Escola Superior de Ifá (Èsì)
Curso de Filosofia e Teologia Yorùbá
Òrìṣà Ogun
"Através dos seguintes módulos sobre Òrìṣà, os alunos da ÈSÌ poderão ter um enfoque claro e específico sobre alguns dos Òrìṣà mais conhecidos na América. O seguinte material não tem o objetivo de treinar pessoas, e não procura ter a verdade absoluta. É hora de os seguidores de Òrìṣà evoluírem, indo para uma perspectiva verdadeiramente tradicional, entendendo que pertencemos a uma tradição plural, e baseada na oralidade. Portanto, nada pode ser verdade totalitária, mais nada tem que deixar de ser verdade.
Desejo bons estudos para todos!"
Akogun Ifáṣọlá Ajobi Àgboọlà
OGUN
Falar sobre Ogun é transitar sobre a
história da própria humanidade. Na América tende-se a ter uma visão restrita
sobre este Orisa, como ele sendo o senhor da guerra, do ferro, etc., não é
errado falar isso, porém por sua vez é incompleto. Ogun transcende isso, ele
permitiu que a humanidade avance, evolua e possibilitou que exista a
civilização.
Sendo assim o caráter deste Orisa é muito
mais social que antissocial, no entanto sua mitologia tem fatos que diminuíram
algumas das características dele, e o tornou o guerreiro sanguinário que todo
mundo conhece.
Ogun como Irunmole tem diversos nomes, o
mais conhecido tal vez seja Lakaye (quem piso o chão), isso se deve a que,
segundo os versos de Ifá, ele foi quem abriu caminho para os outros Irunmoles
virem tornar a terra habitável. Outro Oriki que faz referência ao mesmo fato é
Osinmole (O imole que é adorado), ele ficou em posição de proeminência ante os
outros Irunmoles por traçar o primeiro caminho do Orun ao Aye. Nesta história,
Olodumare decidiu enviar alguns Irunmole para começar a vida no planeta, mas
tinha um bosque muito espesso separando os dois mundos. O primeiro que foi
enviado foi Ogun seguido de 200 seguidores, ele abriu caminho com suas espadas,
logo limpou um acampamento para ele se assentar junto com os demais. Os dias se
passaram e eles só podiam conseguir madeira, portanto seus seguidores começaram
a adoecer. Ogun decidiu então voltar para Orun com eles. Olodumare perguntou o
porquê de seu retorno, e Ogun explicou que o caminho estava traçado mais seu
povo morreria de fome porque eles só poderiam comer madeira. Foi então quando
Olodumare consagrou o nome de Baba Jigijigi (o pai que só come madeira).
Logo foram enviados Obatala e duzentos
seguidores que falharam em sua missão, porque eles só levaram água, eles
viveram meses mais começaram a adoecer e voltaram para Orun. Olodumare
consagrou o nome de Baba Mumimumi (o pai que só bebe água).
O terceiro foi Orunmila que antes de
empreender sua viagem junto com 200 seguidores , consultou Ifá e viu Ejiogbe.
Ifá mandou colocar tudo o que a boca come num saco, ele assim o fez, quando
chegou no Aye, ele encontrou a madeira de Ogun, que usou para trabalhar a
terra, a água de Obatala, para poder regar, foi quando ele pegou do saco:
milho, feijão, e diferentes alimentos e semeou na terra.
Desde aquele dia, é que tem alimento na
terra que possibilita a vida no planeta, porém todos os Irunmoles reconhecem o
fato de Ogun haver sido o primeiro dos Irunmoles que traçou o caminho para os
demais.
Em outra história, Ogun é quem dá o fogo
para a humanidade, isso marcou a evolução humana. Em concordância com o que a
ciência explica, o humano se tornou mais inteligente a ritmo acelerado, depois
que pôde cozinhar seu alimento, e formar assentamentos sociais primitivos. Isso
tudo, elevou a expectativa de vida e possibilitou que o cérebro humano
obtivesse mais nutrientes para um desenvolvimento muito parecido ao atual.
Okiki
Ariwo
A
dia fun Ogun
Ti
yoo bimo kan naa
Ti
yoo wusi kaye
Ebo
ni won ni ko waa se
O
si gbebo o rubo
Nje
okiki o
Ariwo
Okiki
omo Ogun kan
Tradução:
Clamor
Consultaram Ifá para
Ogun
Quando Ogun teria um
filho
Esse filho teria
influência no mundo inteiro
Se aconselhou fazer
ebo
Ele escutou e o fez
Agora reputação e
clamor
É o que o filho de
Ogun é
Nesse verso, Ogun iria a ter um filho, e
ele foi consultar Ifá. Ifá indicou que seu filho seria aclamado no mundo
inteiro, mais que deveria fazer 2 ebos, um para que o filho chegasse ao mundo
de forma segura, e o outro para que ele tivesse boa reputação. Ogun só pôde
fazer o primer Ebo, quando o filho nasceu, quem assistiu o parto, terminou
ferida por pegar a criança. Nesse mesmo dia o mundo se sacudiu, e começaram a
acontecer coisas estranhas, quando a criança estava indo tomar banho a água se
evaporava.
Um dia Ogun sento ele embaixo de uma
árvore e a árvore caiu de forma bruta, a reputação do filho de Ogun era muito
ruim, e ninguém queria chegar perto dele. Um dia todos se reuniram na
comunidade para pedir a Ogun que seu filho fosse levado para longe. Ogun largou
tudo e foi embora com seu filho. Dias despois, a mesma comunidade que expulsou
o filho de Ogun, começou a sentir sua falta, eles não podiam esquentar se, nem
cozinhar, as feras vinham a noite e pegavam crianças, então decidiram ir em
busca de Ogun para ele trazer seu filho de volta.
Ogun trouxe ele mais impôs condições para
isso, ele pediu que seu filho fosse tratado com respeito, e que ninguém poderia
chegar perto para não ser machucado por ele, a comunidade aceitou, e Ogun
ensinou para eles como seu filho deveria ser tratado para que fosse útil mais
sem perigo. O nome que deram para o filho de Ogun foi Ina (fogo), que se
analisamos a etimologia da palavra, Ina pode ser interpretado como ato de
espalhar-se, o ato de castigar fisicamente.
Ogunda Masa
A aparição do sentido da riqueza, fez com
que os assentamentos buscassem território, que procurassem se expandir, assim
começou a guerra, onde sim, Ogun forma parte preponderante do que logo seria
chamado de civilização.
Se analisamos muitos de seus Orikis, como
por exemplo, “Olomi nile feje we” (Aquele que tendo água fresca na casa prefere
tomar banho com sangue) fala claramente do temperamento guerreiro de Ogun, mas
isso tem que ser analisado num contexto histórico, onde a guerra foi a
ferramenta da evolução.
Ali de forma mítica iremos encontrar uma
das mulheres de Ogun, chamada Ijaranyin (a briga violenta). Ogun antes de ir
para a guerra, convidou sua mulher para acompanha-lo, Ijaranyin consultou Ifa e
saiu Ogunda masa, Ifa aconselhou fazer ebo antes de ir embora com seu marido, ela
assim o fez, desde aquele dia Ogun vai com sua mulher para a guerra.
Ogunda ma sa
Ijaranyin o gbodo se ojo
A dia fun Ogun onija ole
Ejemu oluwonran adi girigiri rebi ija
Igba ti n lo ogun igboro meku eseji
O mu Ijaranyin aya re lowo
Ebo ni won ni ko waa se
O si gbebo mbe o rubo
Nje Ogunda ma sa
Ijaranyin o gbodo se ojo
Tradução:
Ogunda não foge
A briga violenta não
rejeita bloquear o covarde
Se consultou Ifá
para Ogun aquele que briga com ladrão
O bebedor de sangue
dono da corrente que sempre se prepara para brigar
Ele iria para a
guerra quando tomo a Ijaranyin como sua esposa
Se aconselhou fazer
ebo
Ele escutou e o fiz
Agora, ogunda
não foge
Ijaranyin não
rejeita bloquear o covarde
Ogbe Sá
Devido a sua vida alterada, Ogun, conforme passou o tempo, começo a ter problemas de muitos tipos. Alguns antigos referem-se a que Ogun teria tido debilidade física por causa de muitas brigas, outros dizem que ele ficou débil por Abilu (feitiços) que seus oponentes faziam para debilitá-lo, já que nenhum podia vencer na luta com ele, foi o dia que Ogun foi consultar Ifá com Orunmila , Orunmila viu Ogbe sa, e recitou assim:
Ogbe
sarara
Ogbe
sororo
A
dia fun Mariwo ope
Nijo
ti n lo re te Ogun nifa
Igba
ti ara Ogun o le
Ebo
ni won ni ko wa se
O
si gbebo nbe o rubo
Nje
mariwo ope ogun te nifa
Ara
ogun dide
Ori
ogun di ota
Mariwo
ope ogun te nifa
Tradução:
Ogbe sarara
Ogbe sororo
Se consultou Ifá
para a palmeira
O dia que Ogun foi
iniciado em Ifá
Porque o corpo dele
estava fraco
Se lhe aconselhou
fazer ebo
Ele escutou e o fez
Agora, com palmeira
Ogun se início em Ifá
O corpo dele se
fortaleceu
Sua cabeça amarrou
os inimigos
Com palmeira Ogun se
início em Ifa
Ogbe Odi
Existe muita controvérsia sobre o fato de
que um Orisa seja iniciado em Ifa, mas o certo é que nós os Babalawos
aprendemos muitos versos onde se fala da iniciação em Ifá dos Orisas. O que
devemos entender é que, cada qual deve seguir sua tradição, se para sua família
isso não procede, ótimo, mas isso não possibilita desmerecer a tradição de
pessoas que tem um conhecimento diferente, porém válido.
Ogun foi iniciado em Ifá para poder fortalecer seu corpo, a história
conta que depois ele foi próspero, e teve um período estável na sua vida, o
fato de ele ser iniciado em Ifá não derruba sua grandeza, nem sua importância.
O Isese (Tradição) é um caldeirão de cultos e todos interagem numa sintonia
perfeita.
De fato, a relação entre Orunmila e Ogun
foi além, no Odu Ogbe Odi, o mesmo Ogun deu o Ase (Autoridade) à Orunmila, para
que assim, seus sacerdotes poderão sacrificar com o Obe. Como é sabido a base
do culto a Ifa é a incidência sobre o destino humano, para isso as duas
ferramentas mais efetivas são, Iwapele (Filosofia de vida que procura a conduta
perfeita) e o Ebo (sacrifício), em razão disso que Ogun tem uma forte
influência no culto. É muito difícil encontrar um templo de Ifá onde não exista
culto a Ogun.
Com respeito a isso Ifá diz:
Abowada
awo lode Orun
A
dia fun Ogun
Lojo
to nbo wa sode aye
O
fi ori le odo Orunmila
Ki
o le mo bi irin ajo naa
Se
ma ari o ni agbara
Ati
gba emi fun ijiya
Olorun
ati orisa
Won
ni ki o rubo
Ko
to lo si ajo
Ko
fi ada rubo si Orunmila
Ki
Orunmila le fun ati awon omo re
Agbara
ati gba emi
Gegebi
etutu si Orisa
Tradução:
Abowada o Awo da casa de Orun
Consultou para Ogun
O dia que ele vinha
para a terra
Ele falou que
deveria ir para a casa de Orunmila
Para Ifá dizer como
ter sucesso na sua missão
Ele falou que tinha
o poder de quitar a vida
Foi o castigo de
Olorun
E o sacrifício para
Orisa
Ele devia fazer o
ebo antes de ir embora
E oferecer sua faca
a Orunmila
Para que Orunmila o
entregasse a seus filhos
Para que eles
adquirissem a autoridade
De quitar a vida
Em sacrifício para Orisa
Como explica o verso acima, o Babalawo tem
a autoridade de fazer sacrifício para os Orisas, mas isso não quer dizer, que o
Babalawo possa fazer o que não sabe fazer, as normas não mudam, a base de Orisa
é conduta e conhecimento, sempre.
Outro aspecto deste Orisa, é a conduta
inibida, Ogun não gosta de pessoas falsas, nem pessoas que não tenham valores
morais de fato, ele pode ser perigoso para quem não tem pureza no coração.
Tem uma cantiga de Ogun que fala assim:
Ogun
ma maa nje bimo ole
Kii
je eyan oni la ri
Ogun
ma maa nje bimo ole
Tradução:
Ogun não nos deixa
ter filhos ladrões
Com certeza não
teremos sorte
Ogun não nos deixa
ter filhos ladrões
O aspecto da honestidade e a conduta certa
no culto a este Orisa é fundamental, Ogun é o líder do clã dos caçadores, esta
função social requer que a pessoa olhe pela comunidade antes que por si mesmo,
isso fala claramente do que Ogun requer para seus devotos e seguidores. Ogun
não aceita pessoas ruins, ele é sinônimo de verdade, se seu seguidor é
verdadeiro ele não deixará cair.
A seguinte cantiga fala assim:
Laakaye
ma nti wa subu
Ogun
ma nma nba wa já
Laakaye
ma nti wa subu
Tradução:
Lakaye não nos deixa
cair
Ogun não tentes
brigar conosco
Lakaye não nos deixa
cair
Outra cantiga do culto a Ogun fala que
este Orisa apoia as pessoas construtivas, que são determinadas fazendo bem.
A cantiga é assim:
Ijamba
koni se atunnise
Biku
bapa oni jamba aku atunnise
Ijamba
koni se atunnise
Tradução:
Nada de ruim
acontece para aquele que constrói
Se a morte mata a
quem destrói
Nada de ruim acontece para quem constrói
Como tem se notado, as cantigas são
simples assim como o culto a ele, mais não por isso deixam de ter um
significado muito forte voltado ao caráter de um homem que tem que ser
determinado, justo, bravo quando tem que ser, mais o principal de tudo, apegado
na verdade.
Ifá
diz:
“Só quem possuir bom caráter pode descobrir
o mistério de como trabalhar a arte do ferro”
Isso é Ogun
Akogun Ifáṣọlá Ajobi Àgboọlà
BIBLIOGRAFIA
AWODIRAN; A. Ifá, Ohun enu Olódùmarè
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EPEGA; A. A. Oráculo Sagrado de Ifa
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BALOGUN IFASE; A. O. DAFA – Um Poderoso Sistema Para Ouvir A Voz Do Criador.
POPOOLA: S. Ifá Dida an Invitation to Ifá Divination, vole 1
POPOOLA; S. Practical Ifá: For the Beginner and Professional
VERGER; P. Éwé: o uso das plantas na sociedade ioruba
VERGER; P. Orixás, Deuses iorubas na África e no Novo Mundo
VERGER; P. Notas Sobre O Culto Aos Orixás E Voduns
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DOS SANTOS; E. Os Nagô e a Morte: Pàdé, Àsèsè e o Culto Egún na Bahia Juana
FATUMBI; F. Oríkìs Òrúnmìlá
SALAMY; A. Ifá a complete divination
SALAMI S. Mitologia dos Orixás Africanos 1
SALAMI S. Ogum: Dor e Júbilo (nos rituais de morte)
JUNIOR; E. F. Dicionário Yorùbá (Nagô) Português
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* Orixás, Deuses iorubas na África e no Novo Mundo
* Notas Sobre O Culto Aos Orixás E Voduns
* Saída de Ìyàwó
Pierre Verger
* OS NAGÔ E A MORTE Pàdé, Àsèsè e o Culto Egún na Bahia
Juana Elbein dos Santos.
*Oríkì - Òrúnmìlá
Falokun Fatumbi
*Ifá a complete divination
Ayò Salamy
*Mitologia dos Orixás Africanos 1
*Ogum – Dor e Júbilo (nos rituais de morte)
SIKIRU SALAMI
*Dicionário Yorùbá (Nagô) Português
Eduardo Fonseca Júnior
*A Enxada e a Lança
Alberto da Costa e Silva
“Não me pergunte o que Ifá está fazendo por você sem que você saiba me dizer, o que você está fazendo pelo Ifá!”
Olúwo Ifábaíyin Awolola Agboola
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