Escola Superior de Ifá (Èsì)
Curso de Filosofia e Teologia Yorùbá
Módulo Òrìṣà Osun
"Através dos seguintes módulos sobre Òrìṣà, os alunos da ÈSÌ poderão ter um enfoque claro e específico sobre alguns dos Òrìṣà mais conhecidos na América. O seguinte material não tem o objetivo de treinar pessoas, e não procura ter a verdade absoluta. É hora de os seguidores de Òrìṣà evoluírem, indo para uma perspectiva verdadeiramente tradicional, entendendo que pertencemos a uma tradição plural, e baseada na oralidade. Portanto, nada pode ser verdade totalitária, mais nada tem que deixar de ser verdade.
Akogun Ifáṣọlá Ajobi Àgboọlà
OSUN
No presente material abordaremos um dos Òrìṣà mais venerados na sua terra de origem, assim como é no novo mundo. Poucos
Òrìṣà tem a popularidade que tem Osun. Para começar, devemos compreender a natureza essencial deste Irunmole, já que no novo mundo os Òrìṣà permaneceram no tempo, mas sua cultura se viu sumamente modificada por
questões diversas, sobre tudo, se denota muito sincretismo tanto cristão como
de muitas outras vertentes, conservando assim o culto, porém, adulterando suas
formas, conceitos, e até mesmo a própria funcionalidade dos Òrìṣà. Nesse sentido Osun não foi a exceção.
Osun na cultura Yoruba é vista como a fonte de vida, aquela força
da natureza que permite a sustentação do planeta, já que é sabido que o
elemento mais essencial para a vida é a água. Aqui já pode ser apreciada a
importância do Òrìṣà, Osun por ser um Òrìṣà colorido, alegre, e muito carismático em
suas histórias e mitos. A figura mulher, terminou por ofuscar a parte divina,
levando a este poderoso Irunmole até um lugar mais profano e em alguns
casos até ridículo. Isso com o tempo permitiu o afastamento da essência em si e
da razão de culto.
Odu Osa Fun
Osun como foi mencionado anteriormente é um Irunmole, segundo os versos de Ifá ela seria a primeira Irunmole feminino que teria vindo do Orun para o Aye. Isso ocasionou problemas entre os demais Irunmole que vinham junto, eles não a respeitavam como parte do grupo, não percebendo a importância de sua missão. Ela decidiu se afastar do grupo de forma pouco harmoniosa, em um primeiro momento os demais Irunmole não deram importância a esse fato, mas com o passar do tempo eles começaram a ver que as coisas já não estavam dando certo, então eles consultaram Ifá, e o Odu que se revelou foi Ose Otura.
No Odu Ose Otura Ifá diz:
Konkoro
awo nile Ewi Alado
Orun
mu dede kanle awo ode Ijesa
Alakan
ni nbe lodo ni n lu
Akaaya
pepepe
A
día fun Irunmole ojukotun
A
bu fun Irunmole ojukosi
Won
ntorun sile aye
Won
lagbo oro won lagbo opa
Won
lana gboooro tese nto
Won
gbimo won o fi t´osun se
Won
peegun eegun o je
Won
pa gboro, oro o gba
Won
gunyan iyan won lemo
Won
rokaroka oka won ro betebete
Gbogbo
ohun ti won n se o juse
Won
pada
Won
to Olodumare lo
Olodumare
ni Obinrin ti nbe ninu won n ko
Nje
won ke si
Won
lawon o ke si
Olodumare
ni ki won lo ree si osun
Agberegeje
ajuba
Ajuba
naa aboju agberegeje
A
día fun Osun sengese olooya iyun
Ti
n gbe ni ikoko ti yoo maa bebo Irunmole je
A
wa fi mo je ta f´Osun nigba yi o
Iye
wa taa pe nimo
Gunyangunyan
ode ido obinrin ni
Rokaroka
ode iluka obinrin ni
Iye
wa taa pe nimo
Osun
amomo fimo je tire o
Osun
monde je ki ebo o da felebo
Osun
oore yeye, Omi o, Ota o, Ide o, agba o.
Tradução:
Konkoro o Awo do Ewi de Ado
Orun
mu dede kanle o Awo de Ijesa
O caranguejo do rio
faz barulho com suas pinças, pepepe
Se consultou Ifá para os Irunmole da direita
Também para os Irunmole da esquerda
Quando eles estavam
vindo do Orun para o Aye
Eles passaram pelo
mato de Oro e Opa
Abriram o caminho
para os pés passarem
Eles combinaram não envolver
Osun nas suas decisões
Agora, quando batiam
o Inhame, o inhame tinha caroço
Faziam farinha de
inhame, e a farinha não dava para se comer
Todos seus esforços
foram inúteis
Eles voltaram para Olodumare
Olodumare perguntou:
Onde está a mulher
entre vocês?
Vocês deram
participação?
Eles falaram que não
deram participação
Olodumare diz:
Vocês voltem e acalmem a Osun
O amplo começo
O começo e
igualmente amplo
Consultaram Ifá para Osun sengese a dona do peite de
coral
Quem estava
secretamente destruindo os sacrifícios das outras divindades
Agora nós
respeitamos a Osun
As divindades
respeitamos você
Osun nós respeitamos
você
Quem bate o inhame
em Ido é uma mulher
Quem vende a farinha
de inhame na cidade de Ika é uma mulher
Nossa mãe, a
personificação do conhecimento
Nós, as divindades
reconhecemos você
A grade Osun permita que o
sacrifício seja aceito
Osun a mãe bondosa, a
água, a pedra, o bronze os tambores agba.
Odu Ogbe Hunle
Como mostra o verso acima, o poder de Osun
é muito, ela é responsável pela fecundidade do mundo, sem Osun nenhum
sacrifico é aceito, sem Osun o mundo é infértil e a vida acabaria. Na
verdade, a principal funcionalidade deste Irunmole é essa. Em Ifá
temos outra instância nos versos sagrados, que reafirma essa questão, onde Osun
já como Òrìṣà (Encarnação divina) não podia ter filhos.
Sobre isso, o Odu Ifá Ogbe Hunle
fala assim:
Ogbe
hunle eleku
Ogbe
hunle eleja
Ogbe
hunle eleye
Ogbe
hunle eleran
Ogbe
alaya gbirin bi e n kan eruko
A
dia fun Osun sengese olooya iyun
Nigba
ti n momi soju sugbere t´omo
Ebo
ni won ni ko se
O
gbebo nibe o rubo
Nje,
subo o
Afideremo
Osun
onibu ore
Osun
de olomo yoyo
Ile
osun o gbagan
Tradução:
Ogbe
hunle é o
dono dos ratos
Ogbe
hunle é o
dono peixes
Ogbe
hunle é o
dono das aves
Ogbe
hunle é o
dono dos animais
Ogbe
hunle é
quem tem o peito forte como o ferro e delgado como um bastão
Foi quem consultou
para Osun sengese olooya
iyun
Quando ela chorava
muito por não ter filhos
Eles aconselharam
fazer ebo
Ela ouviu e o fez
Agora, tem muito
Ela colocou bronze
em seus filhos
Osun a dona do riacho de
benção
Osun venho com
abundantes filhos
Odu Idin Ileke
Se algo podemos resgatar dos versos
anteriores é que Osun como Irunmole, fez com que a criação se
equilibre para começar a fertilidade, e como mulher divinizada (Òrìṣà)
sua razão de existência foi ser o exemplo de maternidade. Um aspecto e outro se
relacionam de forma harmônica, em seus Oriki, Osun é descrita
como aquela que possui abundantes filhos, aquela que banha seus filhos, aquela
que adorna seus filhos com bronze, aquela que enterra búzios na areia para seus
filhos acharem. Não deve existir, ao menos no meu humilde conhecimento, um Òrìṣà
que seja tão objetivo e protetor com seus filhos com Osun.
Em outra história sobre Osun,
observamos que ela se relacionou com Orunmila, em umas das excursões de Ifá
na terra de Osogbo. A razão da união deles foi a mesma, poder ter filhos.
Sobre isso, Ifá fala assim no Odu Idin Ileke:
Ibante
niwaju
Okun
lehin
A
dia fun Okokoro
Tii
se oko Osun
Emi
ni le se, emi ni yo da
A
día fun Orunmila
Baba
nlo ree gba Osun lowo Okokoro
Irinwo
efon, egberin iwo
Ogoji
imale, ogorin bata
Ogorun
onisango, igba seere
A
día fun Lubelube
Tii
s´omo lode Osogbo
Ti
o lo ree wo si ile Alare Ountoto
Alare
Ountoto, omo a berin bi eni fibu su
Omo
a bukan gedegbe te koko
Tradução:
Avental na frente
Cordão por trás
Consultaram Ifá para Okokoro
O esposo de Osun
Que pode fazer, o
que irei a fazer?
Consultaram Ifá para Orunmila
Quando o pai irá
pegar Osun da mão de Okokoro
400 búfalos, 800
chifres
40 muçulmanos, 80
sandálias
100 seguidores de Sango, 200 seere
Consultaram Ifá para Lubelube (Orunmila)
Um nativo de Osogbo
Quando ele seria o
hóspede na casa de Alare Ountoto
Alare
Ountoto é
quem corta a carne do elefante como se fosse inhame
É quem cozinha um
pedaço grande de carne de elefante
Na história de Idin ileke, Alare
Ountoto era o Baale (chefe) da cidade de Osogbo, ele chamou Orunmila
para consultar sobre a paz e prosperidade de sua cidade. Orunmila consultou para Alare
Ountoto, indicou a necessidade de fazer ebo, Alare o fez e
pouco tempo depois todos as orações de Orunmila foram manifestadas.
Foi grande a reputação de Orunmila
por esse fato, até que um dia Osun foi até a casa de Alare Ountoto
para consultar Ifá com Orunmila. Orunmila consultou e
falou para Osun que seu problema era não ter filhos, e que isso
acontecia pelos trabalhos que fazia seu marido. Para que ela pudesse ter
filhos, deveria abandonar seu marido. Osun ficou apaixonada por Orunmila,
e decidiu seguir as orientações de Ifá. Neste tempo Orunmila
seguia na cidade e Osun escapou da casa de seu marido e foi até seu
encontro, Orunmila protegeu a Osun, e ficaram juntos. Em poco
tempo Osun ficou grávida de Orunmila, mas os problemas começaram
a aparecer, já que Okokoro começou a fazer guerra à Orunmila. Okokoro
era um Onisegun muito forte, e ele estava convencido que poderia vencer Orunmila.
Orunmila por outro lado, sabia que Okokoro viria encontrá-lo
para brigar com feitiçaria. Orunmila se protegeu e fez ebo,
quando Okokoro chegou, só encontrou uma parede de pedra, e começou a
lançar medicina perigosa contra a parede. Em certo momento Orunmila
ordenou que ele se transformasse em uma torrente de água, e assim foi, até hoje
em dia o Rio leva seu nome, Odo Okokoro.
Logo do desaparecimento do marido de Osun,
Orunmila se casou com ela, e tiveram muitos filhos. Desde aquele dia,
quando Orunmila vai a outras cidades para levar Ifá, quem fica
cuidando da casa de Orunmila é Osun.
Odu Okanran Nikandi
Muitas pessoas pensam que Osun é
oriunda da cidade de Osogbo, mais o certo é que ela vem da região de Ekiti
numa cidade chamada Igede. A história conta que logo que o rei Ake
dessa cidade morreu, os 16 filhos dele tiveram muitas disputas para suceder o
pai. Foi nesse momento, depois de muitas guerras internas, que o culto de Osun
emigrou da região. Nesse trajeto, no que hoje é Osogbo, Osun
encontrou uma comunidade recém assentada na margem do rio que necessitava
assistência contra invasões Fulanis. Foi ali que começou a história do pacto
entre a divindade e o Rei Laaro, primeiro ataoja de Osogbo.
Nesse pacto Osun ajuda o rei Laaro, e ele promete render culto e
proteger a Osun.
Até os dias de hoje esse acordo continua e
é rememorado no festival anual de Osun da cidade de Osogbo, sem dúvidas
o festival de Òrìṣà mais populoso e famoso do mundo. Mas isso não
significa que Osun seja uma divindade autóctone dessa cidade. Como
muitos outros Òrìṣà, Osun foi muito famosa fora de seu lugar de
origem, mais a fonte original chamada de Elemi, é onde nasce Osun,
a cada festival em Osogbo, os primeiros rituais são feitos nessa fonte,
pelos principais sacerdotes de Osun em Osogbo.
Osun também é muito conhecida em outras cidades, como Iponda,
Ede, Ijumu, Ido e muitas outras. Seu culto não é muito
diferente de cidade a cidade, tem algumas variações, mais não grandes
diferenças, poderíamos dizer que é um dos cultos mais uniformes, que apresenta
menos divergências.
Um fato importante a se esclarecer sobre
Osun, é a confusão sobre ela usar ouro. Isso não procede de um ponto de vista
tradicional, já que para aquela época o metal mais valorizado era o bronze,
isso pode ser constatado em vários Odu Ifá.
Mas só para citar um exemplo podemos analisar o verso do Odu Okanran Nikandi que diz assim:
Okan
ni o ro seke lebu
Ese
kan ni o ko giri jana
A
día fun Ide
Eyi
ti n se ore Osun
Ebo
ni won ni ko se
O
gbebo nibe o rubo
Ero
ipo
Ero
Ofa
Ohun
ti ide bari ni Osun o gba
Tradução:
O coração não tem
costume de ficar paralisado
Uma perna só não faz
barulho para caminhar
Eles consultaram
para Ide (Bronze)
Aquele que é o amigo
de Osun
Aconselharam fazer ebo
Ele ouviu e o fez
Peregrinos de ipo
Peregrinos de Ofa
Será o bronze o
único que sempre Osun levara
Como é visto no verso de Okanran Nikandi,
o único que Osun gosta de levar é o bronze, elemento indispensável no
culto, símbolo de riqueza e
prosperidade, além de representar um gosto estético refinado. É uma questão que
envolve muito o culto por vontade do próprio Òrìṣà, é bem sabido que
principalmente as mulheres seguidoras de Osun tem como habito no dia a
dia se arrumar para ficar esteticamente atrativas, assim mesmo como Osun
era em sua passagem pelo mundo.
Como fala parte de seu Oriki:
Yeye
mi olowo Aro
Yeye
mi elese osun
Yeye
mi ajimo roro
Yeye
mi abimo ma yanku
Yeye
mi alagbo awoye
Tradução:
Minha mãe com as
mãos pintadas de índigo
Minha mãe com os pés
pintados de Osun (Pó vermelho)
Minha mãe que sempre
está arrumada
Minha mãe cujo filho
nunca morre
Minha mãe, a
proprietária de uma medicina poderosa
“Oore yeye Osun
Eni ti o gbo mi ati isoro aye mi
Omi re gbe lo”
Minha
mãe bondosa
Quem
me ouve e os problemas da minha vida
Com sua
água os leva
Que
Osun nos bendiga a todos!
Akogun Ifáṣọlá Ajobi Àgboọlà
BIBLIOGRAFIA
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* Orixás, Deuses iorubas na África e no Novo Mundo
* Notas Sobre O Culto Aos Orixás E Voduns
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Falokun Fatumbi
*Ifá a complete divination
Ayò Salamy
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*Ogum – Dor e Júbilo (nos rituais de morte)
SIKIRU SALAMI
*Dicionário Yorùbá (Nagô) Português
Eduardo Fonseca Júnior
*A Enxada e a Lança
Alberto da Costa e Silva
“Não me pergunte o que Ifá está fazendo por você sem que você saiba me dizer, o que você está fazendo pelo Ifá!”
Olúwo Ifábaíyin Awolola Agboola
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