Iniciação o milagre da vida, Ifá e orixa.
Autor: Babalawo Ifagbaiyin.
Ao longo da história da humanidade o homem vem desenvolvendo
uma série de atividades, criando assim uma maior condição de sobrevivência, e
desenvolvendo uma capacidade de adaptação aonde o principio básico é a
manutenção da vida.
Essa condição (natural) é sentida desde o primeiro momento
após o nascimento quando instintivamente buscamos alimento no seio da mãe.
O desenvolvimento de armas e elementos facilitadores como
máquinas e implementos contribuíram para um menor desgaste físico, mas
paralelamente a isso houve um desenvolvimento mental habilitando esse mesmo
elemento a viver com suas dúvidas e decepções.
Nesse período a crença em uma força superior auxiliou muito
na manutenção da esperança e na compreensão das perdas assim como, estimulou a
capacitação moral e ética.
Com o surgimento dos rituais de iniciação essa capacidade
passou a ser aprimorada em território Yoruba.
As pessoas que são iniciadas para determinados Òrìșàs seguem
uma orientação de Ifá baseada em um principio da complementação.
Quando um sacerdote de Ifá é iniciado cumpre uma série de
rituais e cultua os Òrìșàs indicados nos odus relativos à sua iniciação, já no
caso da pessoa não iniciada em Ifá o processo pode seguir uma orientação um
pouco diferente.
A pessoa nascida gêmea já trás abundância e a alegria em seu
nascimento; sua vida vai ser de fartura naturalmente, e sua forma alegre de ver
as coisas com um pouco de infantilidade jamais vai deixar de existir.
Considerando esse fato pode ser que Ifá oriente a mesma a ser iniciada em um Òrìsà
que tenha um senso prático mais apurado, facilitando assim a vida da pessoa,
trazendo para ela uma capacidade que em muitas vezes é deficiente no dia a dia
da mesma.
É verdade que estamos aqui examinando uma iniciação, e não
uma feitura; então falamos de necessidades apontadas para complemento, suprindo
assim uma deficiência que só não é encontrada em Olodumare.
Então se uma pessoa feita para Osun com uma capacidade
enorme de amar, em algum momento de sua vida vier a ter um problema em sua vida
afetiva, não vai ser considerado o fato de ela amar demais e sim o fato de
amar a pessoa errada, sendo assim lhe falta discernimento na hora de eleger o
parceiro.
Nesse caso poderá ser indicada a iniciação ao Òrìșa Ọbàtálá,
criando assim uma forma de pensar e agir mais equilibrada na vida sentimental
dessa pessoa, se isso não for feito seguirá por toda vida se unindo a pessoa
errada trazendo assim uma decepção em sua vida afetiva, gerando uma forma de
agir involuntária aonde a mesma termina desenvolvendo um comportamento em
desalinho com seu destino.
A pessoa com tal problema poderá se unir por interesse,
considerando que houveram inúmeras decepções, ou até mesmo desenvolver um
comportamento narcisista e individualista gerado pelo medo de amar a pessoa para
de se doar, e assume um comportamento egoísta.
Esse tipo de situação pode ser resolvido com uma iniciação
ou com outras formas de tratamento, sempre seguindo a orientação de Ifá, é bem
verdade que iniciar uma pessoa não feita não é comum, mas é aceitável; muitas
vezes a necessidade de uma iniciação antecede a feitura e em muitos casos
substitui.
Vejamos então outro exemplo, uma pessoa nascida com
problemas de saúde, por orientação de Ifá poderá ser iniciada no culto de
vários Òrìșàs; mas o ideal é que primeiramente seja iniciada em Soponnan ou até
mesmo em Olókun, Òrìșàs mais diretamente ligados a essas questões, trazendo
assim uma melhor qualidade de vida a essa pessoa que poderá ser feita ou não em
um futuro. A diferença entre a feitura que exalta as qualidades já existentes
no momento do nascimento, e a iniciação que justifica a reposição do que falta
em nossa essência é muito forte: feitura e iniciação se diferem e as mesmas só
podem ser indicadas por Ifá.
Assim como a iniciação, deixamos bem claro que a orientação
pode ser um ebó, ou algum outro tipo de tratamento, e até mesmo uma feitura em
caso extremo.
Voltando as iniciações, no caso de algumas pessoas feitas
para Ògún poderá ser indicado iniciação em Yèmojà. O filho de Ògún com toda sua
vitalidade para o trabalho e os esportes, com sua valentia e coragem muitas
vezes sem perceber se afasta um pouco da família e a iniciação em Yèmojà o
ajudará nesse relacionamento com filhos e parentes.
Pode acontecer também que essa mesma pessoa feita de Ògún com
toda essa vitalidade necessite da iniciação em Ọbàtálá para que tenha mais
calma e enfrente os obstáculos com menos desgaste.
Quando analisamos o milagre da iniciação, depois de algum
tempo comparando o comportamento do iniciado, fica claro a mudança; a
influência do Òrìșa iniciado na vida da pessoa mesmo que ela já seja feita há
muito tempo ou que ainda não tenha seu Òrìșà pessoal, é visível e fica
evidenciada em seu comportamento.
A iniciação realmente pode ser descrita como um milagre
quando bem feita seguindo as indicações corretas.
Poderia descrever aqui os efeitos das mais diversas
iniciações no dia a dia do indivíduo, mas não devemos esquecer que em
território Yoruba o número de Òrìșàs assentado para uma pessoa que não vai ser
um sacerdote é muito reduzido e não raramente excede a três ou quatro, também
pode acontecer que a necessidade de culto a um Òrìșà familiar ou antepassado
seja indicada por Ifá, ou que a pessoa jamais seja iniciada ou feita.
A iniciação aqui em nosso país passou a ser tratada como um
complemento necessário e não como uma solução indicada; quando nascemos somos
imperfeitos e assim seremos por toda a vida, o milagre da iniciação só vai
amenizar os efeitos de tais imperfeições.
É muito comum ver pessoas feitas para Òrìșàs, mas que na
verdade deveria ser iniciada, criando assim inúmeras dificuldades, essa
confusão entre iniciação e feitura limita as realizações pessoais e o não
cumprimento do destino, implica em sofrimento e desgosto, esse problema se
torna cada dia mais comum por falta de conhecimento dos sacerdotes.