aqui alguns princípios básicos que norteiam a
nossa religião Ifá. São eles:
1
– Olúwo, Bàbáláwo e Ìyánífá, não incorporam.
2
– Olúwo, Bàbáláwo e Ìyánífá, consultam Ifá, através de um oráculo chamado
Ọ̀pẹ̀lẹ̀ Ifá.
3
– Ifá não responde no Ẹ̀rindílógún, ou seja, jogo de búzios, quem responde no
jogo de búzios é o Òrìṣà Ọ̀ṣun.
4
– Nenhum sacerdote poderá iniciar outra pessoa em um Òrìṣà que ele não seja
iniciado, salvo em uma única exceção, quando o sacerdote possui Ìyá Òdù.
5
– Se a pessoa iniciada não possuir o Òrìṣà Èṣù e Ọ̀ṣun, é impossível que
atenda com jogo de búzios (Ẹ̀rindílógún).
6
– Se a pessoa iniciada não possuir o Òrìṣà Ògún, é impossível que se utilize a
faca.
7
– Um Bàbáláwo, só se torna Olúwo, depois de um longo treinamento e ter
assentado Ọ̀pá Osú e Ìyá Òdù.
8
– Um Bàbáláwo, em processo de aprendizagem poderá utilizar o Ọ̀pẹ̀lẹ̀ Ifá
somente para suas questões pessoais.
9
– O pano da costa das mulheres iniciadas é usado no ombro esquerdo.
10
– O conhecido pano de cabeça, como o próprio nome diz, é utilizado para cobrir
a cabeça e jamais deverá deixar os cabelos à mostra.
11
– Um Ọ̀jẹ̀ iniciado poderá iniciar outro Ọ̀jẹ̀, somente depois de vestir o
principal Egúngún de sua casa.
12
– Um iniciado em Ìyá Mi, poderá iniciar outra pessoa, somente depois de cumprir
todos os ìmulẹ̀s.
E
para finalizar nossa pequena lista de esclarecimentos quero deixar claro quê:
Somente
os iniciados em Ifá podem usar o Idẹ e Ìlẹ̀kẹ̀ Ifá, ou seja, a pulseira e o
colar de Ifá.
Aula (07) - O universo empresarial e os Òrìsàs
“Hoje conversando com alguns iniciados em uma tentativa de
descrever a visão da Religião Tradicional Yorùbá sobre o universo, usei o
exemplo de uma empresa para uma didática bastante simples: abordar a influência
dos Òrìṣàs em nosso dia a dia.”
Ifagbaiyin Agboola
Se o universo fosse uma empresa:
Olódùmarè
seria o presidente, Ọ̀rúnmìlà, o diretor administrativo, Ìyá mi, a diretora
executiva, os Òrìṣàs, seriam os fornecedores de matéria prima, e por fim, nós
seres humanos, seríamos os representantes dos fornecedores de matéria prima, ou
seja, representantes dos Òrìṣàs, onde, a nossa função é mantermos a empresa em
perfeito funcionamento.
Ìyá
mi, por sua vez, tem a função de delegar funções para seus chefes de departamentos,
que conhecemos pelo nome de Ajogún, na qual ela ordena a execução do positivo e
também o negativo. Ìyá mi, por ter esse cargo, assim como Ọ̀rúnmìlà, possuem
uma relação bastante estreita com Olódùmarè, pois, é uma função, onde, exige
uma confiança incondicional, e assim, deve ser a relação entre Ọ̀rúnmìlà, Ìyá
mi, e Olódùmarè.
Com
um organograma já pré-estabelecido o fornecimento de matéria prima deve ser
constante, pois, na falta da mesma, a função dos diretores deixa de existir. Se
a matéria prima for enviada para um departamento que não deveria, à produção
será dificultada e o produto final adulterado. Agora, se a matéria prima for
devidamente enviada ao departamento responsável, a produção será facilitada,
além da autenticidade e excelente qualidade do produto final.
Podemos
concluir quê:
Não
existe Òrìṣà errado. Independente do Òrìṣà feito. Porém, somente o Òrìṣà,
que facilita a produção, como citado anteriormente, nos proporcionará melhores
resultados.
Seguindo
o raciocínio, temos Orí (cabeça), como chefe de controle de qualidade, onde,
possui vários departamentos, sendo um deles, Ìwà (caráter), que influencia
diretamente em seu desempenho. Dependendo do caráter o desempenho de toda a
produção da empresa poderá ser alterado.
Quando
o departamento de controle de qualidade (orí), comete erros influenciados pelo
chefe de setor ìwà (caráter), toda a empresa continua sua produção, porém,
algumas peças produzidas serão de baixa qualidade gerando, assim, problemas
futuros, comprometimentos e prejuízos.
Em
um período de crise essas falhas se tornarão mais claras necessitando, assim,
da requalificação do chefe de controle de qualidade (Orí), já que é impossível
a sua substituição.
Egúngún,
tem uma função importantíssima, ele representaria o departamento do meio
ambiente, que fiscaliza a reintegração dos dejetos da produção e encaminha os
restos de matéria prima usada reciclando-as e introduzindo-as novamente no
local apropriado para um futuro reaproveitamento. Entenda-se: ciclo de vida e
morte.
E
você deve estar se perguntando e Èṣù? Como seria descrito nessa visão?
Èṣù
exerce a mesma função que os outros Òrìṣàs, podemos compará-lo com um
executivo que transita em vários seguimentos por conta da sua intimidade com o
presidente.
Ele
é o sujeito que substitui vários dos chefes de setores no período de férias,
como um gerente em treinamento. Ele entra na sala da presidência como aqueles
filhos do patrão que tem intimidade com o presidente, está ali a trabalho,
porém, usa da prerrogativa de ser intimo em todos os setores.
Aula (08) - Iniciação em Ifá sem mistérios
“Quando se ouve falar de um Ìtẹ̀fá, algumas pessoas
acreditam ser algo impossível de ser realizado no Brasil.”
Ifagbaiyin Agboola
Para que o rito de Ìtẹ̀fá, seja realizado, é necessário mais de um Bàbáláwo, na Nigéria, é comum nós vermos vários Bàbáláwos, participando de um Ìtẹ̀fá, respeitando as diferenças familiares, ritualísticas e convivendo em harmonia. Conforme segue a orientação de Ọ̀rúnmìlà Ifá. Poderemos perceber o porquê, da necessidade da participação de várias pessoas para a realização de um Ìtẹ̀fá.
No
Brasil, uma tradução do ponto de vista dos leigos e mal interpretada a
referência ao Igbódù (floresta sagrada), fez muitos indivíduos acreditarem na
necessidade de iniciar a pessoa em Ifá no meio das matas, porém, ninguém fica
no meio do mato abandonado por três dias e três noites e muito menos em um
local que não foi devidamente preparado para aquela finalidade.
O
Ìtẹ̀fá poderá ser realizado de duas maneiras, a primeira é onde o Igbódù é
construído somente com folhas e a segunda é um cômodo separado exclusivamente
para essa finalidade, onde, ambas abrigam o Òrìṣà Ìyá Òdù. O fato de que as
mulheres não podem ter acesso a esse assentamento, na Nigéria, é comum que Ìyá
Òdù, seja mantida em uma pequena construção de alvenaria ou de madeira.
Após
a autorização através da consulta a Ifá, o sacerdote identifica o início da
cerimônia após a chegada da pessoa que será iniciada, com todos os materiais
que foram previamente comprados de acordo com a orientação do Bàbáláwo, dá-se
então início a cerimônia, que dependendo da família gira em torno de 50 rituais
diferentes.
Um
ou dois Bàbáláwos, são encarregados de preparar o Igbódù, onde, um deles após a
preparação do local, alimenta a terra e pede permissão para construir o caminho
que conduzirá até o ambiente sagrado, onde, será depositado na terra búzios
juntamente com mais dois ou três elementos, em número par de um lado e ímpar do
outro, do caminho que acabara de ser construído que dará acesso ao local
previamente preparado.
O
grupo que irá participar da iniciação se divide em tarefas, enquanto a Ìyá
Apẹ̀tẹ̀bí cuida dos pertences do iniciado, a Ìyánífá, prepara o carrego para a
entrada no Igbódù, paralelamente, o Olúwo e o Bàbáláwo, amarram simultaneamente
em um dos braços e uma das pernas um pedaço de tecido virgem branco que contém
uma parte do dinheiro que representa o pagamento para o início dos rituais.
Começa
então um cortejo que se desenvolve em direção ao Igbódù, com o Olúwo, na frente
conduzindo o Ọ̀pá Osú (antepassado), que representa o reconhecimento dos
antepassados para o ritual que se inicia, seguido pelo Bàbáláwo e a Ìyá
Apẹ̀tẹ̀bí, com o yangí de Èṣù, sobre a cabeça, esse ritual que apresenta o
iniciado aos antepassados dos familiares retrata o esforço que ele faz para
agradar as divindades, em um carrego bastante amplo, amostras de cada um dos
elementos a serem usados na iniciação, são conduzidas sobre a cabeça do iniciado,
acompanhados dos membros da Ẹgbẹ́ Ifá, amparado pela Ìyánífá, que agrada com
dendê e gim, algumas divindades durante o cortejo.
Na
entrada do Igbódù, o iniciado vai estar vendado, pois, até que sejam
formalizados os rituais para que ele entre na parte que antecede o Igbódù,
muitas coisas acontecem, ele é envolvido em um clima de expectativa, sentado
segurando os animais e o material, enquanto o Olúwo e o Bàbáláwo, oferecem obì
e orógbó para Èṣù Ọ̀dàrà e Ọ̀rúnmìlà. Após a autorização a venda é retirada,
todo o material é colocado dentro do Igbódù, e se inicia a raspagem do
iniciado.
Os
rituais prosseguem simultaneamente, os mesmos Bàbáláwos, que prepararam Ọ̀pá
Osú (antepassados), previamente para a cerimônia, reservam uma parte das folhas
que será utilizada junto com outros elementos específicos para lavar os olhos
das pessoas que irão começar os rituais dentro do Igbódù.
O
primeiro grupo trabalha na preparação da parte interna do Igbódù, e o segundo
grupo prepara o iniciado, um terceiro grupo auxiliam no serviço externo, ou
seja, fora do Igbódù, pois, existem rituais que jamais podem ser mencionados ou
até mesmo vistos por quem não possui certas autorizações.
Podemos
observar através do número de cerimônias a quantidade de trabalho, tanto o
trabalho da parte religiosa quanto da parte de hospedagem da pessoa que está
sendo iniciada e do grupo que compõe a Ẹgbẹ́ Ifá. O que implica muito serviço
nos bastidores e gastos financeiros.
Já
com alguns ìmulẹ̀s feitos, após a entrada no Igbódù, o Olúwo e o Bàbáláwo,
agradam Ifá, Ìyá Òdù, Ọ̀pá Osú (antepassados) e Èṣù, não necessariamente nessa
ordem. O iniciado que antes da entrada passou por uma consulta a Ifá, e por um
ẹbọ rírù, agora com a cabeça raspada, vai conhecer o seu odù, que logo em
seguida será alimentado e antes que o iniciado veja seu Ifá, da terra brotará o
segredo.
Depois
disso alguns rituais envolvendo banhos, pinturas e a preparação da nova roupa
do awo, devem ser feitos de forma reservada, por pessoas do mesmo sexo,
considerando o fato de que para colocar uma roupa é necessário tirar outra que
vai ser despachada junto com o cabelo em um local que não vamos definir aqui,
posteriormente, o Èṣù do iniciado será alimentado, em alinhamento com o odù
Ifá, do awo.
Após
essa parte, todos os participantes fazem um intervalo onde se alimentam e
planejam a segunda etapa, onde, o Èṣù, da casa é alimentado e abençoa o
caminho do novo iniciado como membro da Ẹgbẹ́.
A
ordem exposta aqui não deixa nítido o teor e a sequência dos rituais, o grupo
desenvolve várias atribuições ao mesmo tempo. Em um dado momento o Ifá, do
iniciado sai do Igbódù, para ser alimentado do lado de fora, pois, o awo deverá
presenciar esses rituais e nem sempre quem participa de um Ìtẹ̀fá, poderá em um
futuro ter acesso a um Igbódù.
Após
esses pequenos rituais, porém, de grande importância, confirmam o awo, como
membro da Ẹgbẹ́, ele que fez vários ìmulẹ̀s e compactuou com o segredo e
assumiu a responsabilidade com a verdade é parabenizado por todos, agora regido
por Ọ̀rúnmìlà, em um momento único, abençoa todos os membros que participaram
do seu Ìtẹ̀fá.
Em
algumas famílias esses rituais são divididos em três partes, que podem ser
feitas em três ou sete dias, a maioria faz em três dias, quando o awo vai ao
rio em outros rituais que não podemos relatar aqui, onde, ele se desfaz de sua
vida passada, passando a ser portador de um novo nome, no qual o identificará
com uma nova vida.
Essa
aula visa contribuir para o esclarecimento visando afastar definitivamente as
histórias mirabolantes do que é ser iniciado em Ifá. Sendo assim que fique
claro:
Somente
um Bàbáláwo passa por um Ìtẹ̀lodù
Aquele
que vê Ìyá Òdù, não incorpora
Um
Bàbáláwo não consulta Ẹ̀rindílógún, consulta Ọ̀pẹ̀lẹ̀ e Ikin Ifá
Somente
um Bàbáláwo faz ìmulẹ̀ com Ìyá Òdù
Awo
Ẹlẹ́gan, é a pessoa que é submetida ao Ìtẹ̀fá, porém, jamais verá Ìyá Òdù
Somente
um Bàbáláwo vê Ìyá Òdù
A
área que antecede o local onde fica Ìyá Òdù, que geralmente também chamada de
Igbódù, é acessada somente por pessoas que possuem a cerimônia de Ìtẹ̀fá ou
Ìyánífá. A designação de Igbódù, é muito
diferente da descrita em literaturas criadas por pessoas que não foram
submetidas ao Ìtẹ̀lodù.
Aula (09) - Iniciação em Ifá e suas vantagens, quem deve ser iniciado
“Durante o período que estive na Nigéria, um fato em
especial me chamou a atenção, o número de pessoas pertencentes a outras
religiões que são iniciadas em Ifá é muito grande.”
Ifagbaiyin Agboola
Qual o benefício de ser iniciado em Ifá?
A
probabilidade de você se perder ou traçar um caminho errado ao sair para uma
viagem sem ter o conhecimento da estrada ou até mesmo um mapa para te guiar é
muito alta. O fato de você receber um mapa da estrada através do processo de
iniciação irá certamente facilitar bastante o seu deslocamento. Em qualquer
momento da vida a pessoa poderá ser iniciada em Ifá, independente de sua
religião, pois, ela terá vários benefícios sendo um dos mais importantes a
descoberta do autoconhecimento.
É
importante ressaltar que quando você é iniciado por um Bàbáláwo, em Ifá, você
não perde a ligação com o seu Bàbálórìṣà, caso você pertença a outras
vertentes, o culto de Òrìṣà e Ifá poderá acontecer paralelamente. Durante a
iniciação a pessoa receberá várias informações sobre o seu destino o que
tornará o caminho a ser seguido mais claro. Respeitando èèwọ̀ (proibições), de
seu Odù Ifá, e as normas de conduta no seu cotidiano espiritual e material,
para a sua total harmonia entre o profano e o sagrado.
Na
verdade, cada pessoa tem um destino e naquele momento a orientação de Ifá, não
segue uma regra ou receita milagrosa, para cada pessoa os rituais podem exigir
uma sequência completamente diferente da outra, onde, o objetivo final é
alinhar a pessoa com o seu destino, transmitir para ela a Orientação de
Ọ̀rúnmìlà Ifá, trazendo a luz na vida do iniciado.
Geralmente
em território Yorùbá, as pessoas se iniciam em Ifá, para que em um segundo
momento se iniciem em Òrìṣà. O fato da pessoa se iniciar em um Òrìṣà, não
apontado pelo seu odù, causará um desalinhamento que somado ao distanciamento
dos Òrìṣàs, que realmente deveriam ser cultuados, poderá causar várias
complicações como perdas, baixa da autoestima, assim como da imunidade causando
vários problemas de saúde, prejuízos financeiros, afetivos, emocionais,
problemas de ordem mental e até mesmo a morte. Isso implica em um
comportamento, onde, a pessoa poderá estar sendo totalmente indiferente aos
Òrìṣàs, que fazem parte do seu destino.
Sair
de viagem sem conhecer a estrada, sem ter um mapa é uma grande temeridade, ser
iniciado em Ifá, torna a sua vida muito mais segura, onde, se reduz bastante o
percentual de erros que associado de forma correta com o seu Òrìṣà, as chances
de você cumprir o seu destino com êxito na Terra, aumentam consideravelmente.
O
fato de você descobrir que foi iniciado para um Òrìṣà, não mencionado pelo o
seu odù, não é motivo para entrar em desespero, pois, você terá mais
informações sobre o seu verdadeiro Òrìṣà, possibilitando assim, uma dedicação
paralela ao Òrìṣà, anteriormente cultuado e o Òrìṣà, indicado por Ifá, em um
nível de igualdade, corrigindo assim, o desvio cometido, em que na maioria dos
casos a pessoa desconhece.
Em
um ritual teoricamente simples, com o assentamento do seu Ifá, você poderá
mudar a sua história. Em um Igbá com número mínimo de dezoito Ikins, pode estar
a resposta as perguntas de toda a sua vida.
Aula (10) - Ifá e a Hierarquia
Muito
se fala sobre a hierarquia no culto de Òrìṣà no Brasil, contribuindo assim para o enriquecimento das
informações sobre a religião afro-brasileira. Devido à escassez de informações
de fontes seguras em nosso país, divulgaremos aqui, as orientações por nós
recebidas em território Yorùbá, sobre a hierarquia no culto a Ifá. Esperamos
através dessa aula estar contribuindo e enobrecendo as referências sobre esse
tema abordado aqui no Brasil. É importante observarmos que a hierarquia poderá
sofrer alterações devido a regiões e grupos familiares, porém, o processo é
muito semelhante.
Àràbà: o título de Àràbà é o mais
importante dentro do culto a Ifá, normalmente em terras Yorùbás um Àràbà é
escolhido com base em três critérios, que são eles: conhecimento inquestionável,
conduta ilibada e apoio unânime. O Àràbà representa o grupo de Bàbáláwos de uma
cidade ou de um país, o que nos leva à seguinte conclusão: as cidades com maior
população de Bàbáláwos, tem um critério de escolha mais exigente do que as
cidades de pequenas populações. Em uma cidade grande para que um Bàbáláwo, se
torne Àràbà, ele será questionado por um grupo maior de sacerdotes. Esses
questionamentos podem durar dias e somente quando todos os Bàbáláwos estiverem
satisfeitos com as respostas, a data da cerimônia será marcada. Vale ressaltar
que em uma cidade muito pequena com um grupo de Bàbáláwos reduzidos, a escolha
de um Àràbà poderá ser imediata desde que exista o apoio do grupo.
Como
forma afetuosa de intitular o Bàbáláwo mais velho em um Ilé Ifá, carinhosamente
o sacerdote mais velho, dentro dessa família poderá ser chamado de Àràbà, é
importante não confundir esse título familiar restrito há casa da família, com
o Àràbà de uma cidade ou de um país.
Akọ́dá: Bàbáláwo Àgbàlágbà, preparado
para substituir o Àràbà, em caso de morte ocupa imediatamente o cargo do Àràbà,
mantendo os rituais mesmo no período de luto.
Aṣẹ̀dá: Bàbáláwo Àgbàlágbà, o terceiro na
hierarquia, preparado para substituir o Akọ́dá.
Agbongbon:
Bàbáláwo, especialista em Oríkì, considerado a memória da família, capaz de
recitar o conhecimento contido nos versos de ifá, durante dias e noites.
Erìnmì: Bàbáláwo, com conhecimento
inquestionável sobre os rituais secretos no Ilé Ifá.
Agiri: Bàbáláwo, experiente com profundo
conhecimento sobre odù.
Awiṣe: Bàbáláwo, bastante experiente que
fala em nome da família autorizado pelo seu Olúwo ou Àràbà.
Alakeji: Bàbáláwo, muito experiente que
substitui o Olúwo, dentro do Ilé Ifá, em todas as situações com exceção das
iniciações.
Alara: Bàbáláwo, experiente, especialista
na relação com os iniciados e iniciações em geral.
Okunmeri: Bàbáláwo,
especialista nas cerimônias internas.
Agunsin: Bàbáláwo, experiente que
acompanha os rituais ou festejos externos, responsável pelo deslocamento dos
membros da Ẹgbẹ́ Ifá.
Aranisan: Bàbáláwo, experiente
que orienta a cerimonia diante de Osú, no ritual de Ìtẹ̀fá.
Amukinro: Bàbáláwo, experiente
que orienta os iniciados dentro do Ilé Ifá, em cerimônias que é consultado
Ikin.
Kawolehin: Bàbáláwo, experiente
que orienta os iniciados em rituais e festejos internos e externos.
Olúwo: existem dois títulos diferentes
descritos pela palavra Olúwo, um dentro de Ifá, e outro dentro da sociedade
Ògbóni, imediatamente superior ao título de Apènà na hierarquia. Nessa
abordagem iremos analisar o título restrito ao culto de Ọ̀rúnmìlà Ifá. O Olúwo,
é um Bàbáláwo que tem autorização para iniciar outro Bàbáláwo, não devemos
confundir com Olòdù, ou seja, Bàbáláwo, que possui o assentamento de Ìyá Òdù, o
fato isolado de possuir Ìyá Òdù, não o torna um Olúwo. O Olúwo, é o sacerdote
que tem a responsabilidade sobre as cerimonias de Ìtẹ̀fá e Ìtẹ̀lodù, sendo
assim, consultar Ifá, com Ọ̀pẹ̀lẹ̀ ou Ikin, submeter-se a ẹbọ ou ètùtù,
participar de iniciações ou festejos referentes ao culto de Ọ̀rúnmìlà e Òrìṣàs, fazer iniciações e consultas é
necessário a autorização prévia de seu Olúwo.
Ojúgbọ̀nà: é o Bàbáláwo, que
participou da iniciação que tem a função de treinar, mas, não o poder de
autorizar o novo awo para que faça iniciações ou consultas.
Balógun: título muito importante, onde, o
Bàbáláwo, escolhido para essa função deve ser muito experiente para lidar com
as questões que envolvem os rituais e as relações internas e externas da
família, referentes a proteção do Ilé Ifá, e seus membros.
Ṣokinloju: esse título deve ser
dado a um Bàbáláwo, antigo dentro da Ẹgbẹ́, é uma espécie de observador com
autoridade para corrigir erros e procedimentos no dia a dia do Ilé Ifá.
Akogun: esse título só poderá ser dado
para um Bàbáláwo, experiente, normalmente o akogun, auxilia ou substitui o
balógun.
Surepawo: esse título poderá
ser ocupado por um Bàbáláwo, jovem. O surepawo, é encarregado de pagamentos,
compras e afazeres fora do Ilé Ifá.
Asawo: Bàbáláwo, jovem ou awo kékeré,
que auxilia o surepawo.
Ìyánífá: Toda mulher submetida ao Ìtẹ̀fá é
uma Ìyánífá, esse termo também pode ser utilizado para a sacerdotisa de Ifá.
Ìyá Apẹ̀tẹ̀bí: na Religião
Tradicional Yorùbá é a esposa do Bàbáláwo. Normalmente, a Ìyá Apẹ̀tẹ̀bí, devem
ser iniciadas em Ọ̀ṣun.
Ìyánífá e Ìyá Apẹ̀tẹ̀bí: no caso da
mulher que é Ìyánífá e Ìyá Apẹ̀tẹ̀bí, esposa do Olúwo, da Ẹgbẹ́ Ifá, as
exigências são maiores em razão da alteração na hierarquia, considerando que o
título é superior aos demais remetendo imediatamente a Ìyá Apẹ̀tẹ̀bí e Ìyánífá,
ao segundo cargo dentro da Ẹgbẹ́ Ifá.
Ìyálode Awo: Ìyánífá, líder das
mulheres na Ẹgbẹ́ Ifá.
Ajigbeda Awo: Ìyánífá, experiente
que auxilia a Ìyálode.
Aula (11) - Qualidade de Òrìsà não Existe, Ifá?
“Quando os Òrìṣàs, chegaram ao Brasil, vieram pelas mãos de
escravos oriundos de várias partes do território Yorùbá. Evidentemente, isso
gerou alguns problemas, no qual podemos citar: a diferença de nomes atribuídos
ao mesmo Òrìṣà...”
Ifagbaiyin Agboola
É importante compreendermos que em cada região do território Yorùbá, o mesmo Òrìṣà, recebe nomes diferentes. Podemos observar que alguns escritores definem esses nomes atribuídos como títulos recebidos em derminados momentos, seja de uma louvação ou exaltação. Ọ̀ṣun sempre será Ọ̀ṣun, se em algum lugar ela recebe o nome de Opará, Ipondá, Ijimun, isso não cria um novo Òrìṣà. Da mesma forma, que não nos permite colocar certos elementos no Igbá de um Òrìṣà, que não tem ligação com esses elementos.
Os nomes atribuídos aos Òrìṣàs não mudam seu comportamento, pois, se trata de questões relativas à região no qual ele é cultuado. Para um melhor entendimento podemos citar como exemplo as folhas, hortaliças e tubérculos utilizados para os rituais encontrados em algumas localidades e em outras não, identificados com vários nomes diferentes nas mais variadas regiões, porém, em nada muda a essência. Com um nome, Ọ̀ṣun é uma figura feminina e de grande vaidade, se em outra região ela é reverenciada com um outro nome e associada a figura de uma mulher guerreira, isso não cria uma nova Ọ̀ṣun, com mais ou menos idade e muito menos com um comportamento diferente. Isso se aplica a todos os Òrìṣàs.
Aula (12) - Orixás Direitos e Deveres
“Em nossa casa frequentemente aparece um grupo de saguis,
então vou colocar bananas para eles, quando me ocorreu de escrever esse texto
sobre a Fé, os Òrìṣàs, os Direitos e os Deveres dos iniciados e sacerdotes...”
Ifagbaiyin Agboola
Quando falamos de fé, nós não podemos ver o Òrìṣà e nem sabermos ao certo que dia que ele irá atuar em nossa vida, porém, você reza todos os dias, cuida de seu Òrìṣà, com amor e carinho, partindo do princípio que ele também está cuidando de você. Muitas vezes aos nossos olhos ele demora para interferir e nos auxiliar em nossas dificuldades do dia a dia, mas, na verdade o Òrìṣà, é que sabe a hora certa de interceder por nós. O Òrìṣà, interfere em nossas vidas constantemente, nós, que não temos a sensibilidade de perceber o que está acontecendo em nossa volta, por sermos seres imperfeitos, onde, estamos mais preocupados com as nossas dívidas, com as nossas aparências, a beleza da casa, da roupa, do carro, do que vamos adquirir e que na maioria das vezes não percebemos as mudanças do mundo espiritual. Baseando-se nesse contexto elucidaremos alguns aspectos importantes que norteiam a vida do iniciado e do sacerdote dentro da casa de Òrìṣà.
Ao
entrar na casa de Òrìṣà, é dever do iniciado cumprimentar primeiramente os
Òrìṣàs, para depois saudar o sacerdote e os membros da família.
É
direito dos iniciados, entrar nos quartos dos Òrìṣàs, para saudá-los e fazer
suas orações. É dever do sacerdote permitir a entrada, saudar e respeitar o
Òrìṣà do iniciado, caso ele incorpore.
O
procedimento correto é recolher o Òrìṣà, para dentro de um dos quartos colocar
uma roupa adequada, retirar os calçados e levar o Òrìṣà, para saudar o ojúbọ
do Òrìṣà, dono da casa, para depois saudar o sacerdote.
Na
casa de Òrìṣà, é dever do iniciado auxiliar nas atividades, assim como na
limpeza, manutenção e conservação de todas as instalações.
É
um direito do iniciado, em caso extremo, ser atendido em consulta mesmo que não
disponha naquele momento de dinheiro.
É
dever do iniciado, auxiliar na compra de materiais para a manutenção da casa.
É
dever do sacerdote, auxiliar os iniciados que não disponham de materiais para a
manutenção dos Igbá de seus Òrìṣàs
É
direito dos iniciados, fazerem as refeições na casa de Òrìṣà, durante o
período que eles estejam em rituais e cerimônias.
Demonstra
boa educação, o iniciado que sirva seu alimento durante as refeições, após o
sacerdote ter se servido
É
dever dos iniciados, informar, caso decidam participar de alguma cerimônia
religiosa em outra casa, sendo assim, é um dever do sacerdote orientar seus
iniciados de como devem se comportar em visitas a outras Casas de Òrìṣàs.
É
um dever do sacerdote, transmitir ensinamentos e interferir quando necessário
em benefício do seu iniciado.
É
um dever do iniciado, respeitar e honrar a sua família e a casa na qual ele foi
iniciado.
Assim
sendo, podemos observar, que o sacerdote não é o dono da casa de Òrìṣà, e sim
o próprio Òrìṣà, por isso sempre será cumprimentado primeiro. Quando o
iniciado entra no terreno do Ilé Òrìṣà, deverá primeiramente se dirigir ao
Èṣù, da casa e pedir permissão para adentrar, posteriormente, se necessário
for deverá se trocar com uma roupa adequada e cumprimentar o Òrìṣà, dono da
casa, logo em seguida o sacerdote principal, para que finalmente cumprimente os
demais membros da Ẹgbẹ́, seguindo a hierarquia. O cumprimento ao sacerdote que
iniciou o iniciado deverá ser feito com o ato de colocar a cabeça no chão
(foríbalẹ̀), já para os demais essa reverência poderá ser ou não substituída
por uma saudação.
As
mulheres iniciadas deverão se vestirem de acordo com as cerimônias usando saia,
pano da costa e pano de cabeça. É dever dos iniciados se vestirem de forma
adequada ao ambiente da casa de Òrìṣà, sendo proibido o uso de bermudas,
shorts e roupas cavadas. É dever dos homens iniciados auxiliar as mulheres
iniciadas nos trabalhos que exijam uma maior força física e também não é nenhum
demérito auxiliar em atividades teoricamente femininas. No período de iniciações
pressupondo que o novo iniciado não disponha de condições financeiras para as
compras referentes a sua iniciação é dever dos iniciados mais antigos e do
sacerdote contribuírem com trabalho e dinheiro facilitando assim a situação do
necessitado.
Em
caso de visita de membros de outras famílias é dever do sacerdote abrir os
quartos dos Òrìṣàs, para que sejam saudados e junto dos iniciados receber os
visitantes com o máximo de respeito. Para melhor compreensão a partir de agora
definiremos aqui assentamento coletivo como Ojúbọ e assentamento particular
como Igbá. É dever de todos os iniciados participar do Ọ̀sẹ̀ dos ojúbọs da
casa de Òrìṣà, assim como, é um direito do iniciado desfrutar de silêncio
durante o Ọ̀sẹ̀ em seus Igbás para que possa fazer suas orações. Ọ̀sẹ̀
(semana), é o dia em que completa uma semana Yorùbá, período referente de
quatro em quatro dias, Ọ̀sẹ̀, o primeiro dia da nova semana que se inicia, para
maior compreensão é o quinto dia após o primeiro Ọ̀sẹ̀. O Ọ̀sẹ̀ dos ojúbọs deverá ser feito pelos
iniciados que já tenham permissão do sacerdote para esse ritual, é impossível
que o sacerdote mantenha todos os Òrìṣàs, da casa limpos e tratados sozinho, a
participação de todos os membros é fundamental para que se estabeleça o
conceito de família.
Com
exceção do seu Òrìṣà, principal, quase todos os assentamentos devem ser
tratados como ojúbọ, salvo Ọ̀rúnmìlà, o Èṣù pessoal, Ìyá mi e Egúngún, Òrìṣàs
esses individuais, no caso igbá Òrìṣà. É importante ressaltarmos que não
podemos confundir com assentamento coletivo de Egúngún, Ìgbàlẹ̀ ou Ojúbọ.
O
igbá do Òrìṣà, do iniciado é de propriedade dele, é dever do sacerdote
entregar o igbá para o iniciado que deve providenciar um local adequado para
manter o assentamento. Jamais, o assentamento do Òrìṣà, deverá ser retido na
casa de Òrìṣà, por falta de qualquer tipo de pagamento, os pagamentos são
feitos por rituais e não por igbá, o assentamento do Òrìṣà, jamais poderá ser
usado como garantia de um pagamento futuro.
É
dever do iniciado antecipadamente solicitar ao sacerdote autorização para levar
amigos na casa de Òrìṣà, que poderá estar em cerimônias não permitidas para
visitantes. É um direito do iniciado solicitar ao sacerdote que ele ministre
suas próprias cerimônias e rituais, assim como, é um dever do sacerdote
corresponder à confiança depositada em suas mãos. Um exemplo que podemos
utilizar para elucidar essa ideia é o ritual de Bọrí, que devem ser
ministrados pelo principal sacerdote da casa de Òrìṣà, e jamais por outros
membros mesmo aqueles com conhecimento comprovado.
Recomenda-se
as pessoas em visita a casa de Òrìṣà, que mantenham o hábito de levar para os
Òrìṣàs, agrados como, obì, orógbó, esteiras, dendê, mel, gim, frutas e flores.
A manutenção da casa de Òrìṣà, é dispendiosa e deve ser considerada como
responsabilidade de todos os membros. Quanto a manutenção da fé, ela não tem
rituais específicos ou uma fórmula secreta, os rituais podem ser ensinados,
mas, a crença ela é desenvolvida sem o controle pré-estabelecido. Acreditamos
ou desenvolvemos a fé com o passar do tempo, porém, a fé jamais será instruída,
os sentimentos afloram dispensando justificativas, o Òrìṣà, opera em nós o
milagre de acreditar naquilo que não estamos vendo, mas, que podemos sentir. A
força do Òrìṣà, transforma, tranquiliza, e fortalece o interior do iniciado
sem que ele perceba, somente o tempo atesta a evolução e o desenvolvimento
espiritual. Não existe a possibilidade de pular etapas, a vida se desenvolve
dia após dia.
Aula (13) - Bàbàláwo
“No Brasil, a
grande maioria da população não conhece os verdadeiros Bàbáláwos, por uma
questão histórica, em nosso país praticamente não existiram sacerdotes de
Ọ̀rúnmìlà...”
Ifagbaiyin Agboola
Nos últimos anos o culto a Ọ̀rúnmìlà Ifá, ficou muito popular fora da Nigéria, a necessidade de conhecer melhor a Religião Tradicional Yorùbá, impulsionou a procura por esses sacerdotes. Ọ̀rúnmìlà, é o único Òrìṣà, que conhece o nosso destino, e seus sacerdotes os Bàbáláwos, são grandes conhecedores dos odùs e da palavra de Ọ̀rúnmìlà. Os Bàbáláwos no território yorùbá, são homens muito responsáveis e respeitados por suas atitudes, em suas comunidades são considerados exemplos para todos os cidadãos.
São
muitos os episódios envolvendo falsos sacerdotes de Ifá nigerianos e
brasileiros em nosso país. Porém, nos últimos 30 anos, chegaram ao Brasil,
alguns bons sacerdotes de Ọ̀rúnmìlà, isso inspirou inúmeros brasileiros a serem
iniciados em Ifá. É interessante esse raciocínio, pois, tantos foram aqueles
sem escrúpulos que prejudicaram a imagem do culto a Ọ̀rúnmìlà, que teoricamente
não deveriam existir pessoas dispostas a serem iniciadas em Ifá, no entanto,
bastou que poucos, porém, verdadeiros Bàbáláwos, chegassem até o nosso
território para que a Religião Tradicional Yorùbá, se tornasse respeitada e o
número de iniciações em Ifá, se multiplicasse.
Sendo
assim, como podemos identificar um Bàbáláwo, de verdade? Um Bàbáláwo de
verdade, tem um nome de verdade, usado conforme Tradição Yorubá. Na realidade,
identificar um Bàbáláwo, vai muito além de observar o seu nome, um Bàbáláwo,
tem uma postura digna, é portador do conhecimento, tem segurança e demonstra
prazer em ser identificado como membro da sua família.
O
culto a Ọ̀rúnmìlà, e os demais Òrìṣàs, é ancestral e familiar, o que facilita
a identificação do Bàbáláwo. Não existe um Bàbáláwo ou uma Ìyánífá, que não use
o nome de sua família, é impossível ser um sacerdote de Ọ̀rúnmìlà, sem que
exista a ligação familiar. Um sacerdote de Ifá, é educado para respeitar o seu
Olúwo e a sua família, se isso não acontecer, ele jamais será um Bàbáláwo ou
uma Ìyánífá.
Um
Bàbáláwo, tem compromisso com a verdade, com a ancestralidade, para isso ele
estuda a vida toda, aprendendo a usar o conhecimento de seus antepassados e
baseando o seu comportamento nas orientações de Ifá.
Aula (14) - Ọ̀rúnmìlà e Ifá, Dúvidas Frequentes
O
objetivo dessa aula é que possamos contribuir para alguns esclarecimentos de
dúvidas recorrentes sobre a Religião Tradicional Yorùbá, através de perguntas e
respostas, sendo assim:
1
– A pessoa que faz Ìtẹ̀fá, deixa de incorporar as entidades que até então ela
incorporava? Não. Somente quem faz Ìtẹ̀lodù, não incorpora mais, o Ìtẹ̀fá, é
muito indicado para Bàbálórìṣàs e Ìyálórìṣàs, fortalecendo assim o elo entre sacerdote
e Òrìṣà.
2
– O assentamento de Ọ̀rúnmìlà, tem Òkúta? Não. O assentamento de Ọ̀rúnmìlà,
possui somente ikins de de quatro olhos ou mais.
3
– A mulher pode ser iniciada em Ifá? Sim. Existem dois tipos de iniciação para
as mulheres, uma que ela se torna Ọmọ Ifá e a outra que ela se torna Ìyánífá,
as duas partem da cerimônia do Ìtẹ̀fá.
4
– Um iniciado em Ifá, pode ser pintado com Wájì? Não. O iniciado é pintado com
ẹfun, (elemento masculino) e osùn (elemento feminino), essa interação
representa a fecundidade e a prosperidade, assim como a transcendência e a
evolução espiritual.
5
– Quem faz Iṣẹ́fá, recebe nome? Sim. Quem faz Iṣẹ́fá recebe nome e é
considerado um membro da família do Bàbáláwo que o iniciou, sendo caracterizado
um elo de ligação que responsabiliza o sacerdote pelo pré-iniciado,
considerando o Ìtẹ̀fá, como a iniciação propriamente dita.
6
– Para fazer Iṣẹ́fá, raspa a cabeça? Não. Somente no Ìtẹ̀fá, que se raspa a
cabeça.
7
– Existe iniciação para Ìyá Apẹ̀tẹ̀bí? Não necessariamente, a Ìyá Apẹ̀tẹ̀bí, é
a mulher do Bàbáláwo, que deverá ser submetida a um Iṣẹ́fá ou Ìtẹ̀fá, porém,
isso não configura uma iniciação de Ìyá Apẹ̀tẹ̀bí.
8
– Existe algum cargo acima de Bàbáláwo na Religião Tradicional Yorùbá? Não.
Àràbà e Olúwo, são funções exercidas por Bàbáláwos, mas isso não quer dizer que
todo Bàbáláwo poderá um dia a vir a ser um Olúwo ou um Àràbà.
9
– Existe a possibilidade que exista um Àràbà ou Olúwo que não seja Ògbóni? Não.
Caso isso aconteça, esse sacerdote não terá acesso a muitas informações
fundamentais para exercer o seu cargo.
10
– Um Bàbáláwo pode ter mais de uma mulher? No odù Ogbè Méjì, Ifá diz, que um
Bàbáláwo deve ser um exemplo e que ele deve cumprir as leis, sendo assim, um
Bàbáláwo brasileiro, que reside no Brasil, não poderá ter mais de uma mulher.
No odù Ọ̀sá Ìròsùn, Ifá diz, o adultério não faz parte da vida daquele que
segue Ifá.
11
– Um Bàbáláwo, poderá trabalhar em outra atividade fora da religião? Sim. Ifá
diz que um Bàbáláwo, não deve comercializar as coisas de Ifá.
12
– Um Bàbáláwo pode jogar búzios? Um Bàbáláwo consulta Ifá com Ọ̀pẹ̀lẹ̀.
13
– Uma mulher pode consultar Ifá com Ọ̀pẹ̀lẹ̀? Sim. Desde que ela seja iniciada
como Ìyánífá.
14
– Qual a roupa utilizada na iniciação de Ifá (Ìtẹ̀fá)? Tanto para homens quanto
para mulheres existe apenas um tipo de roupa que é usada na iniciação de Ifá,
que é um tecido branco que deverá envolver o corpo finalizando com um nó sobre
o ombro esquerdo.
15
– Quantos dias dura uma iniciação em Ifá? De três a dezessete dias.
16
– Depois de quanto tempo, um iniciado em Ifá, submetido ao Ìtẹ̀lodù, poderá
iniciar outras pessoas? Cada caso é um caso, mas, em média depois de quatro a
cinco anos, esse tempo pode ser considerado a partir do momento que o iniciado
é submetido a um segundo ritual após o Iṣẹ́fá, onde, ele recebe um ọ̀pẹ̀lẹ̀
para praticar.
17
– Existe algum ritual que envolve a liberação do uso do ọ̀pẹ̀lẹ̀, para
consultas de clientes? É importante compreendermos que existem mais de um tipo
de ọ̀pẹ̀lẹ̀, o awo para praticar, recebe um único ọ̀pẹ̀lẹ̀ que poderá ser de
cabaça ou fava. A consagração do ọ̀pẹ̀lẹ̀ para estudos, envolve o ritual onde,
o ọ̀pẹ̀lẹ̀ é alimentado junto com o Ifá do iniciado. Já o ọ̀pẹ̀lẹ̀ para
consulta de clientes é submetido a um ritual completamente diferente, onde, o
Bàbáláwo, recebe no mínimo dois ọ̀pẹ̀lẹ̀s, considerando que alguns odùs queimam
o ọ̀pẹ̀lẹ̀.
18
– Sendo uma Ìyánífá, a mulher poderá ver o assentamento de Ìyá Òdù? Não. Nem
mesmo sendo uma Ìyánífá, a mulher jamais poderá ver Ìyá Òdù.
19
– A pessoa que é umbandista ou candomblecista pode ser iniciada em Ifá? Sim.
Pois, através da iniciação em Ifá, ela conhecerá seus èèwọ̀s, e saberá
identificar claramente os Òrìṣàs, na qual ela deverá cultuar.
20
– Uma pessoa que não é feita para um Òrìṣà, pode ser iniciada e receber um
assentamento? Sim. Não é comum, mas acontece de pessoas que não são feitas,
serem iniciadas para um Òrìṣà específico, um exemplo é o Iṣẹ́fá, onde, a
pessoa não é feita e recebe o assentamento de Ọ̀rúnmìlà.
21
– Em um Iṣẹ́fá, é assentado Èṣù, para o pré-iniciado? Sim. Dependendo do odù.
22
– Ọ̀rúnmìlà se alimenta de animais masculinos? Sim. Dos 256 odùs, em 8
Ọ̀rúnmìlà, se alimenta de animais masculinos.
23
– Coloca-se pena de agbe ou àlùkò na cabeça no ritual de Ìtẹ̀fá? Não. Um iniciado
em Ifá é apresentado com uma pena de ìkódídẹ.
24
– Quantos ikins são necessários no assentamento de Ọ̀rúnmìlà? No mínimo dezoito
ikins.
25
– Quanto tempo demora a cerimônia do Iṣẹ́fá? De uma hora a três dias,
dependendo da orientação de Ọ̀rúnmìlà.
26
– Quem faz uma pré-iniciação, Iṣẹ́fá, recebe ọ̀pẹ̀lẹ̀? Sim. Em um caso
específico quando o odù indica a necessidade de Ìtẹ̀lodù, o ọ̀pẹ̀lẹ̀ para
praticar é consagrado para o uso de estudo até a preparação para o Ìtẹ̀lodù.
27
– Quem faz Ìtẹ̀fá recebe ọpọ́n e ìrọ́kẹ̀? Normalmente não, somente quem faz
Ìtẹ̀lodù, recebe esses instrumentos que são usados por Bàbáláwos e Ìyánífás.
28
– A pessoa pré-iniciada segue o sistema de Ọ̀sẹ̀ no assentamento de Ọ̀rúnmìlà
semanalmente? Não. A orientação do Ọ̀sẹ̀ semanal, é indicada para alguns odùs,
em outros, Ifá alerta que o assentamento não deverá ser limpo, enquanto o
compromisso assumido de um Ìtẹ̀fá, não seja realizado.
29
– Quem é submetido ao Iṣẹ́fá, recebe Idẹ Ifá? Sim. Como podemos observar no
odù Ọ̀kànràn Ogbè.
30
– Os ẹbọs feitos no ọpọ́n seguem alguma regra? E quem pode fazer esses
ẹbọs? Os Bàbáláwos e Ìyánífás, podem fazer ẹbọ rírù, seguindo uma regra
básica, que consiste em seguir uma ordem pré-estabelecida dentro da Ẹgbẹ́, louvando
Olódùmarè, Ọ̀rúnmìlà, os Òrìṣàs e os Antepassados da família. Cada família
segue uma sequência, o Bàbáláwo recebe diretamente dos seus iniciadores os
nomes e os odùs a serem louvados dentro da sequência da Ẹgbẹ́, assim como os
odùs de Èṣù, que devem ser usados e os odùs transformadores de negativos para
positivos.
Aula (15) - Mitos, Ritos
“Ao longo dos anos alguns mitos foram criados, nessa
oportunidade tentaremos aqui auxiliar para que tais equívocos sejam
esclarecidos...”
Ifagbaiyin Agboola
1 – Deve dar azeite de oliva para Ọbàtálá? Não. Não se usa azeite de oliva, popularmente conhecido como azeite doce, para nenhum Òrìṣà.
2
– Ṣàngó tem medo de Egúngún? Não. Ṣàngó, convive em perfeita harmonia com
Egúngún.
3
– Existem vários Òrìṣàs, que não aceitam dendê? Não. Somente Ọbàtálá, não
aceita dendê.
4
– Ọbàtálá, não aceita bebidas alcoólicas? Não. Ọbàtálá, não deve consumir
vinho de palma.
5
– Deve-se colocar ọ̀bẹ em vários Òrìṣàs? Não. Somente Ògún é o dono da ọ̀bẹ,
que serve para os outros Òrìṣàs.
6
– É obrigatório o uso de quartinha com água para todos os Òrìṣàs? Não. Em
alguns Òrìṣàs, utiliza a quartinha com água, os principais são: Ọ̀ṣun,
Yemọja e Ọbàtálá.
7
– Ògún pode ser arrumado em vasilha de barro? Não. Ògún poderá ser arrumado
somente em vasilha de ferro ou ser assentado, jamais, em vasilha de barro.
8
– Lógunẹdẹ, pode ser arrumado em vasilha de louça? Não. Lógunẹdẹ, deve ser
arrumado em vasilha de barro.
9
– Os búzios das vasilhas dos Òrìṣàs, devem ser abertos? Não. Os búzios abertos
servem somente para o jogo, os búzios das vasilhas sempre devem ser fechados.
10
– Ọ̀ṣun aceita pombo? Sim. Os únicos impedimentos de Ọ̀ṣun, seriam o ìgbín e
a banha de òrí.
11
– Èṣù pode ser assentado com pedra de Rio? Não. Jamais Èṣù deverá ser
assentado com pedra de rio.
12
– Ṣàngó deve ser assentado com pedra de rio? Não. Ṣàngó, é assentado somente
em ẹ̀dùn àrá (pedra de raio).
13
– Ìyá mi só de deve ser cultuada por mulheres? Não. O culto a Ìyá mi está
ligada a fecundidade, sendo assim, não poderia haver fecundidade sem a presença
de ambos os sexos.
14
– O culto Egúngún é praticado somente por homens? Não. Pois, toda mulher tem
antepassados masculinos que devem ser homenageados.
15
– Ìyá Apẹ̀tẹ̀bí é um cargo que todas as mulheres de Ọ̀ṣun, podem ocupar? Não.
Ìyá Apẹ̀tẹ̀bí, é uma função da mulher do Bàbáláwo, independente do Òrìṣà que
ela cultue.
16
– Existe qualidade de Òrìṣà? Não. O que existe são nomes diferentes atribuídos
aos Òrìṣàs, devido a região e grupos familiares.
17
– Ṣàngó aceita obì? Sim. Porém, tem preferência por orógbó.
18
– O orógbó deve ser aberto com faca e descascado para oferecer ao Òrìṣà? Não.
O orógbó não deve ser aberto com faca e nem descascado para oferecer ao Òrìṣà.
19
– O sacerdote pode iniciar seus filhos carnais? Sim. Não só pode como deve
iniciar seus filhos carnais. Existe odù que fala sobre a iniciação dos próprios
filhos.
Aula (16) - Mitos, Ritos E Ọ̀rúnmìlà II
1
– As pessoas que não foram feitas para o seu Òrìṣà, iniciados como se diz no
Brasil, podem ser iniciadas no Culto Egúngún? Sim. Se após uma consulta a Ifá,
houver a necessidade, uma pessoa poderá ser iniciada até como Ọ̀jẹ̀, pois,
todas as pessoas possuem antepassados.
2
– Uma pessoa iniciada em Òrìṣà, pode ser iniciada como Ọ̀jẹ̀? Sim. Se essa for
a orientação de Ọ̀rúnmìlà, uma mesma pessoa pode ser iniciada em vários
Òrìṣàs, assim como, Egúngún, Ìyá mi, Orò, podendo também ser Ọ̀jẹ̀ ou até
mesmo um Apènà Ògbóni, tudo depende do seu odù, assim como tem pessoas que
devem ser feitas e outras somente iniciadas.
3
– Ifá é para todas as pessoas? Deveria ser, mas em nosso país as pessoas
desconhecem essa necessidade, supondo-se que: o Òrìṣà é o veículo que irá te
transportar por toda a vida, Ifá é o mapa da estrada, a orientação, o caminho
pelo qual você deve seguir.
4
– Existe a necessidade de ter um Igbá Orí, para dar comida a minha cabeça? Não
existe essa necessidade. Na realidade o Igbá Orí, deveria ser montado somente
após a pessoa consultar Ifá e ter conhecimento de seu odù. Na consagração do
Igbá é fundamental conhecer o odù e os Òrìṣàs que devem ser cultuados.
5
– Uma pessoa pode usar uma ọ̀bẹ em rituais de Òrìṣà, sem ser iniciado em
Ògún? Não. Uma pessoa que não foi iniciada em Ògún, não pode usar ọ̀bẹ, assim
como, uma pessoa que não foi iniciada em Ọ̀ṣun, jamais poderá atender alguém
com o jogo de búzios e uma pessoa que não foi iniciada como Alágbè, jamais deve
tocar um instrumento de ritual religioso que foi devidamente consagrado.
6
– Durante os rituais de feitura de Òrìṣà, pessoas que não foram feitas para
aquele determinado Òrìṣà em questão, mas que são iniciadas em Òrìṣà, poderão
participar? Uma pessoa iniciada, poderá participar de iniciação de Òrìṣàs,
porém, jamais poderá participar de uma feitura de Òrìṣà.
7
– Qual a diferença entre ọ̀bẹs usados em rituais de Òrìṣàs? Toda ọ̀bẹ deve
ser consagrada em Ògún, sendo assim, não existe diferença entre uma e outra, a
diferença é uma opção de escolha ou uma questão de prática no uso, conforme o
ritual que irá ser praticado.
8
– Quantos búzios devem ser utilizados no Ẹ̀rindílógún, para consultar os
Òrìṣàs? O próprio nome já diz Ẹ̀rindílógún (dezesseis). O número dezesseis é
muito importante na Religião Tradicional Yorùbá. Existem alguns casos que podem
ser consagrados mais de dezesseis búzios, caso haja necessidade de substituição.
9
– Existe uma regra que deve ser seguida na ordem dos rituais para os Òrìṣàs?
Cada situação é determinada por Ifá, se houver a necessidade de culto a um
Òrìṣà que normalmente não é cultuado no dia a dia, devemos seguir a orientação
de Ọ̀rúnmìlà, não existe uma receita, cada pessoa tem seu próprio Orí e cada
Orí pode exigir um ritual diferente do outro, assim, como cada Òrìṣà.
10
– Toda pessoa tem um cargo na religião? Na religião como na vida de um modo
geral, existem diferentes funções, mas cargos, poderão ser determinados somente
por Ifá.
Aula (17) - Mitos, Ritos e Ọ̀rúnmìlà III
1
– É necessário ser feito para Òrìṣà, para ser iniciado no culto de Ìyá mi?
Não. Ifá é quem determina essa iniciação, normalmente isso acontece quando
aparece na consulta a Ifá, um determinado odù.
2
– Todas as pessoas podem ser iniciadas no culto a Ìyá mi? Não. Todas as
pessoas, sejam homens ou mulheres, necessitam da indicação de Ifá, para tal
iniciação.
3
– Existe qualidade de Òrìṣà? Não. Não existe qualidade e nem caminho de
Òrìṣà, no Brasil, se usa muito essa expressão, porém, na verdade toda Ọ̀ṣun é
uma só, o rio de Ọ̀ṣun em Òṣogbo é um só, existe sim, várias denominações
para o mesmo Òrìṣà.
4
– Como fico sabendo se preciso ser feito para o Òrìṣà? Existe somente uma
maneira de você saber se precisa ou não ser feito ou iniciado para um Òrìṣà, em
uma consulta a Ifá ou através do Ẹ̀rindílógún.
5
– Preciso esperar sete anos para jogar búzios? Essa prática foi inventada no
Brasil, na Religião Tradicional Yorùbá, o jogo de búzios (Ẹ̀rindílógún), é
preparado no exato momento da feitura do Òrìṣà. Deve existir sim, a
autorização para o atendimento, se a pessoa não estiver preparada para isso, o
jogo deve ser usado para um contato pessoal do iniciado com seu Òrìṣà. A
autorização para atender outras pessoas varia de pessoa para pessoa.
6
– Quantos anos são necessários para abrir uma casa de culto afro? Cada pessoa é
uma história diferente, existem pessoas que nunca poderão abrir uma casa,
porque não nasceram para isso. A dedicação e o conhecimento devem servir de
base para essa autorização acontecer.
7
– Dentro do barracão, é verdade que os àbíkús tem apenas que serem confirmados
no santo e não raspados? Mito. Existem várias pessoas que nasceram àbíkú que
foram raspados e continuam suas vidas normalmente, o àbíkú pode ser feito,
iniciado ou confirmado, dependendo da indicação de Ifá.
8
– Ìyá mi só pode ser cultuada por filhas de Ọ̀ṣun? Não. Todas as pessoas podem
cultuar Ìyá mi, independente do Òrìṣà que seja feito.
9
– Como posso saber se sou àbíkú? Somente através de uma consulta a Ifá ou
Ẹ̀rindílógún.
Aula (18) - O Homem, o Sacerdote e o Deus
“Quando uma pessoa procura um sacerdote, muitas vezes espera
encontrar um Deus, e muito raramente aceita que ele seja um homem, ela procura
milagres e o mais fácil, o óbvio, parece uma tolice e não uma solução...”
Ifagbaiyin Agboola
Confundir
o sacerdote com um Deus é comum, mas a não aceitação do sacerdote como homem,
isso sim, causa estranheza.
Para
um grande número de pessoas é difícil separar o sacerdote do homem e entender
que ele tem a sua vida particular.
As
curiosidades são muitas e a maldade contribuem para uma enorme confusão, algumas
pessoas não conseguem entender que o sacerdote também adoece, ama e tem
problemas como todo ser humano.
É
comum ouvir a frase absurda: “Se ele não tem nem para ele, como é que ele vai
me ajudar a adquirir alguma coisa.” A incapacidade ou a ignorância, não permite
que as pessoas compreendam que cada ser humano tem um odù e um destino, e que
isso não implica diretamente na capacidade ou no discernimento do sacerdote na
hora de analisar o problema do consulente.
Vamos
analisar a seguinte hipótese: um Bàbálórìṣà, com um baixo poder aquisitivo,
pode dar um Bọrí em uma pessoa que possui muito dinheiro?
Bem,
alguns acreditam que caso isso aconteça a pessoa que tem muito dinheiro poderá
ter prejuízos levando-o a ruína, na verdade, a falta de conhecimento provoca
tais equívocos.
Cada
pessoa tem seu próprio odù e seu destino, se uma pessoa que tem muito dinheiro,
tomar um Bọrí, com um milionário ou com alguém sem dinheiro, não há diferença
no aspecto financeiro.
Tudo
que existe na terra nasce de um odù, alguns odùs beneficiam mais a situação
financeira, como o caso do odù Ogbè Méjì, que é o odù mais rico que existe.
Em
contrapartida, um sacerdote nascido em outro odù como um caminho de Òtúrúpọ̀n,
a capacidade de cura é maior, então é bem possível que essa pessoa regida pelo
odù Ogbè Méjì, com muita sorte, em um determinado momento de sua vida vai
precisar muito da pessoa regida por Òtúrúpọ̀n, para lhe fazer um ebó para
combater uma enfermidade.
Se
não existir a pessoa com o poder de cura, com o àṣẹ para afastar a doença, o
bem-nascido, regido por um belo odù, poderá perder sua vida e deixar de
encontrar a cura para o seu problema. É como dizem os antigos: “o caixão não
tem gavetas”, e todo o seu dinheiro não resolverá o seu problema de saúde.
Na
cultura yorùbá, somente o odù Ọ̀ṣẹ́ Òtùrá, tem o privilégio de chegar aos pés
de Olódùmarè carregando as nossas súplicas. Na Religião Tradicional Yorùbá, não
se invoca Deus a todo o momento, é diferente das outras religiões, para isso
temos os Odùs e os Òrìṣàs. Os sacerdotes são homens escolhidos pelos Òrìṣàs
para estabelecer essa ligação entre o divino e o profano.
Em nosso país, sacerdotes enfrentam um grande número de proibições que em território Yorùbá eles desconhecem essas interdições, em razão do sincretismo religioso Yorùbá cristão criado no Brasil, podemos citar como exemplo o famoso preceito, onde, o iniciado precisa cumpri-los antes, durante e após a feitura de Òrìṣà. Confundir um sacerdote com um Deus é esperar dele milagres, um homem não faz milagres, nem realiza graças, isso é tarefa das divindades. Conforme o merecimento das pessoas algumas coisas podem ou não acontecer, acreditar no contrário é o mesmo que acreditar que nossa senhora é Ọ̀ṣun. O homem e o sacerdote nunca podem ser confundidos com Deus.
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VERGER; P. Orixás, Deuses iorubas na África e no Novo Mundo
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SALAMY; A. Ifá a complete divination
SALAMI S. Mitologia dos Orixás Africanos 1
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Balógun awolaluonisegun Ifase
*Ifa Dida (An Invitation to Ifa Divination, VOLUME 1)
* Practical Ifa: For the Beginner and Professional
Solagbade Popoola
* Ewé: o uso das plantas na sociedade ioruba
* Orixás, Deuses iorubas na África e no Novo Mundo
* Notas Sobre O Culto Aos Orixás E Voduns
* Saída de Ìyàwó
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* OS NAGÔ E A MORTE Pàdé, Àsèsè e o Culto Egún na Bahia
Juana Elbein dos Santos.
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Falokun Fatumbi
*Ifá a complete divination
Ayò Salamy
*Mitologia dos Orixás Africanos 1
*Ogum – Dor e Júbilo (nos rituais de morte)
SIKIRU SALAMI
*Dicionário Yorùbá (Nagô) Português
Eduardo Fonseca Júnior
*A Enxada e a Lança
Alberto da Costa e Silva
“Não me pergunte o que Ifá está fazendo por você sem que você saiba me dizer, o que você está fazendo pelo Ifá!”
Olúwo Ifábaíyin Awolola Agboola
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