terça-feira, 14 de outubro de 2014

A verdade sobre o orixá e Ifá.



Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola

Ao longo dos anos tenho acompanhado um grande numero de pessoas divulgando a religião tradicional yoruba, algumas delas bem intencionadas fazem ótimos trabalhos outras, no entanto, se limitam a divulgar materiais vindos do exterior como sendo a mais pura verdade, incontestável e irretocável verdade.

O povo de nosso país durante anos foram vitimados com a verdade católica que moldou a forma de pensar de nosso povo, a nossa gente pensa em religião como se o catolicismo fosse à base para tudo.

O planeta tem sete milhões de habitantes, o catolicismo durante longo tempo foi dominante em vários países, hoje isso já não acontece, à manipulação da informação aos poucos deixa de existir sendo assim as pessoas tem acesso a informações referentes às mais diversas religiões.

A necessidade de nossos irmãos na fé do orisá é especifica, não podemos mudar na teologia com filosofia católica ou cristã. Existe uma guerra acontecendo nas entrelinhas em nosso país, evangélicos e católicos disputam com violência os fieis, isso gera desconforto para nossos irmãos, em grande parte dominados por um sistema corrupto que associa a politica a religião e ao poder da mídia.

O povo que cultua orisá esta necessitando de informações, precisamos de canais de tv e emissoras de rádios disponibilizando informações verdadeiras sobre a teologia e a filosofia yoruba.
Na tentativa de criar mais um espaço onde a informação sobre orisá possa ser divulgada criamos vários trabalhos, incluindo os nossos blogs e as nossas paginas na internet.

Não somos os donos da verdade, temos um trabalho que é fruto de dedicação com mais de cinco décadas de fé e amor aos orisás. É bem verdade que os orisás foram generosos conosco, nos possibilitaram um convívio com pessoas capacitadas que auxiliaram na nossa informação.

Vejo constantemente na internet abordagens equivocadas algumas pessoas na falta de conhecimento improvisam e terminam misturando o cristianismo com a religião tradicional de culto ao orisá.
Essa semana recebi de presente de aniversario de um querido amigo um livro do grande escritor Ayo Salami, após a leitura resolvi escrever esse texto desmitificando algumas questões, o livro que fala sobre Egbe Orun me inspirou uma abordagem ampla sobre a filosofia e a religião yoruba.

Buscando torna a didática leve e acessível para pessoas de todas as idades e níveis intelectuais, vamos abordar algumas questões de forma simplificada.


O nascimento


O nascimento de um ser humano dentro da religião yoruba é descrito em varias fases, nos versos de ifá, partindo do principio ativo que é particularmente conhecido como alma.


Alma


A alma que vamos designar dessa forma para fácil identificação tem origem divina, Olodumare “Deus” com a necessidade de criar novos indivíduos encarrega Obatala de criar novos corpos celestiais que após a criação ganhou vida com o sopro divino do criador, “Deus”.
Com a vida insuflada em um principio que se origina em dois corpos simultaneamente a alma agora dos seres idênticos segue a trajetória natural se dirigindo para a escolha de um orí.

Ori


O orí é escolhido pela alma e seu duplo originando aqui após a escolha diante de Àjàlá “aquele que cria o “Ori” um duplo do orí idêntico que tenha a função de acompanhar o duplo da alma no orun”.

Egbe Orun


O culto a Egbe Orun enfatiza a necessidade de atrair o duplo da alma que permanece no Orun depois do nascimento com a finalidade de acessar a ligação divina de Egbe com Olodumare possibilitando uma vida mais confortável.

Abiku


O espirito abiku reproduz a insatisfação e a falta de aceitação com o destino e o afastamento do duplo, sendo assim o encontro da morte é a maneira simplista de reencontrar o duplo no orun.
Embora muitas pessoas com problema de abiku não morram jovens a sua condição de insatisfação e a não aceitação do destino escolhido caracterizam seu comportamento.

Bori


O culto a orí enfatiza a necessidade de atrair do duplo do orí que permanece no Orun depois do nascimento com a finalidade de acessar a ligação divina de orí com Olodumare possibilitando uma vida mais confortável.

Obs: Na filosofia Yoruba o duplo da alma e o duplo do orí por permanecer no Orun tem ligação direta com o divino isso facilita o acesso a uma vida prospera e tranquila dai a razão do culto ao duplo.
Sendo que o orí e a alma que se destinaram para acompanhar o corpo no nascimento em convívio terreno perde muito da sua inocência e distancia o homem do seu criador.

Esse tema já foi abordado por vários pensadores que aproximam a figura infantil e inocente do divino que também descrevem o afastamento de Deus com o passar do tempo e o desenvolvimento do caráter e da personalidade.

Caráter 


O caráter conhecido na filosofia yoruba como IWA esta contido na escolha do individuo aos pés de Àjàlá no momento da escolha d orí, porém com uma definição mais ampla conhecida por nós como odu.

Odu


Odu pode ser designado como o resultado de parte da essência divina introduzido em quatro elementos o orí e o seu duplo assim como a alma e seu duplo, esse conjunto em movimento após o nascimento concentra na parte que vem para terra o Iwa que sofre algumas alterações com o passar do tempo e o convívio com outros indivíduos gerando aqui o que conhecemos como personalidade.
A personalidade

A livre escolha de como viver expressada em uma pequena parte de como conhecemos como destino pode nos aproximar ou nos afastar do divino, pessoas com o mesmo odu que tem a alma como ponto de origem da mesma essência, “Egbe” expressam comportamentos diferentes em razão do caráter “IWA” gerando assim um comportamento identificado como diferente da essência conhecido como personalidade.

Destino


Ori esta ligado ao odu, e existe 256 odus diferentes, a grosso modo, teríamos no mínimo 256 tipos de bori. Mas a verdade é que esse procedimento não segue nenhuma regra e sim, uma orientação de Ifa ocasional.

Obs:O destino pode ser assim compreendido.


AKUNLEYAN é a parte do destino que cada um escolhe por vontade própria, livre arbítrio.

AKUNLEGBA é a parte do destino o qual está adicionada como complemento de AKUNLEYAN.

AYANMO é aquela parte do destino que nunca pode ser mudado.
 Por exemplo: Pais, sexo etc...

 Ìwà Rere quer dizer, bom caráter, um dos principais requisitos para se tornar digno de ser cultuado por seus descendentes após sua morte.

Apari-Inu representa o caráter à natureza humana, Ori Apere representa o destino.

Um indivíduo pode vir para a terra com um bom destino, mas se ele vem com mau caráter, à probabilidade de cumprimento, do seu destino é comprometida.
O pecado

A cultura Yoruba não reconhece o pecado, pessoa que toma a iniciativa de se distanciar de seu destino, é o que popularmente se chama de pobre de espirito.

A filosofia Yoruba é fantástica, existe uma frase que diz, o castigo deve ser adequado ao caráter do culpado.

Isso identifica que o caráter também faz parte da escolha, assim como o odu a escolha é testemunhada por Orunmila.
O Espirito

O espirito é descrito em um conjunto que é formado pelo Ori, a alma e o caráter, o odu de duas pessoas idêntico pode gerar comportamentos diferentes em razão do desenvolvimento do caráter que é alterado gerando o distanciamento do destino comprometendo a alma e distanciando a mesma de seu duplo e da sua essência.

Orunmila


O culto a Òrúnmilà serve para aprimorar o caráter e aproximar o individuo de seu destino, o conhecimento do odu de nascimento serve para nortear o comportamento visando aproximar a alma e o orí de seu duplo contando com o apoio do Orisa.

Orisa


A nossa alma tem a mesma origem que tem o orisa porem a nossa alma pertence a um egbe e o Orisa pertence a outro egbe a origem é a mesma, mas definição se difere porque a alma considerando a parte que vem para a terra pode se distanciar da origem o orisa se mantem em sua essência divina e possibilita o acesso à prosperidade assim como o nosso duplo no orun por razões anteriormente descritas.

O culto a Orisa


O culto a orisa assim como o culto a orí e egbe tem a mesma finalidade que é a aproximação com o divino e a identificação com a nossa origem, considerando que o duplo é parte do Deus e assim se comporta a essência é fundamental no desenvolvimento do espirito.
As pessoas que são iniciadas para determinados Orisás seguem uma orientação de Ifá baseada em um principio da complementação.
Quando um sacerdote de Ifa é iniciado cumpre uma série de rituais e cultua os Orisás indicados nos odus relativos à sua iniciação, já no caso da pessoa não iniciada em Ifá o processo pode seguir uma orientação um pouco diferente.

A incorporação


O transe consciente visa à aproximação do individuo com a essência do divino expressa no Egbe, ela é provocada e se justifica para a evolução do espirito que habita em cada um de nós.

O transe inconsciente que não é reconhecido pela ciência tão pouco se justificaria como forma de evolução, pois se eu não tenho conhecimento que estou alinhado como poderia me beneficiar do alinhamento, tal comportamento é injustificado e inexplicável para a evolução espiritual.

Mesmo que algumas pessoas acreditam quem isso é possível a ciência contesta e o comportamento daqueles que tomam banho e colocam roupas adequadas para os rituais se entregando ao ritmo das cantigas invocatórias de forma consciente o individuo em alinhamento com a essência propositalmente.

A informação da não consciência é usada dos dois lados do oceano por pessoas que se beneficiam e usam a energia do divino em beneficio próprio as aberrações no território yoruba como em outros países chegam ao máximo dos ridículos onde números de magicas tentam justiçar a veracidade do espirito, homens introduzem instrumentos perfurantes em seu corpo tentando provar uma incorporação, mas na verdade uma solução de folhas anestésicas é usada como forma de amenizar a dor criando um palco ilusórias onde inúmeras pessoas contracenam com a mentira.

Egungun


O culto aos antepassados tem a mesma finalidade que o culto de Egbe e Ori com uma diferença o alinhamento é buscado na essência e não no duplo.

O culto a egungun tem a mesma finalidade que o culto a orisá, a aproximação da essência que não sofreu alteração e mantem o principio do divino possibilita o viver mais confortável e o desenvolvimento espiritual próximo do compromisso assumido antes do nascimento.

O culto a Orunmila


O ato de criar o Ifá do individuo através do assentamento de Orunmila possibilita a criação do instrumento que identificara o destino e os compromissos assumidos antes do nascimento essa questão é fundamental que seja compreendida como um mapa que auxiliara a pessoa na caminhada terrena, mas também auxiliara o espirito no alinhamento com o duplo.

Somente Orunmila testemunhou a nossa escolha do nosso destino, a voz de Orunmila só pode ser ouvida no Ifa e o Ifá pessoal reproduz com mais detalhe a nossa escolha.

Isefa


Para algumas famílias o isefa não é uma iniciação, em nossa família consideramos o Itefa uma iniciação completa e o isefa uma pré-iniciação, em nossa família toda a pessoa submetida a um isefa recebe um nome, além das orientações do odu do ritual, se essa pessoa recebe uma indicação de ifá que deve se tornar um babalawo, o ifá é alimentado mais uma vez, em um novo ritual, que não acontece no mesmo dia, e um opele é consagrado para o inicio dos estudos.

Em algumas famílias a pessoa submetida em um isefa é chamada Omo ifá, e uma submetida ao itefa são conhecidas como awo ifá.
Em nossa família consideramos esses dois nomes e usamos a denominação awo kekere, (pequeno segredo), ou awo kekere, para as pessoas com indicação do inicio a preparação para itefa.
O awo kekere, é uma pessoa que normalmente tem o seu Exu arrumado com o odu do isefa ou com um odu indicado por ifá, na segunda cerimonia quando é consagrado o opele de estudo.

O awo kekere pode receber esse opele que muitas vezes é confeccionado com pedaços pequenos de cabaças, semelhante ao que é feito no ifá cubano, com pedaços de coco, ou com um opele padrão, com favas de opele legitimas, a diferença na consagração do opele, para estudo é o porte do sacrifício por razões obvias não vou mencionar como é feito, mas existem inúmeras formas de consagrar um opele, uma pessoa que passa pelo itefa, mesmo tendo odu de babalawo, não tem o seu opele consagrado para atender clientes, a consagração do opele em alguns casos no itefa, é muito simplificada consistindo em que o opele come dentro da vasilha de Orunmila, já para consagrar o opele que vai consultar para clientes a consagração, é fora da vasilha de Orunmila e não necessitam que Orunmila seja alimentado, os rituais para esse caso, estão muito ligados a o culto de Exu.

Itefa.


Uma pessoa submetida a um itefa pode continuar se incorporando com caboclo, esu, preto velho, e seu orisá, se não for um babalawo, essas pessoas que tem cargo de babalorisas ou tem caminho de oloorisa, passam por quase todos os rituais, que um babalawo passa a diferença esta ligada ao culto de Iya odu e Osun (antepassado).
O culto de Osun (antepassado) tem rituais específicos para pessoas que passam por uma iniciação e rituais completamente diferentes para a pessoa que vai iniciar outras pessoas.

As pessoas, iniciadas para se tornarem babalawos começam os seus estudos, não no momento que fazem o itefa, começam seus estudos quando na pré-iniciação (isefa), recebem uma orientação de Orunmila que tem caminho de babalawo.

As pessoas pertencentes ao ifá Cubano, assim como as pessoas acolhidas em nossa família, que por alguma razão, se afastaram da sua família do ifá Nigeriano recebem um tratamento totalmente diferente, condicionado a uma forte demonstração de conhecimento ou baseado em uma orientação determinante de ifá, só assim pode ser considerado o tempo de estudos para uma futura liberação para um atendimento de clientes.

O primeiro caso, diz respeito a um conhecimento não dos versos da família a qual a pessoa fazia parte, mas sim de um conhecimento universal, de tudo que envolve ifá.

Se Orunmila disser que devemos aproveitar os ikins da pessoa que foi iniciado no ifá Cubano, assim o faremos, pois para nós ifá é universal, mesmo tento conhecimento que os ikins usados nas iniciações da tradição do ifá Nigeriano sejam completamente diferentes das sementes de dendê usadas em Cuba.

O mais importante nesses casos é levar em consideração que o iniciado no ifá Cubano, recebe já na sua primeira mão de ifá, o assentamento de Osun (antepassados) e Exu, diferente do isefa tradicional.

Se for aceito o assentamento de ifá, também vai ser aceito o assentamento de Osun (antepassados) e o de Exu, existem alguns casos, no ifá Cubano que a pessoa tem um opele de casca de coco, se ela passar para o ifá Nigeriano esse opele, só poderá ser usado, como um adorno, o sacerdote em sua nova caminhada deve consultar para os seus clientes com o opele tradicional.

Já o assentamento de Osun (antepassado), pode ser mantido em paralelo, assim como o Exu e o ifá, dispensando uma nova iniciação, considerando que não se pode iniciar uma pessoa duas vezes, isso seria um desrespeito com suas raízes anteriores.

Duração das cerimonias.

Um isefa leva até três dias para conclusão da cerimonia, já um itefa leva de três a dezessete dias, a conclusão das cerimonias, isso não quer dizer que não possa seguir outras indicações como é bem comum, sete dias. Sempre a orientação de Orunmila no ifá, é que vai ser seguida.

Ìtélodú


Nessa cerimonia o iniciado s torna um sacerdote conhece pelo nome de um Babalawo os Babalawo NÃO INCORPORAM, e se dedicam ao estudo dos odus por toda a vida cultuando.

A trajetória de estudos do Babalawo pode ser descrita de varias formas, porém a cerimonia onde o mesmo é reconhecido pela divindade conhecida como iya odu é o ápice na religião tradicional yoruba não existe Babalawo que não tenha sido apresentado para iya odu.

Iya odu


Já falamos sobre Egbe, odu destino e a essência divina falar de iya odu é falar da divindade útero gerador de odu sendo assim estamos falando de Egbe no plural, essa divindade abriga vários odus, sendo assim da origem há varias egbe disponibilizando para o criador parte da essência no momento da criação do espirito.

Expectativa


Não espero que esse trabalho mude a historia de ifá no Brasil tenho consciência que com o passar do tempo outras pessoas poderão se sentir motivadas a escrever sobre a nossa religião o importante é que cada um de nós tente auxiliar na divulgação, juntos encontraremos a essência de nossos Egbes, desenvolveremos nossos espíritos e cumpriremos nossos destinos.

Se você gostou, compartilhe, reproduza. Só não esqueça que a produção intelectual é de propriedade privada, então, credite a autoria dos textos. Obrigado

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