terça-feira, 19 de setembro de 2017

O Ifá de Ariano Suassuna

Autor: Bàbáláwo Ifagbaiyin Agboola
Quando eu lancei a proposta do Ifá Nacional não me detive ao fato de que quando postamos textos na rede social o trabalho é acessado por pessoas dos mais diversos níveis intelectuais e o risco de crítica existe a todo momento, mas daí ter paciência para assistir comentários de pessoas completamente ignorantes é um exercício que talvez eu não esteja preparado.
Para entende o nacionalismo temos que saber que existe várias formas de nacionalismo, embora de um modo geral ele seja representado por um sentimento de valorização, marcado pelo amor a uma nação, não confundir com patriotismo que é uma outra ideologia.
O nacionalismo visa combater o imperialismo e o sentimento colonialista, daí falar de independência é outra coisa. Autonomia é completamente diferente de independência.
O Ifá Nacional não quer ser independente do Ifá Nigeriano, o projeto propõe autonomia e reconhecimento considerando que infelizmente alguns brasileiros receberam oye no Ifá e não tem autorização para fazer iniciações.
Da forma que eu enxergo o Ifá é uma incoerência dar um oye para um Bàbáláwo que só poderia ser ocupado por quem tem autonomia e poder de decisão, sem lhe permitir que faça um itefá.
Ariano Suassuna criou o Movimento Armorial, a ideia desse brilhante escritor era valorizar a cultura nordestina e brasileira como parte principal de um raciocínio que algumas pessoas definem como nacionalismo e que outras identificam como forma de pensar ultrapassada.
Se Ariano Suassuna fosse um Bàbáláwo ele defenderia a tese que para se tornar um sacerdote com autonomia diante do pensar de alguns Yorùbás o sujeito deveria ter coragem, determinação e formação. O grande escritor brasileiro diria “Quem não está preparado que não se estabeleça.”
Como as pessoas conseguem confundir independência com autonomia:
Se òrìsàs são Yorùbás.
Se o idioma da nossa religião é Yorùbá.
Se pertencemos a famílias yorubanas. Como é que poderíamos ser independentes?
Diante desse equivoco eu proponho a criação de uma nova vertente do nacionalismo, o nacionalismo inteligente.




sábado, 16 de setembro de 2017

ÓDALÈ (Traidor)

ÓDALÈ (Traidor)


Autor: Olúwo Ifagbaiyin

A traição ao logo da história se tornou um crime menor, mas embora a sociedade moderna tenha aprendido a conviver com essa situação esse fato não minimiza a brutalidade do traidor.

Os Yorùbás denominam esse tipo de pessoa como Odale (pessoa falsa, aquele a quem não se deva confiar), esse fato é muito interessante porque as pessoas não trazem escrito em suas faces que serão traidores mas quando estudamos a filosofia Yorùbá aprendemos que todo ser humano antes de nascer escolhe o seu destino. Sendo assim o traidor escolhe trair mas também escolhe sofrer, sofrer com uma doença ou muitas vezes se tornando uma vítima da traição.

Se não fosse assim também haveria uma outra situação que os Yorùbás definem como elemento claro em sua filosofia, o traído não deve se preocupar com o traidor porque o Òrìsà Èşù se encarrega do ajuste de contas com essas pessoas.

Já os iniciados em Ifá tem além de Èşù a proteção contra os traidores na Ira de Òrúnmìlá (Ajagunmale)

Òrúnmìlá odeia a traição e cobra de seus iniciados a busca pelo aprimoramento do caráter, essa busca caracteriza a razão da iniciação e durante o Itefá são feitos alguns juramentos que jamais devem ser esquecidos.

Para os iniciados em Ifá o pesadelo de trair é a convivência com a dor da insatisfação e a insegurança com o sagrado.

A sociedade Ogboni tem como pilar central da relação entre seus membros o repudio aos traidores e trata essas pessoas como elementos inferiores, pessoas desprezíveis.

O destino dessas pessoas é observado pelo òrìsà Edan representante de Ile (Mãe terra) na relação interpessoal com severidade.

Não é difícil imaginar o destino de um traidor na religião tradicional Yorùbá se ele encontra em seu destino a oposição de Èşù, Òrúnmìlá e Edan.






sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Dor nas costas e a pomba gira do Crivella

Dor nas costas e a pomba gira do Crivella


Autor: Olúwo Ifagbaiyin Agboola

Nos últimos seis anos com o projeto Ifá é para todos viajamos mais de trezentos e vinte três mil quilômetros, essas viagens de automóvel divulgando Ifá me obrigam a dirigir por muitas horas, a consequência disso é uma dor nas costas que terminou sendo uma companheira desagradável em meus deslocamentos.

Por essa razão, necessitei consultar um médico ortopedista, fiquei surpreso com o valor cobrado por esses profissionais, em média uma consulta pode chegar a quatrocentos reais.

Diante dessa situação imaginei qual seria a reação das pessoas se um Bàbáláwo cobrasse esse valor por uma consulta á Ifá.

Comparando a formação nas duas atividades o tempo de estudos o Bàbáláwo deve estudar muito mais em bora de um modo geral as exigências sejam bem parecidas.

 Para formar um bom médico e um bom sacerdote de Òrúnmìlá praticamente tem o mesmo custo financeiro.

Um bom médico estuda em bons livros que muitas vezes necessitam ser traduzido da mesma maneira que um estudante de Ifá fora da Nigéria.

As exigências são praticamente as mesmas mas a sociedade trata essas duas pessoas de forma diferente.

Porque?

É evidente que é preconceito!

Lendo um texto do Dr. Hédio Silva entendi o aspectos jurídicos dessa questão e fui motivado a fazer essa abordagem.

Diz em seu texto o brilhante advogado:

 Organização das Nações Unidas (ONU) prevê que toda confissão religiosa tem o direito de selecionar, eleger e nomear seus sacerdotes de acordo com seus dogmas e tradições.
Na Constituição Federal encontramos duas regras importantíssimas:

1. é livre a organização religiosa, a liturgia, o culto e a crença;

2. é livre o exercício de qualquer ofício, trabalho ou profissão, ha­vendo casos em que a lei exige certos requisitos.

Qual a diferença entre ofício, traba­lho e profissão?

• ofício é uma ocupação permanente (intelectual ou manual) que geralmente não exige formação técnica ou escolaridade.

O conhecimento em que se baseia o ofício pode ser especí­fico de um determinado grupo ou segmento.

Por vezes ele resulta de um dom, um pendor natural; por isso a lei não estabelece nenhuma exigência para o seu exercício;

• profissão indica uma atividade ou ocupação técnica, exigindo, em muitos casos, escolaridade, treinamento e habilitação técnica;

• trabalho é todo esforço físico ou mental (intelectual) remunerado, dirigido a uma finalidade econômica.

Vemos assim que sacerdócio não é profissão, tampouco trabalho.

Não é profissão porque em muitos casos tem muito mais a ver com dons naturais do que com técnicas.

Não é trabalho primeiro porque não se dirige a uma finalidade econômica – e sim espiritual; segundo porque não pode ser remunerado: sacerdote não recebe salário, não é empregado.
 Mas pode ter sua subsistência mantida pela organização religiosa.

Há vários casos em que pastores e padres foram ao Poder Judiciário reivindicar vínculo de emprego com igrejas: em todos eles os tribunais concluíram que o ministério religioso é ofício e não trabalho ou profissão.

Isto quer dizer que a organização religiosa pode e deve garantir o sustento do sacerdote/sacerdotisa – o que é diferente de remuneração, de salário.

Há um outro aspecto que merece atenção: para tornar-se Advogado, além de concluir a faculdade de Direito, o indivíduo precisa ser aprovado em um exame organizado pela OAB – Ordem dos Advogados do Brasil.

Seria possível a exigência de um exame de seleção para que alguém seja considerado Sacerdote ou Sacerdotisa de qualquer religião?

A resposta é não, definitivamente não! Cada Religião tem o direito de decidir sobre a escolha, preparação e indicação dos seus sacerdotes. A Constituição brasileira proíbe o Estado de impor qualquer exigência, inclusive escolaridade, para que alguém seja considerado Ministro Religioso.

O Brasil não possui religião oficial (estado laico), de modo que todas as religiões são iguais perante a lei. Do ponto de vista jurídico, um Rabino é ministro religioso tanto quanto um Sheik, uma Ìyálóòrìşà, um Dirigente Umbandista, um Pastor ou um Padre.

Como fazer, então, para que alguém seja considerado legalmente Ministro Religioso (termo utilizado pela legislação)?

A resposta está na “Declaração para a Eliminação de Todas as Formas de Intolerância e de Discriminação Baseada em Religião ou Crença”, adotada pela ONU em 1982.

O art. 6º desta norma internacional determina que toda Religião tem o direito de “treinar, apontar, eleger ou designar por sucessão líderes apropriados de acordo com as exigências e padrões de cada religião ou crença”.

Na prática isto significa que:

• O estatuto da organização religiosa deve prever que aquela comunidade, além dos dirigentes civis (Presidente, Tesoureiro, etc.) possui um(a) dirigente espiritual, que a lei chama de autoridade ou ministro religioso;

• A indicação, nomeação ou eleição do(a) Ministro(a) Religioso(a) deve constar em ata, do mesmo modo como se faz com os dirigentes civis.

Não importa a forma pela qual cada comunidade indica o(a) Ministro(a) Religioso(a). O importante é que seja feita uma ata da nomeação/indicação e posse.

Uma vez que estatuto e ata estejam registrados em cartório, aquele(a) dirigente espiritual passa a ser considerado legalmente Ministro Religioso. E mais: nenhuma pessoa, seja funcionário público, Juiz, Prefeito, Governador ou Presidente da República poderá dizer que aquela pessoa não é um Ministro(a) Religioso(a). Caso isso acontecesse, estaríamos diante de um crime, a discriminação religiosa, com pena de prisão que varia de 3 a 5 anos.

Esta é mais uma razão para que os Sacerdotes e Sacerdotisas se preocupem com a parte legal, a regularização dos templos e do próprio sacerdócio.

A reflexão que deixo para os(as) leitores(as) é a seguinte: aprendi logo cedo, nas Minas Gerais, que quanto maior a liberdade maior deve ser a responsabilidade. Como é grande a liberdade de crença em nosso país, igualmente grande deve ser a seriedade, integridade e responsabilidade dos nosso sacerdotes.

Imaginem então esse fato que obriga nossos sacerdotes a dizerem que não são profissionais, implicando muitas vezes em situações vexatórias considerando a não justificativa de renda em uma sociedade capitalista entre outras que situações que denigrem a imagem de nossos sacerdotes.

Nessa hipótese Bàbáláwos e Bàbálóòrìşà quando abordados na rua por uma autoridade Policial, devem mentir ou omitir a sua ocupação?

Como solução ao problema os evangélicos estão tentando aprovar a lei que reconhece a profissão de teólogo, e mais uma vez saíram na nossa frente.

O conhecido marginal pastor Marcelo Crivella foi o autor de um desses projetos,
Embora já existisse outros projetos com a mesma proposta.

Como podemos ver a á regulamentação da profissão de teólogo é uma das peças do quebra cabeças constituído por um conjunto amplo de ações contra o povo de òrìşà.

As invasões, as casas de òrìşà no estado do Rio de Janeiro, fazem parte de um complexo plano contra nós.

 Um emaranhado de leis aprovadas na calada da noite incluindo os ajustes que foram feitos no passado ao estatuto da criança e da juventude com a finalidade de afastar as crianças das casas de òrìşà, nos deixa claro o projeto de poder dos evangélicos.

Imaginem em um futuro não muito distante os pastores sendo considerados profissionais religiosos e os Bàbáláwos e Bàbálóòrìşà sendo casados como foras da lei.

 Isso é só o começo!

Ainda vamos ter muita dor nas costas e muita dor de cabeça.









quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Ifá no Brasil (3º parte)

Ifá Brasil


(3º parte)

Autor: Olúwo Ifagbaiyin Agboola

Nessa terceira parte do texto vamos abordar o impacto das atitudes negativas de alguns iniciados no Ifá, yorubanos e de outros nigerianos que não são iniciados e que da mesma forma cometem crimes contra a nossa religião e os nossos antepassados.

Enquanto meia dúzia de bons Bàbáláwos iniciaram algumas centenas de pessoas no Ifá, dezenas de marginais corruptos usando a rede social acessam milhões de vítimas criando assim uma imagem terrível para a nossa religião.

O interesse pelo dinheiro e o espirito corrupto que envolve a grande parte dos nigerianos que por aqui chegaram terminaram prejudicando a imagem do Ifá com raras exceções.

A verdade é que pouco foi oferecido e muito foi extraído de um povo que ansiava por informação sobre a sua fé.

A transferência de informação deveria ter acontecido progressivamente para que em um futuro o Brasil tivesse seus próprios Bàbáláwos.

Ao contrário as informações trazidas para o Brasil sobre o Ifá nos últimos anos na grande maioria das vezes foram divulgadas por pessoas que visavam exclusivamente obter dinheiro se dizendo Bàbáláwo. Eles não trouxeram informações que possam acrescer ao conhecimento aqui deixado pelos escravos que chegaram no passado. O conhecimento que foi passado é muito pequeno e em alguns casos obriga aqueles que de fato querem aprender Ifá a se submeterem a extorsão e a exploração financeira se tornando vítimas do comercio do sagrado.

 Nesse mesmo período a crise mundial e a crescente falta de recursos na Nigéria impulsionaram a venda de títulos, segredos foram violados e acessos foram permitidos.

O lamentável é que para impulsar o comercio, os nomes de antepassados ilustres tenham sido usado caracterizando o desrespeito pela religião tradicional fundamentada na relação familiar.

Infelizmente esses fatos acontecem dando espaço á duvidas e na atualidade encontrar um Bàbáláwo yoruba que conheça a palavra ética ficou quase impossível.

O comportamento dos supostos sacerdotes não afetou somente as vítimas em outros países, os jovens nigerianos que observam esses senhores devem ter vergonha dos exemplos dados por eles, e isso certamente terá implicações afastando os da religião tradicional.

Se considerarmos os diversos fatores que implicam na falta de interesse dos jovens Yorùbás pela religião de òrìşà, a conduta escusa exposta na rede social de alguns Bàbálóòrìşà e Bàbáláwos nigerianos certamente influenciam as decisões criando um impacto negativo.

Independente da discussão que está acontecendo no território Yorùbá sobre a falta de interesse dos jovens pelo Ifá, no Brasil o Ifá está se desenvolvendo rapidamente e a cada dia se multiplica o número de iniciados de todas as idades. Porém independente da nacionalidade os alguns jovens estão interessados em atividades que proporcionem um retorno financeiro rápido. E o longo período de estudos necessário para a formação de bons sacerdotes afasta os jovens que buscam resultados imediatos em uma sociedade capitalista.

Por outro lado o debate deve ser estabelecido entorno da realidade racista de alguns sacerdotes tradicionais yorubanos que não se envergonham de suas posturas preconceituosas.

Os fatos não podem ser omitidos, algumas pessoas em nosso país desprezam os Bàbáláwos brasileiros por considerar que os sacerdotes de Ifá da Nigéria são superiores.

Por outro lado os nigerianos não veem com bons olhos o avanço do Ifá no Brasil porque o número de jovens Yorùbás interessados em Ifá está sendo bastante reduzido em seus país.

Acredito que essa pressão bilateral vai estimular os Bàbáláwos brasileiros a cada vez mais se dedicarem aos estudos da Religião tradicional Yorùbá.

Graças a Olódùmarè, pessoas honradas como Alafin de Oyo estão combatendo esses a comercialização de títulos que prejudicam a religião tradicional.

Em breve muitos yorubanos vão saber a verdade sobre as viagens de seus compatriotas ao exterior que disfarçam a sua postura corrupta com as vestes da impunidade.

Graças a Olódùmarè nem tudo está perdido, somente uma minoria dos brasileiros e dos Yorùbás são corruptos.

O que alguns constroem com tanto carinho com suas mãos outros destroem com seus pés, não se pode ocultar que existe uma minoria de Bàbálóòrìşà e Bàbáláwos Yorùbás radicais que acreditam que somente eles podem ter acesso ao saber de Ifá.

Essa atitude de uma minoria caracteriza o crime de racismo e nos faz refletir sobre a seguinte questão (o nosso dinheiro é bom, mas o nosso saber é inferior).

Aproveitando a data de hoje que comemora a independência do Brasil gostaria de convidar os iniciados em Ifá brasileiros e Yorùbás para analisarem a seguinte questão:

Porque algumas famílias que praticam o Ifá tradicional Yorùbá que já estão fazendo um trabalho de divulgação do Ifá no Brasil á mais de trinta anos ainda não deram autonomia para seus Bàbáláwos fazerem itefá no Brasil?

Será que os iniciados brasileiros não tem capacidade para desenvolver essa atividade?
Será que em quase quarenta anos nessas famílias não surgiu um brasileiro que possa ser um bom Bàbáláwo?

Será que se houvesse a preocupação de formar bons sacerdotes da religião tradicional por parte dessas famílias Bàbáláwos tão capacitados como os Bàbáláwos nigerianos não existiriam no Brasil?

Felizmente para a sorte dos brasileiros não são todas as famílias que adotam essas práticas.

Alguns Bàbáláwos Yorubanos tiveram a preocupação de iniciar e treinar Bàbáláwos brasileiros e esse processo aos poucos está contribuindo para o reconhecimento do Ifá nacional. Os brasileiros não pretendem ser independentes, mas sim querem disfrutar de uma autonomia que de tal forma permita que em todas as famílias haja a permissão de fazer iniciações no território nacional, pois só assim o Ifá no Brasil alcançara a sua verdadeira missão.

Nos resta rezar a Òrúnmìlá para que esses senhores que aportam em nosso país vindo do território Yorùbá tenham uma crise de consciência que os conduza a uma reflexão da responsabilidade daqueles que acessaram o saber.


A verdade é que pela vontade de Olódùmarè, vários òrìsàs foram trazidos para o Brasil entre eles Òrúnmìlá. 

















quarta-feira, 6 de setembro de 2017

O Ifá no Brasil (2º parte)

O Ifá no Brasil






(2º parte)

Autor: Olúwo Ifagbaiyin Agboola

Nessa segunda parte da reflexão o foco principal não é o brilhante trabalho de um seleto grupo de Bàbáláwos que visitaram o Brasil nos últimos anos.

Esse trabalho tenta mostrar como forma de alerta a influência negativa de supostos sacerdotes nigerianos na imagem do Ifá no Brasil e no mundo.

Nos surpreende a falta de fiscalização do governo nigeriano e do conselho mundial de Ifá sobre os fatos que vem acontecendo envolvendo Bàbáláwos yorubanos e o comercio de assentamentos de òrìsàs.

Deve haver uma forma do conselho mundial trabalhar junto as autoridades daquele pais para que providencias sejam tomadas considerando o prejuízo ao patrimônio da humanidade.

Se as autoridades nigerianas não tomarem uma atitude a Unesco deve ser responsabilizada, pois após a proclamação no ano de 2006 que o Ifá faz parte do patrimônio da humanidade a preservação do mesmo deve ser uma prioridade.

Os marginais que comercializam o sagrado recebem por seus trabalhos através do Wester Union o que pode auxiliar na identificação dos responsáveis pelos delitos.

 Eles não escondem suas atividades na rede social, o crime não é só contra o patrimônio da humanidade, mas também é contra o patrimônio histórico considerando que inclusive obras de arte estão sendo contrabandeadas por essas pessoas.

Embora um estudo da ONU identifique a Nigéria como sendo o país mais corrupto do mundo, isso não justifica esse tipo de comportamento por se tratar de pessoas que tem uma certa ligação com a religião tradicional.

 Eu não sei como é feito esse estudo sobre a corrupção, mas o Brasil não deve estar muito longe da colocação da Nigéria no ranking.

Alguns raciocínios são lógicos e não é difícil identificar que só existe corruptos porque existem corruptores, mas isso não explica a situação.

O que causa surpresa é que homens que deveriam dar exemplos como religiosos são justamente aqueles que comercializam o conhecimento sagrado de seus antepassados.

 Infelizmente o número de sacerdotes de Ifá confiáveis que chegou ao Brasil é bastante reduzido e a predominância do aspecto negativo amplamente divulgado pela influência nigeriana na divulgação do ifá no novo mundo é amplificada pela tecnologia e as redes sociais.


terça-feira, 5 de setembro de 2017

O Ifá no Brasil









(1º parte)

Autor: Oluwo Ifagbaiyin Agboola
Os feitos de nossos antepassados que de uma forma ou de outra contribuíram para a manutenção do culto ao òrìşà em nosso país já foram abordados por vários escritores e pesquisadores com uma riqueza de detalhes irretocável, sendo assim não vamos mencionar esses fatos e essas obras detendo a nossa reflexão as últimas quatro décadas.
Nesse texto o foco principal é a tentativa de mostrar a influência positiva deixada por bons Bàbáláwos, mas também mostrar o prejuízo criado por supostos sacerdotes nigerianos á imagem do Ifá no Brasil.
Em uma abordagem paralela o mesmo trabalho vai abordar a falta de interesse de jovens Yorùbás pela religião tradicional.
A quase total exclusão de relatos da presença de Bàbáláwos atuantes na religião dos òrìsàs no Brasil se deve à acordos mantidos pelos traficantes de escravos que temiam a liderança dos sacerdotes de Òrúnmìlá.
Os Bàbáláwos poderiam influenciar os negros cativos, em um levante contra a tripulação das embarcações dos comerciantes que mantinham um grupo bastante reduzido e com poucas armas para a sua defesa.
Sem a preocupação de identificar a origem do Ifá nacional citaremos o trabalho de quatro grandes Bàbáláwos que contribuíram para a divulgação da Religião tradicional em terras brasileiras, não esquecendo que no passado grandes sacerdotes de Ifá vieram para o nosso país.
Fazer um abordagem histórica em um texto bastante reduzido nos obriga a apontar destaques correndo o risco de muitas vezes deixar para trás personagens que poderiam enriquecer a narrativa, sem querer desprezar outras informações registradas por iniciados de outras famílias e considerando a descendência como fruto do trabalho dos citados, apontaremos quatro pessoas que se destacaram com o Ifá tradicional no território brasileiro.
1- Àràbà Ifayemi Elebuibon
Trabalhos excepcionais como o do Àràbà Ifayemi Elebuibon divulgando Ifá deram início a construção de uma nova visão despertando os adeptos do culto à òrìsà para uma outra realidade no Brasil.
Em 1977 Ifayemi Elebuibon juntamente com o Bàbálóòrìşà Jose Mendes iniciaram a divulgação do culto a Òrúnmìlá.
O trabalho do Àràbà Elebuibon teve continuidade durante esses quarentas anos com uma série de viagens do sacerdote ao nosso país. Embora os rituais de itefa tenham sido desenvolvidos no território nacional por essa família á pouco tempo o fato não desmerece a enorme contribuição no processo de divulgação do Ifá no novo mundo.
2- Bàbáláwo Fabunmi Sowunmi
Depois do Trabalho Inicial do Àràbà Elebuibon em 1988 o professor Siriku Salami trouxe ao Brasil o sempre lembrado Bàbáláwo Fabunmi Sówùnmí que realizou o primeiro itefa desta família em 1989.
Este trabalho teve continuidade até o ano de 2003, nesse período conforme relatos do professor King em sua tese de doutorado, Bàbá Fubunmi em quinze anos fez 250 iniciações no Centro Cultural Oduwuwa incluindo brasileiros e alguns espanhóis.
Essa contribuição tem um valor inestimável para o desenvolvimento do Ifá no Brasil, embora nesse período não tenha sido iniciado nenhum Bàbáláwo nessa família em nosso país.
Depois disso esse trabalho continuou com seu sobrinho Bàbáláwo Awodiran Sówùnmí.
3- Àràbà Agbaye Aworeni
As visitas do Àràbà Agbaye Aworeni ao Brasil também contribuíram para a divulgação do Ifá, embora o fato dessas as visitas tenham sido minimizadas pelo desconhecimento da importância desse velho sacerdote no cenário internacional.
O Àràbà Agbaye com suas viagens á vários países incluindo o Brasil faz parte de um processo que foi iniciado pelo Àràbà Akano Fasina Agboola em 1935.
As viagens desses grandes sacerdotes de Ifá deram início a um processo que legitima a herança do culto á òrìşà fora da Nigéria.
A divulgação da importância do culto á Òrúnmìlá e da necessidade do sincronismos entre os Bàbáláwos e Bàbálóòrìşà descortina uma página da história de nossa religião que foi mantida oculta de grande parte dos iniciados na religião dos òrìsàs.
4- Olúwo Oyeniyi Awolola Agboola
No final da década de noventa dando continuidade ao trabalho do seu pai o Olúwo Oyeniyi Agboola começou fazer uma série de iniciações divulgando Ifá fora do território Yorùbá dividindo sua atenção entre o Brasil e os Estados Unidos e a cidade de Lagos na Nigéria. O Olúwo Oyeniyi segue com o mesmo método de trabalho até os dias de hoje mantendo duas frentes de trabalho uma no Brasil e outra nos Estados Unidos.
Esses trabalhos citados no texto acima fortaleceram um legado que dignificam o desenvolvimento do Ifá em nosso país tendo como base as famílias Aworeni, Agboola, Elebuibon e Sówùnmí.
Como aclaramos anteriormente esse texto aborda uma fração diminuta porem relevante diante do contexto histórico abrangente que muitas vezes é injusto por não ter como mencionar o nome de tantos desconhecidos que desapareceram vítimas da falta de cultura de um povo que infelizmente não documenta os feitos e os fatos do cotidiano religioso.
Os exemplos acima citados retratam sacerdotes do culto a Òrúnmìlá sérios que dedicam suas vidas a divulgação da verdadeira religião Tradicional Yorùbá no Brasil.
Esse trabalho desenvolvido ao longo dos últimos quarenta anos para a divulgação do Ifá foi feito inicialmente no estado de São Paulo e hoje pode ser notado em todo o país.
A iniciativa desses homens somada a herança histórica e o valoroso trabalho de nossos antepassados para a conservação do culto a òrìşà fora da Nigéria popularizaram o Ifá e tornaram o Brasil o país que mais inicia Bàbáláwos fora do território Yorùbá.
Esse grande número de pessoas interessadas por Ifá no Brasil vem criando aspectos negativos para o desenvolvimento de um trabalho sério na atualidade.
O crescente número de ocorrências envolvendo supostos sacerdotes de Ifá que comercializam informações obtidas no território em troca por depósitos feitos no Western Union indica claramente que a corrupção está misturando as relações entre o interesses financeiros e a religião.

  Oito bilhões de Deuses    Imaginem oito bilhões de deuses em um conflito incessante. Pensar nessa possibilidade nos remete a uma ideia de ...