sexta-feira, 10 de setembro de 2021

 

Oito bilhões de Deuses   




Imaginem oito bilhões de deuses em um conflito incessante. Pensar nessa possibilidade nos remete a uma ideia de caos,  essa é a realidade que nós vivemos. Existe uma parte de Deus dentro de cada um dos sete bilhões oitocentos e setenta e quatro milhões de habitantes do planeta. 

O problema é conseguir fazer com que cada uma dessas pessoas entenda que ela é divina. Todos somos Deuses que poderíamos realizar os nossos próprios desejos. A divindade presente dentro de cada um de nós é muito mais palpável que o criador do universo, porque ela é de fácil percepção a partir da informação. 

Já Deus  não é sentido somente por percepção,  ele é percebido a partir de dois elementos,  a percepção e a fé. Quando você identifica no seu interior o poder divino e você acredita nele tudo acontece exatamente da maneira que você previamente enxergou na sua imaginação. A mente treinada para acreditar na fé é divina e transformadora. 

Realizar  é possível desde o momento que você reconhece o seu Deus interior e acredita nele. 
O poder de realização independente de religião, ele se mantém com o amparo na crença e a fé e  pode transformar a pessoa em sua própria  religião. A capacidade alimentada pela  fé é um ato de afirmação e construção de um estímulo positivo que parte da formação da crença em sua própria capacidade. 

A sabedoria popular afirma que querer é poder e a história descreve os grandes lideres como pessoas que tinham uma capacidade enorme de convencimento. Convencer as outras pessoas é muito fácil quando você já foi convencido por você mesmo.

A meta mesmo no momento da construção em sua mente já é imaginada como realidade. Sendo assim o projeto já nasce construído na crença que é possível. Isso é uma prova que temos quase oito bilhões de Deuses. 

Deuses que na sua grande maioria com o tempo ficaram cegos ou surdos, Deuses que perderam a percepção e a fé. 

Desperte o seu Ori para que ele entenda que você é um Deus. Não diga que Deus lhe abençoe, o seu ori em alinhamento com a sua fé é Deus, o Deus que habita em nós. 


Oluwo Ifagbaiyin Awolola Agboola.

quinta-feira, 6 de maio de 2021

 

Menos ouro e mais bronze




O ideal seria menos Richelieu e mais atitudes.

Menos brilho e mais verdade.

Como seria positivo mais caráter e nenhuma coreografia ensaiada.

Se houvesse mais conexão com o passado não seria necessário tanta tecnologia na religiosidade do presente.

Menos ouro e mais bronze.

Menos plástico e mais folhas.

Mais cabaça e menos louça.

A visão da alma ao contrário da miopia da aparência.

Está na hora dos Orisas abrirem os olhos e deixarem de ser conduzidos.

O Orisa que deve apontar a direção.

As filmadora devem ser desligadas e as pessoas devem se ligar a espiritualidade, se ligar a pessoas honestas e dignas de falar em nome do Orisa.

A imoralidade deve ser retirada das entre linhas e posta com um olhar afiado que corta a própria carne apodrecida.

Chegou a hora da transformação que nos leva ao ponto de partida.

Temos a necessidade de olhar e ver a verdade e não aquilo que está sendo programado para ser mostrado.

O Richelieu por ser vazado permite que os detalhes sejam vistos.

Muito está sendo mostrado.


Texto: Oluwo Ifagbaiyin

domingo, 11 de abril de 2021

Curso Filosofia e Teologia - Módulo Iya Mi

 


 Curso de Filosofia e Teologia Yorùbá

 Módulo Òrìṣà Iya Mi


"Para começar a falar sobre um assunto como Ìyá mi, se faz sumamente necessário um esforço coletivo para ascender a um entendimento amplo e profundo, evitando assim, cair em analogias e comparações em desacordo com a teosofia da tradição Yorùbá.
Isso se faz necessário pelo fato de que Ìyá mi, a décadas, vem sendo tratada de forma errônea, tanto por alguns improvisados tradicionais, como por outras expressões de Òrìṣà afro-americanas.
A primeira coisa que temos que abordar é: o quê de fato seria Ìyá mi? Ìyá mi não é outra coisa, que o próprio poder feminino na criação. Tudo o que tenha o poder de criar e manter vida é constituído por Ìyá mi.
Esse nome é o mais popular, entre outros, que faz referência generalizada à interação mais próxima entre o ser humano e esse poder, ou seja, a mulher.
Pois, Ìyá mi quer dizer literalmente minha mãe, portanto, tudo o que fuja da ideia lógica nesse sentido, pode caracterizar um conceito próprio ou uma mistura de ideias teóricas, que não condizem com a realidade cultural e espiritual de Ìyá mi baseado na tradição espiritual Yorùbá.
É de amplo conhecimento que outras culturas antigas tem suas próprias noções sobre conceitos similares. Isso não quer dizer que tudo seja a mesma coisa. Então, para começar, devemos extinguir por completo o termo bruxa para nos referir a Ìyá mi. A bruxa ocidental de origem europeia, como se conhece hoje, não tem nada a ver com Ìyá mi.
O americano tende a conceituar todo o desconhecido ou poderoso como sendo daninho e ruim, por essa razão é que sempre cai em erros filosóficos quando se trata de outras culturas. Isso claro, não é intencional na maioria das vezes, mas não deixa de ser algo para ser corrigido.

Para tentar ter uma dinâmica pedagógica sobre um dos temas mais complexos e polêmicos, decidi separar o presente material em diferentes abordagens, cada uma focando um aspecto que permita ter uma compreensão simples, porém não menos importante, sobre cada assunto que irá ser tratado.
"

Akogun Ifáṣọlá Ajobi Àgboọlà



IYA MI
MITOLOGIA

Ìyá mi tem várias manifestações e iremos desenvolver, ao menos, as que sejam relevantes para um entendimento sobre a cronologia e também, a percepção da complexidade do tema tratado.

Ìyá mi ile ogere afokoyeri

É lógico pensar que a primeira aparição de Ìyá mi no universo antecede ao planeta terra. Isso é mais que evidente pela simples razão que o próprio planeta é considerado um Irúnmọlẹ chamado Ile Ogere Afokoyeri, e este Irúnmọlẹ recebeu a tarefa de servir para a habitabilidade.

Após Ile Ogere se tornar físico, Olódùmarè envio um Irúnmọlẹ que lhe serviria como assistente. Este assistente viveria só na camada superficial do planeta, e seria quem regularia o que a terra recebe e o que a terra dá, sendo este Irúnmọlẹ conhecido como Ota Ole.
Existe uma sociedade secreta dentro da cultura Yorùbá conhecida como Ògbóni, ou Òùgbó em algumas regiões, que são os detentores dos conhecimentos profundos sobre esse aspecto falado anteriormente (Ota Ole).
Pouco pode ser falado abertamente sobre isso, mas posso falar que a mãe terra é um aspecto de Ìyá mi, que dentro da sociedade Ògbóni por sua vez, tem várias categorias  e muitos nomes, como podem ser mencionados: Ìyá Abeni, Ajibola, Mole, Ogboduora, ou simplesmente Ilẹ̀.

Essa é uma parte fundamental para compreender o “abc” da cultura dos Òrìṣà, pois nada pode existir neste mundo sem a aprovação de Ilẹ̀. Sempre representada pela insígnia que é conhecida como dan, representada na foto ao lado, ela representa o equilíbrio no mundo exercido pela própria natureza  através da conduta humana.

Conta um Ìtàn que em uma era muito primitiva, a humanidade começou a destruir tudo no mundo. Alguns dos anciãos  da cidade de Ife Oodaye, foram consultar com Ọ̀rúnmìlà, e o Odu revelado foi Irosun Awoye.  Então, Ọ̀rúnmìlà falou para eles que o mundo corria risco, e que ele deveria ir buscar dan no Ọ̀run porque só ela poderia restabelecer a ordem.

 Sobre isto Ifá fala no Odu Irosun Awoye assim:

Ha¡ mo hee mo won lara
A difa fun Ọ̀rúnmìlà
Baba nlo sode Orun lati npe Mole
Tii yoo tun aiye Olu ife so
Bi eni so igba ti ofo
Won se aye se aye
Aye ko gun
Won fo ile aiye bi eni fogba ebo
Won wa ni ki Ọ̀rúnmìlà
Bawon ke si Mole
Ti won di jo sore soluku lode Orun
Ọ̀rúnmìlà ni ki Olu Ife ebo sakale ni sise
Riru ebo ni gbe ni
Airu ebo ni igbe ni yan
Ifa ni ki won o leku
Ifa ni ki won o leja
Ifa ni ki won o ni eyele
Ifa pase gbogbo nkan etutu
Ko pe ko jinna
E wa ba ni jebutu ire gbogbo
Jebutu ire laa bani lese Ope
 
Tradução:
 Ha¡ mo he emo won lara
Consultou Ifá para Ọ̀rúnmìlà
Quando o pai iria ao povo de Ọ̀run
Para chamar Mole (dan) para a terra
Quem seria capaz de voltar o mundo para a normalidade?
Como que se reparasse uma cabaça quebrada
As pessoas tentaram e tentaram reparar
Mas todo esforço não foi o suficiente
Ọ̀rúnmìlà então foi quem foi ao Ọ̀run
Para chamar a Mole (dan)
Para ajudar a acertar o dano que existia na terra
Ọ̀rúnmìlà foi chamar dan
Porque ela era sua amiga no Ọ̀run
Ọ̀rúnmìlà pediu para o povo de Ife oferecer Ẹbọ
Só o Ẹbọ pode salvar
Não fazer Ẹbọ só prejudica
Eles fizeram Ẹbọ com ratos
Eles fizeram Ẹbọ com peixes
Eles fizeram Ẹbọ com pombos
Eles apaziguaram com muitas coisas
Não muito depois
Venham ver todas as bênçãos
As bênçãos que vem aos pés da palmeira (Ifá)

Depois que as pessoas seguiram a indicação de Ọ̀rúnmìlà, ele trouxe dan para a cidade, ela compreendeu o que acontecia, e fez com que todos fizessem juramento para que as pessoas voltassem a ter boa conduta, dignidade, e honestidade, e avisou que quem quebrasse o pacto deveria morrer. Assim que tudo recobrou a ordem, dan voltou para Ọ̀run deixando sua representação na terra num grupo de pessoas que vigiariam seu trabalho e guardaria seus mistérios, foi ali que nasceu a sociedade Ògbóni.

Ìyá mi Odulogboje

A história de como Ìyá mi Odu veio ao mundo pode ser encontrada no Odu Ifá Osa Eleye, entre outros. Nesse Odu Ifá conta a história de como Olódùmarè enviou a primeira energia feminina após a terra ser criada. 
Ela vinha junto a outros Irúnmọlẹ que tinham uma tarefa determinada, entretanto, nenhuma instrução foi dada para ela. Ela, aborrecida no mundo físico, um dia voltou para Ikole Ọ̀run e reclamou para Olódùmarè que ela não era útil no lugar que ele a tinha enviado.
Olódùmarè então falou que ela deveria voltar, e lhe deu sua própria autoridade representada em um pássaro,  com a finalidade de dar sustentação à criação até o momento e posteriormente também.
O mesmo Ìtàn, conta literalmente como Olódùmarè deu o poder do pássaro para ela, e delegou sua autoridade de fiscalização sobre o planeta e sobre os demais Irúnmọlẹ. Ele continuou, dizendo que ela, chamada de Odu, deveria ser chamada de mãe por todos, até mesmo pelos demais Irúnmọlẹ. Ela disse para Olódùmarè que ela usaria seu poder para cuidar da criação, que castigaria severamente quem não tivesse respeito para com ela, mas seria muito clemente com quem mostrasse boa conduta e devoção. Nesse mesmo Ìtàn é que nasce o termo genérico Ìyá mi (Minha mãe).
Falar de Ìyá Odu, é com certeza algo delicado e sempre irá ficar reduzido publicamente, contudo, mesmo assim tentarei passar algumas ideias.
Odulogboje é o poder ancestral feminino mais primogênito, como vimos anteriormente ela detém o poder da criação. Para compreendermos este conceito devemos saber que a criação não é algo fixo, e sim algo cíclico que começou algum dia mais não terminou e não terminará. Portanto, é Odu quem mantêm esse continuo sistema sem fim, como sendo o grão útero universal que vai concebendo cada coisa planejada para se criar.
Olódùmarè considerou que esse poder só poderia ser entendido e  contido pelo Irúnmọlẹ do conhecimento, deste modo enviou  Odulogboje para se casar com Ọ̀rúnmìlà. É por essa razão que seu culto só pertence ao culto de Ifá, e seu mistério é zelosamente guardado por seus sacerdotes, chamados Bàbáláwo, os quais são considerados como sendo os filhos de Odulogboje.

Ela é descrita nos Ìtàn como sendo uma anciã muito poderosa, misteriosa e ciumenta que um dia após ser vista por uma das outras mulheres de Ọ̀rúnmìlà, se sentiu ofendida e decidiu voltar para Ọ̀run, deixando seu ícone físico para que seus filhos pudessem venerá-la.

Esse símbolo é a famosa Igba Odu (Cabaça de Odu), e é considerado o principal segredo dentro do culto de Ifá, pois se acredita que é dela que vem o poder dos Odu Ifá para se manifestar na terra. Portanto, Ifá se sustenta através de seu culto.
 Ifá fala sobre isso no Odu Ofun Meji:

Odundun a b’ewe pelembepelembe
Teteregun abiyongbondorigi gbondorigi
E ba w’eti adete
E wo odundun
Deedeogbogba ni won se
A difa fun Ọ̀rúnmìlà
Baba nlo ree fe Oro modimodi
Tii somo Oluwo sakoorogbale
Ebo ni won ko waa se
O gbebo o rubo
Nje: Oro o ba o pin’ hunfun’ku
Oro o ba o pin’hunf’arun
Oro ba o pin’hunkilegbonnajanjan
Oro ni looto lo o ba mi pin’hunfun’ku
Ooto lo o ba mi pin’hunf’arun
Amo sa o ba mi pin’hun fun kagbe’na wo ni o
 
Tradução:
As folhas de Odundun são grossas ao tocá-las
O teteregun é grande e alto em sua aparência
Se olhar as folhas de Adete
E olhar as folhas de Odundun
Elas se veem exatamente iguais
Foram os que consultaram Ifa para Ọ̀rúnmìlà
Quando bàbá iria a se casar com Oro Modi (Ìyá Odu)
A filha de Oluwo Sakoorogbale
Eles aconselharam fazer Ẹbọ
Ele ouviu e o fez
Ọ̀rúnmìlà começou a dançar, mais logo ele se lamentou
Ele disse:
Oro eu não fiz um pacto com você para morte
Oro eu não fiz um pacto para doença
Eu não pactue para que minha casa fosse queimada
Oro respondeu:
Certo, você não fez pacto para morte
Você não fez pacto para doença
Mais tampouco foi pactuado que uma luz seria usada para me ver

Como foi descrito no verso de acima, Odu não gosta de ser vista por nenhum estranho, e muito menos por outras mulheres. Isso foi o pacto que ela fez com Ọ̀rúnmìlà para poder ir viver na casa dele. Ela pediu um lugar escuro onde só entrariam Ọ̀rúnmìlà e seus filhos.

Ìyá mi Osoronga

Por outro lado, seguindo o raciocínio teológico, Ifá ensina que após o mundo ser criado, para este ser povoado, deveria começar a era da procriação. Entretanto, até esse momento Ọbàtálá só criava pessoas todas iguais. Isto pode ser observado no seguinte Oriki: Òrìṣà ti so enikan d’igba eni” (Aquele Òrìṣà que multiplica uma pessoa em duzentas).
As pessoas criadas por Ọbàtálá até então, não procriavam entre si, assim sendo, para acelerar o processo, Olódùmarè criou com suas próprias mãos um ser diferente, chamado Enibienini (Aquela que concebe pessoas como nós) para que pudesse criar pessoas.
Segundo a história Enibienini chegou no Ayé com a tarefa de ter filhos com Oduduwa, eles teriam tido 16 filhos. Podemos ver isso no Odu Ifa Oyeku nilogbe.
 Sobre isso, o Odu Ifa Oyeku nilogbe fala assim:

Paa l’akisa n gbo
Oodun ogede ni o fa ya
Paara-paara bi aso
A difa fun Olódùmarè
Nijo to n gbe Enibienini bo waye
Ebo ni won ni ko waa se
O gbebo o rubo
To ba k’eni k’ola dede
K’aye Olufe baje
Omoniyorogbo a si t’aye Olufe se

Tradução:

É com facilidade que um pano é rasgado
Trezentas bananas frescas não podem se rasgar em duas partes como um pano
Foram os que consultaram Ifá para Olódùmarè
O dia que ele iria a enviar a Enibienini para o mundo
Eles aconselharam fazer ẹbọ
Ele ouviu e o fez
Agora se algum dia o mundo Olufe (Oduduwa) corre risco

Omoniyorogbo (Olorun) fara intervenção para recompor o mundo de Olufe.

Como pudemos observar, esse verso indica claramente que Olódùmarè enviou a primeira mulher para o mundo, para dar sustentação na sua obra, justamente como quando enviou Odu. Portanto, devemos entender que toda mulher representa o poder sobrenatural que Olorun quis enviar ao mundo para que tudo siga em curso.
Isto indica que não se concebe a ideia de falar sobre Ìyá mi sem se referir à própria mulher, que como foi explicado, é a única criação que Olódùmarè fez para melhorar os erros anteriores.
Já desde esse ponto não podemos deixar de mencionar a ideia antagônica que nossa teologia tem com as religiões abraâmicas, onde a mulher é vista como sinônimo de pecado e muitas vezes como responsável de todo mal no mundo.
Este conceito é conhecido como Ìyá mi Osoronga ou Ìyá Agba, são as mulheres que detém o poder de dar e manter a vida, nossas mães, nossas filhas, nossas avós e toda mulher que foi, é, ou irá a ser fértil.

 São o portal entre o Ọ̀run e Ayé, portanto a figura da mulher tem uma conotação muito sagrada.

 Ifá fala sobre isso no Odu Obara bogbe:

Ewure bele wo abeke peeru
A difa fun Ìyá mi Osoronga
Tii nlo rode Ipokia
Won ni ko rubo lase lenu
O gbebo o rubo
Nje: ta lo da wa taa fi sawo
Ìyá mi Osoronga lo da wa taa fi sawo
E je ikunle f’obinrin
Obinrin lobi wa
Ka wa to deeyan
 
Tradução:
Ewure bele abeke peeru
Foi quem consultou para Ìyá mi Osoronga
Quando iria a terra de Ipokia
Ele aconselhou fazer ẹbọ
Ela obedeceu
Quem nos dá o Osu do Awo
Ìyá mi osoronga foi quem nos deu o Osu do Awo
Você, se ajoelhe frente a mulher
A mulher não deu a vida
Antes de nascer como pessoas

Ìyá mi na liturgia

Por Ìyá mi ser uma energia onipresente, é muito ampla, todavia também é essencial para cada coisa da vida. Assim, a liturgia não fica eximida, pois não é exagero, falar que é impossível cultuar qualquer Òrìṣà sem ter a aceitação de Ìyá mi.

Por tudo que foi falado anteriormente, devemos compreender que Ìyá mi interatua constantemente com o ser humano, mas não podemos esquecer sua principal finalidade que é a ordem e a sustentação da vida. Portanto, a correção de tudo o que não esteja em conforme com isso, é motivo de sanção.
É neste aspecto que nós adentramos no mundo mais rebuscado e incompreendido sobre Ìyá mi. Devemos compreender que Ìyá mi Osoronga, assim como Èsù, tem papeis específicos e funcionais. Diferentemente de outras divindades, eles não velam pela evolução humana.

Eles irão contrariar toda atitude que piore o mundo. É aí que entra o papel dos Ajogun, que são energias encarregadas de reprender o errado. Importante salientar que o errado não são eles e sim a pessoa que não ajusta sua conduta alinhada com o curso estabelecido por Olódùmarè.

Portanto, Ajogun só aparece como consequência de decisões que resultam em ações fora de nossa predestinação. Nesse caso é que se produz o Ibi (má sorte). Toda pessoa que tenha Iwa pele pode ter certeza que a probabilidade de ter algum problema com Ajogun, vai ser bem menor.
Como foi mencionado anteriormente, toda mulher tem o poder de Ìyá mi, e aqui vamos tocar em outro assunto que merece ser desmistificado. A pergunta seria: existe Iniciação para Ìyá mi Osoronga? A resposta é: não.
Não existe iniciação, porque na filosofia de Òrìṣà, uma iniciação é considerada uma implantação de Ase, além de rituais que visam uma passagem do profano ao sagrado, portanto ninguém pode se iniciar em algo que nasce com ele. O que existem são Ìmulẹ, que podem diferir de família a família, ou mesmo existem famílias que não fazem por ter uma visão mais pessimista sobre Osoronga.
Mas o certo é que os Ìmulẹ buscam despertar uma energia dentro da pessoa, porque é necessário para seu progresso e bem estar, tendo a sua disposição a partir daquele momento o uso desta energia.
Quando uma mulher exalta e amadurece esse Ase, é conhecida como Aje. Os homens também podem ascender (acessar), porém de forma mais limitada, nesse caso são conhecidos como Oso, e sempre necessitarão de uma mulher como transferência e liderança.
Como é uma força inata, é a pessoa quem tem o livre arbitro de escolher como e quando usar. Entretanto, infelizmente, é por essa mesma razão que Aje adquiriu uma péssima reputação nas últimas décadas.
Ademais devemos acrescentar a demonização latente que vêm das outras religiões mesmo na terra Yorùbá, pois infelizmente o ser humano sempre é débil ante o uso de ferramentas que permitam o acesso fácil a privilégios, mesmo que seja prejudicando os demais.
Acredito que com o presente material, irá ficar mais fácil de digerir todas as informações, para que as pessoas possam entender de forma  mais nítida o que de fato seria o vasto e rebuscado universo de Ìyá mi.
Porque Ìyá mi não é ruim, ruim são as pessoas que não entendem a verdadeira natureza de uma energia presente em todos, porém accessível para poucos.
 

Awon Eyele a gbe wa!! 

Akogun Ifáṣọlá Ajobi Àgboọlà


BIBLIOGRAFIA

 
AWODIRAN; A. Ifá, Ohun enu Olódùmarè
AWODIRAN; A. Ifá Ohun Ijinle Aye
EPEGA; A. A. Oráculo Sagrado de Ifa
BASCON; W. Ifá Divination
BALOGUN IFASE; A. O. DAFA – Um Poderoso Sistema Para Ouvir A Voz Do Criador.
POPOOLA: S. Ifá Dida an Invitation to Ifá Divination, vole 1
POPOOLA; S. Practical Ifá: For the Beginner and Professional
VERGER; P. Éwé: o uso das plantas na sociedade ioruba
VERGER; P. Orixás, Deuses iorubas na África e no Novo Mundo
VERGER; P. Notas Sobre O Culto Aos Orixás E Voduns
VERGER; P. Saída de Iao
DOS SANTOS; E. Os Nagô e a Morte: Pàdé, Àsèsè e o Culto Egún na Bahia Juana
FATUMBI; F. Oríkìs Òrúnmìlá
SALAMY; A. Ifá a complete divination
SALAMI S. Mitologia dos Orixás Africanos 1
SALAMI S. Ogum: Dor e Júbilo (nos rituais de morte)
JUNIOR; E. F. Dicionário Yorùbá (Nagô) Português
SILVA; A. C. A Enxada e a Lança
(Bibliografia Citada)
*Ifá, Ohùn enu Olódùmarè
*Ifá Ohùn Ijinle Aye
Awodiran Agboola
*ORÁCULO SAGRADO DE IFA
Afolabi Epega
* IFÁ DIVINATION –
Willian Bascon
* DAFA
Um Poderoso Sistema Para Ouvir A Voz Do Criador.
Balógun awolaluonisegun Ifase
*Ifa Dida (An Invitation to Ifa Divination, VOLUME 1)
* Practical Ifa: For the Beginner and Professional
Solagbade Popoola
* Ewé: o uso das plantas na sociedade ioruba
* Orixás, Deuses iorubas na África e no Novo Mundo
* Notas Sobre O Culto Aos Orixás E Voduns
* Saída de Ìyàwó
Pierre Verger
* OS NAGÔ E A MORTE Pàdé, Àsèsè e o Culto Egún na Bahia
Juana Elbein dos Santos.
*Oríkì - Òrúnmìlá
Falokun Fatumbi
*Ifá a complete divination
Ayò Salamy
*Mitologia dos Orixás Africanos 1
*Ogum – Dor e Júbilo (nos rituais de morte)
SIKIRU SALAMI
*Dicionário Yorùbá (Nagô) Português
Eduardo Fonseca Júnior
*A Enxada e a Lança
Alberto da Costa e Silva

 

“Não me pergunte o que Ifá está fazendo por você sem que você saiba me dizer, o que você está fazendo pelo Ifá!”

Olúwo Ifábaíyin Awolola Agboola

Curso Filosofia e Teologia Yorùbá - Módulo Egungun




Escola Superior de Ifá (Èsì)

 Curso de Filosofia e Teologia Yorùbá

 Módulo Egungun


"Para começar a falar de Egúngún devemos primeiramente nos posicionar no conceito certo, pois, muitas pessoas no ocidente ainda fazem muita confusão sobre o culto. Egúngún é essencialmente ancestre. Porém, o termo refere-se ao culto dos ancestres mascarados, sendo que dentro da cultura Yorùbá existem muitos cultos baseados nos espíritos ancestrais, para mencionar só alguns seriam, Ẹ̀lúku, Orò, Agemo, Igunuko, Òrìṣà Adimu, etc.
Egúngún é o culto ancestral mais difundido e popular atualmente, ele está presente em quase toda a terra Yorùbá, mas, como os demais seguimentos ele pode mostrar diferenças regionais ou familiares. Sabendo isso, este, como os módulos anteriores, não tem como objetivo, de forma alguma, levar para os leitores uma verdade absoluta. Pelo contrário, toda visão totalitária sobre os cultos de Òrìṣà deve ser rejeitada pelos iniciados, seguidores ou pesquisadores.”


Akogun Ifáṣọlá Ajobi Àgboọlà



EGÚNGÚN

 

Egúngún é uma sociedade secreta, portanto, quem pertence de fato a ela nunca abordará aspectos rituais e litúrgicos. Entretanto, isso não impede que possam ser ditas algumas informações, que não são consideradas Awo dentro do culto. Para começar, nesse sentido, temos que ir ao conceito sobre o que é de fato Egúngún, pois na América só predominou a parte espírita do culto, isso não é enganoso, porém não é uma ideia completa.
Egúngún é Irúnmọlẹ̀, ou seja, um espírito criado por Olódùmarè para controlar alguma coisa na criação, assim com Ọbàtálá, Ọ̀ṣùn, Ọ̀rúnmìlà etc. Egúngún foi criado para ter a função de conectar o ser humano com sua ancestralidade, seria aquele Irúnmọlẹ̀ que dá um sentido de descendência e ascendência na raça humana. Nesse sentido, falar de Egúngún como Irúnmọlẹ̀ seria referir-se à fonte ancestral da humanidade no contexto comunal.
Esse conceito é aparentemente simples, mas não termina por aí, porque dentro do culto Egúngún tem vários aspectos que vai do culto comunal até o ancestral individualizado, e esse último é quem toma mais notoriedade por ser aquele que sai publicamente em festivais e cerimonias públicas.
Nesse seguimento é que encontramos os espíritos chamados de Ará Ọ̀run, que são aqueles ancestrais que por suas virtudes humanas quando viveram, e sua condição espiritual após sua morte, se tornam eternos podendo transitar livremente entre o Ọ̀run e o Ayé, quando sua comunidade os invocam seja para proteção, conselho ou simplesmente festejo. Esse Egúngún tem várias classificações dentro do culto, por sua roupa (Ẹ̀kù Ago), seu temperamento, sua antiguidade, etc.
Cada clã tem seu ou seus próprios Egúngún, nesse sentido o culto se volta mais ao comunal que o individual, já que os Egúngún são normalmente herdados. É assim que poderemos ter na atualidade Egúngún muito antigos e importantes para sua comunidade, cidade ou até sua região.
Além disso, podemos através de normativa e esquema de culto reverenciar toda a ancestralidade de uma pessoa mesmo que seus ancestrais não sejam Egúngún propriamente ditos. Nesse caso, o culto sempre será de forma comunal e específica, liturgicamente falando os chamados Oku Ọ̀run ou Alale entram dentro dessa especificação.
Mas nestes últimos, não é uma exclusividade do culto de Egúngún, pois muitas famílias não tem culto de Egúngún e eles fazem culto a seus ancestrais de qualquer forma. Normalmente no próprio túmulo da pessoa, que por tradição, deverá ser enterrada dentro da casa ou dentro de sua vila, onde ele viveu.
Como podemos notar , para a cultura Yorùbá, a morte é entendida de uma forma muito natural e antagônica ao que acontece nas culturas ocidentais judaico-cristãs, é importante salientar as últimas citadas, já que a maioria dos mitos e confusões que giram em torno do culto de Egúngún, na realidade não nascem na terra mãe da cultura dos Òrìṣà e sim na América, oriundos de mãos, de conceitos superficiais, baseados na influência cultural do novo mundo.
Como foi mencionado anteriormente, Egúngún em si é um Òkú, mas nem todo Òkú é Egúngún. Uma pessoa para se tornar Egúngún, tem que reunir requisitos, um deles é gerar descendência. Isso pode ser polêmico na América, mas aqui estamos falando da raiz do culto. É uma questão lógica, uma pessoa que em vida não tem descendentes, nunca será ancestral de ninguém, portanto dentro do culto Egúngún, a visão de consanguinidade prima ante a empatia de sociabilidade com uma pessoa que mereça culto pós morte.
Temos que lembrar que na cultura dos Òrìṣà, a maioria dos seguimentos estão voltados à ideia de família e clã sanguíneo, lógico, isso não inibe a alguém de fora em ser aceito por aquele clã, mas não podemos nunca confundir as coisas, sangue e sangue sempre.
Outra questão importante que tentaremos desmistificar é a ideia errônea que se tem sobre a mulher dentro do culto, isso também pode ser controvertido, mais existe um ditado que diz “uma mentira repetida mil vesses, se tornara verdade”, a mulher pode sim pertencer ao culto sem problema algum, o que acontece é que a mulher não pode ser iniciada para Egúngún, (salvo exceções por condições de nascimento) e aqui é que se confundem as coisas. Na pratica de Òrìṣà na terra Yorùbá, iniciação é algo relativo, com isso tento explicar que, uma pessoa muitas vezes não precisa se iniciar para pertencer e funcionar dentro de um seguimento, isso acontece muitas vezes e em alguns cultos, sem nem sequer existe iniciação.
Agora, temos que definir o que seria iniciação. Iniciação é o processo completo pelo qual um indivíduo passa para renascer com uma nova identidade outorgada por aquela divindade. Assim, existem coisas que, além das diferenças familiares ou regional de linhagem, não poderão faltar.
No caso da mulher, ela entra para o culto mais não vai ter uma identidade e não vai funcionar como líder do culto. Isso não impossibilita que ela faça parte da maioria dos rituais da sociedade, assim como muitos homens que pertencem mais não são Oje (Iniciados). Com as mulheres ocorre a mesma coisa, elas tomam Ìmulẹ̀ (pacto), coisa que na América, muitas vezes por ignorância, ou necessidade de se fazer entender por pessoas leigas, se confunde com iniciação.
Quanto às limitações da mulher dentro do culto, isso pode variar de clã para clã, em todas minhas pesquisas, quase a totalidade dos casos sempre são menos limitantes que os acessos, a mulher dentro de culto é insubstituível por razões espirituais que infelizmente não posso mencionar aqui, mas do que se pode mencionar, encontramos a figura da Ìyá Àgan, cargo preponderante dentro da sociedade Egúngún, ela representa a única mulher que tem acesso à poder ver alguns segredos, porém nunca poderá falar com as outras mulheres.
Conforme explica o Odu Ifa Owonrin Aseiyn, Ìyá Àgan é uma posição mais espiritual do que hierárquica, que normalmente é apontado para algumas mulheres de forma predestinada, Yeyesorun, Ato, entre outros são cargos femininos relevantes, mais o que toda mulher nunca poderá, além do cargo que ela tenha, é saber ou presenciar os rituais que antecedem a aparição pública de Egúngún.


 Odu Ose Olosun

Para citar uma origem ao culto de Egúngún poderemos citar vários Odu Ifa, como por exemplo: Ogbe Wehin, onde menciona a Ile Ife como sendo a primeira cidade onde os Abala (Panos de cores) apareceram. Esse Odu fala que Egúngún veio do Ọ̀run enviado por seu irmão mais velho Oro Lewe, mas Egúngún foi tão bem recebido e aclamado pelas pessoas que esqueceu a missão encomendada, obrigando seu irmão Oro a vir  buscá-lo; ou o Odu Ogbe Sa onde fala da cidade aonde se assentaram os primeiros seguidores chamada Oje após eles acalmarem um terremoto na terra; Oturupon meji por exemplo, fala de um dos símbolos de Egúngún conhecido como Ìṣán, que depois de passar por uma árdua preparação com rituais específicos, vai servir como uma peça chave no Ojúbọ Egúngún (Lugar de culto). Mas além desses e muitos outros Odu, aquele que mais explica o culto como se conhece hoje é o Odu Ose Olosun.
 
Neste Odu, Ifá fala assim:

E bu si ile

E gba re re

Awo Egúngún

Lo difa fun Egúngún

Nijo ti ko ri eni kan ba sere

Ifa ni, ki o toju

Opolopo Eko

Ki o toju olele

Ki o toju akara

Ki o toju obi

Ki o toju aso alari

Ki o toju ore atori

 

Tradução:

Coloque no chão

Pegue aquilo para a boa sorte

O awo de Egúngún

Consultou Ifá para Egúngún

O dia que ele se sentia sozinho e não tinha ninguém lhe acompanhando

Ifá falou que ele devia reservar muito Eko

Devia reservar Olele

Devia reservar Akara

Devia reservar Obi

Devia reservar Pano colorido

Devia reservar varas de Atori

A história conta que um personagem mítico chamado Lagbookun foi enviado para acomodar a situação no planeta Terra a pedido de Ọ̀rúnmìlà, já que este era quem levava as reclamações dos humanos ante Olódùmarè nesse período, após Lagbookun chegar, ele foi muito efetivo, em retribuição Ọ̀rúnmìlà deu sua filha para ele se casar.
Ela se chamava Mode, Ọ̀rúnmìlà enviou, juntamente com Mode, peixe e rato como oferenda para Lagbookun. Quando Lagbookun viu Mode, ele ficou apaixonado, começou a comer do peixe e do rato, e a convidou para viverem juntos. Mode aceitou, depois de um tempo ela ficou grávida e teve um filho chamado Ologbojo.
Ologbojo no período da infância tinha contato com seu pai, mais conforme passava o tempo, Lagbookun cada vez vinha menos para a terra, Ologbojo começo a sentir a falta de seu pai e foi quando, já mais velho, decidiu ir consultar com Ifá. O Odu que apareceu foi Ose Olosun, e ele foi orientado a fazer um Ẹbọ com Ẹ̀kọ, Àkàrà, Ọ̀lẹ̀lẹ̀, Obì, Pano de cores, e varas de Àtòrì. Ele também foi recomendado a levar o Ẹbọ para sua casa e deixar no chão frente a mesma, mas ele tinha se que enrolar no pano, e chamar seu pai. Ologbojo seguiu as indicações seriamente, e no momento que se enrolou, Lagbookun desceu por uma corrente do Ọ̀run e se encontrou com seu filho.
Ologbojo contente foi para a casa de seus Awo, e eles lhe explicaram que desde aquele dia ele deveria se cobrir para se reencontrar com seu pai, e que deveria fazer uma vez no ano aquilo para que seu pai o apoiasse para sempre, foi assim que Ologbojo se fez adulto e muito próspero.
O Ìtàn narrado acima explica uma das partes dentro do culto a Egúngún, entretanto, por outro lado, derruba o mito sobre as famosas roupas que dançam sozinhas. Sem eu falar absolutamente nada, dá para perceber que isso é falso. O culto de Egúngún não tem o propósito de servir como uma demonstração de poder paranormal, ou alguma outra coisa que pretenda impressionar os leigos, ele serve para muitas coisas que deveriam ser mais bem aproveitadas, menos para isso.

Odu Owonrin Oloje 

Devemos compreender que nenhum iniciado irá falar sobre o assunto das roupas, porque isso é considerado um dos maiores segredos da sociedade, mas não é por essa razão que as pessoas devem perder o senso comum. Um outro Odu que fala sobre este segredo e Owonrin Oloje.
Neste Odu, Ifá fala assim:

Owonrin sogbe awo lode Aye

Owonrin sogbe awo lode Orun

A dia fun Agan eluju

Eyi ti mo araye fedi e ri

Ebo ni won ni ko waa se

O si gbebo mbe o rubo

Igi igbale le ri o

Igi igbale

O omode kii ri Agan were

Igi igbale le ri o

 

Tradução:

Owonrin sogbe é o Awo do povo da terra

Owonrin sogbe é o Awo do povo de Orun

Elos consultaram Ifá para Agan Eluju

Quando estavam conspirando para revelar seu segredo

Foi aconselhada a fazer ebo

Ela ouviu e o fez

Agora, a árvore de Igbale só vocês podem ver

Só a árvore

Nenhuma criança poderá saber o segredo de Agan

Só a arvore

 

Odu Okanran Nileegun

Egúngún é invocado para ter filhos, para proteção, para saúde, para solucionar pleitos familiares, etc., mas quando afirmo que ele é invocado, não estou me referindo a ele aparecer publicamente, ele irá ser venerado e suplicado no Ojúbọ da família normalmente em rituais internos. Egúngún normalmente aparece publicamente uma vez ao ano, porém tem alguns Egúngún muito antigos ou fortes que aparecem a cada dois anos, e outros mais raros podem aparecer a cada cinco ou dez anos.
As festividades de Egúngún anuais são chamadas de Ọdún Egúngún, e nunca duram menos de 3 dias, tendo casos que podem durar até 28 dias. Cada dia, desde o começo até o final, tem uma finalidade e existem rituais que devem ser cumpridos rigorosamente para garantir um ano bom para a família toda.
A maioria desses rituais são realizados dentro do Ìgbàlẹ̀ (espaço determinado de culto a Egúngún), neste espaço ficam os Ojúbọ, Eku ago, e outros implementos importantes para o culto.
Dependendo da tradição familiar, mesmo dentro do Ìgbàlẹ̀, podem existir Ojúbọ para outros Òrìṣà, como pode ser para Èṣù, Ọya, Ọ̀sányìn, ou outros. Antigamente, e ainda em algumas regiões o Ìgbàlẹ̀ é no próprio mato, quer dizer, um lugar pequeno na floresta reservado para o culto. Hoje isso é pouco visto nas cidades urbanizadas, mas ainda assim, sempre é reservado um lugar da propriedade para Egúngún. Ifá explica através do Odu Okanran Nileegun as bençãos sobre a veneração regular a Egúngún, quando o próprio Ọ̀rúnmìlà foi prospero venerando Eegun.
Neste Odu, Ifá fala assim:

O bo´de sile, wole Egúngún lo

A dia fun Orunmila

Baba nsawo lo sile Alapinni

Ebo ni won ni ko waa se

O gbebo o rubo

Iya  mi loje

Baba mi loje

Emi naa Atinukola, omo Edu

E ma ta mi loje

Mo m´awo

 

Tradução:

Aquele que se quita as contas de Ifá

Para entrar na casa de Egúngún

Foram os que consultaram para Orunmila

Quando iria na casa de Alapinni para trabalhar Ifá

Recomendaram fazer ebo

Ele o fez

Minha mãe tem Oje

Meu pai é Oje

Eu sou Atinukola o filho de Edu (Orunmila)

Não podem me enganar sobre Oje

Eu conheco o Awo

O verso anteriormente exposto explica que o culto de Ọ̀rúnmìlà (Ifá) e o culto de Egúngún são próximos, não existe impedimento ou contradição alguma sobre eles. Por outro lado, o mesmo verso também deixa claro que um Awo Ifá deve conhecer o segredo de Egúngún, ser iniciado em Ifá não faculta a pessoa dentro da sociedade Egúngún, pode existir a possibilidade, e existe de fato, que a pessoa seja um excelente Bàbáláwo e ele não tenha conhecimento nem treinamento dentro de Egúngún.
Por essa razão, e por tratar-se de um culto ao qual investi muitos anos de estudo e vivência, sinto a obrigação de deixar um mensagem para finalizar o presente material informativo:  ̶  se qualquer pessoa pretende se iniciar, tenha presente o que aqui foi dito, e procure um sacerdote credenciado e autorizado em uma comunidade que tenha culto ativo. Infelizmente muita coisa que se vê no dia a dia certamente não é Egúngún, pelo bem da tradição, por seu bem, pesquise antes de se decidir.

 

Egúngún ara orun kin kin , abala arago ni gbale

Omo ere l´apa

Egúngún habitante do Ọ̀run, aquele que tem pano comprido e o rastreja no chão

O filho da piton de Apa

Gbogbo moriwo tuwo´lewo

Iwooo!!

“Saudacao para Egúngún”

 

Que Egúngún nos bendiga a todos.

Akogun Ifáṣọlá Ajobi Àgboọlà



BIBLIOGRAFIA

 

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*Mitologia dos Orixás Africanos 1

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SIKIRU SALAMI

*Dicionário Yorùbá (Nagô) Português

Eduardo Fonseca Júnior

*A Enxada e a Lança

Alberto da Costa e Silva

 

“Não me pergunte o que Ifá está fazendo por você sem que você saiba me dizer, o que você está fazendo pelo Ifá!”

Olúwo Ifábaíyin Awolola Agboola

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