sexta-feira, 19 de junho de 2015

Orixá

Orixá


Autor: Olúwo Ifagbaiyin Agboola

Durante anos os orixás foram cultuados com base no folclore e na superstição dos que se diziam conhecedores, o desastre aconteceu e a migração dos adeptos dos terreiros para as igrejas eletrônicas se tornou um grande problema.

Graças ao bom senso de uns poucos, bons, sacerdotes nossa religião não desapareceu embora o impacto tenha sido devastador.

 A internet nos salvou de um colapso ainda maior, as redes sociais possibilitaram que nos reuníssemos em comunidades e grupos e que tenhamos nos organizado, mesmo sabendo que falta muito temos que reconhecer esse fato, houve uma movimentação que começou lá atrás com o instinto Orkut.

Antes da rede social eram poucos os eventos que os sacerdotes de nossa religião se encontravam, sacerdotes de vários estados raramente se conheciam e o relacionamento ficava circunscrito ao âmbito familiar, a rede social e a internet contribuíram para a organização e a mobilização de nosso povo, embora as igrejas eletrônicas continuem patrocinando a chamada caça às bruxas.

 A falta de união nos prejudicou muito, mas a falta de conhecimento nos prejudicou ainda mais, a falta de resposta para os nossos adeptos construiu uma ponte que beneficiou muito aqueles que lavam dinheiro com as igrejas eletrônicas e prometiam mundos e fundos.

Hoje os iniciados já não aceitam ouvir historinhas do chapeuzinho vermelho, aumentou o número de pessoas que se interessam por filosofia e teologia, as exigências aumentaram, mas o número de sacerdotes que se preparou foi muito pequeno. A necessidade do aprimoramento do nosso povo esbarra na falta de liderança nacionais, se tivéssemos representantes fortes e reconhecidos nacionalmente a história seria outra.

Assistimos todos dias notícias negativas sobre o nosso povo, as boas notícias não são divulgadas e infelizmente todos perdemos com isso, a união poderia mudar tudo isso.

Quando imaginamos que estamos nos aproximando de uma valorização de nossos líderes alguns deles despreparados prejudicam a imagem do grupo, casos de pedofilia e ocorrências policiais das mais diversas são fatos que prejudicam a nossa religião e nos envergonham.

Na cidade de Nova York quando foi constatado que a má administração prejudicava o município, imediatamente foi criado o curso de administração municipal capacitando os pré candidatos à prefeitura. Em nosso país a administração municipal continua na mão de pessoas completamente despreparadas e a inversão de valores elege nas urnas médicos, engenheiros, dentistas como administradores municipais.

Na nossa religião não é diferente caciques de terreiros de umbanda se dizem Bàbáláwos e supostas videntes se articulam como Ìyálòrìşàs de, com isso a falta de qualificação prejudica a nossa imagem.

Existem casos de pessoas que incorporam com orixás, caboclos e exus em um só dia, misturando religiões tão diferentes, essa confusão prejudica a todos, essa mistura pode alimentar o ego de alguns despreparados, mas no fundo todos estamos sendo prejudicados, e a nossa imagem serve até de inspiração em programas humorísticos.

Nas delegacias esse povo que prejudica nossa religião já é conhecido há muito tempo, alguns agridem seus iniciados, outros tem seus nomes associados a práticas terríveis, então porque razão eles continuam com as casas cheias de adeptos?

 Será que a impunidade alimenta a falta de caráter e o despreparo?

Existem algumas situações que são prejudiciais a todos os adeptos do culto a orixá, então porque são poucos aqueles que se indignam com esse circo de horrores em nome das divindades?

A indignação deveria ser uma epidemia, as barbaridades cometidas por alguns deveriam indignar a todos, mas muito se calam, por que?

Por que olhamos para o nosso umbigo como se fosse o centro do mundo?

 O cabrito que apodrece na encruzilhada cheira mal para todos, as garrafas nas esquinas podem cortar os pneus de qualquer um, a notícia no programa policial envergonha a todos, o escândalo sexual prejudica a imagem de todos.

 Porque poucos se indignam?

Eu tenho certeza, vai chegar um tempo que Bàbáláwos não vão ter ligação com o tráfico, vai chegar um tempo que Bábálòrìşàs não vão se reunir para orgias sexuais em terreiros, vai chegar um tempo que os chefes de terreiros não vão abusar sexualmente de jovens inocentes, em fim a mudança vai acontecer.

 Sempre que nos deparamos com essas situações uma pergunta deve ser formulada, o orixá quer isso de nós?

O orixá quer que em um momento de dor de uma família aquele que se diz sacerdote exija uma fortuna para efetuar rituais fúnebres?

 Será que no momento de dor da falta de um ente querido um diálogo sobre milhares de reais de pagamento de um ritual deve ser mantido?

Será que o orixá se sente homenageado quando o sacerdote exige de seus iniciados joias finíssimas em ouro como presente de aniversário?

Quando o dito sacerdote depois de uma noite de orgias chega de helicóptero bêbado no terreiro, isso é culto a orixá?

Será que o orixá se presta para as procissões públicas onde o sacerdote mostra o seu carro novo, recebido como pagamento de um ẹbợ?

Até quando dementes invocaram os nomes dos orixás em seus delírios?

Durante anos nos foi passado a imagem que o orixá tudo aceita Hoje a internet nos conecta com a verdade, e rituais constituídos de simplicidade e bondade contradizem as criações mirabolantes por nós presenciadas.

 Informações do território Yorùbá terminam estarrecendo aqueles que buscam a verdade.

Se na raiz existe tanta simplicidade como é que os descendentes podem criar tantos artifícios?

O orixá não quer isso, o orixá é sabedoria, simplicidade e bondade.

O orixá quer que sejamos saudáveis, felizes e honestos.

O orixá nos quer íntegros, responsáveis, sinceros, não existe mais espaço para a mentira e a ilusão.

O acara, o akasa e a carne de cabrito já não são servidos em nossas mesas, foram substituídas por trufas, maionese e estrogonofe.

 As casas de orixá estão sendo decoradas com finíssimas obras de arte, se foi a época que o couro do cabrito era fixado na parede para secar.

 O tempo está passando muito rápido, é chegada a hora da mudança, ou capacitamos nosso pessoal ou vamos desaparecer.

Vamos expulsar esse povo que nos envergonha, chegou a hora de exigir honestidade e dignidade de nossos sacerdotes.







quarta-feira, 3 de junho de 2015

O sacerdócio e a verdade.


Texto: Babalawo Ifagbaiyin Agboola

A honestidade é uma qualidade de ser verdadeiro, não mentir, não fraudar, não enganar, e deveria ser a principal característica de um sacerdote.

Quando uma pessoa procura uma casa de religião para consultar, é isso que ela espera, mas muitas vezes termina pagando para ouvir mentiras, e ser iludida conforme o interesse de quem está manipulando o oraculo.

 É difícil acreditar que alguém use o nome de um Orisa em seu próprio benefício, mas isso está se tornando muito comum, em nome dos Orisas atos são proferidos e verbas são liberadas, documentos são assinados, acordos são ignorados, pessoas são iludidas.

O indivíduo que é honesto procura agir dentro de uma lógica que implica em manter uma postura digna, coerente com a pratica religiosa que professa.

A obediência incondicional às regras existentes, dentro e fora da religião, faz de um sacerdote um exemplo de comportamento, um elemento em permanente destaque, então olhe bem meu colega, a onde você pisa e por onde você transita.

Não acorde reclamando porque que a vida não lhe sorri, sem antes examinar o seu comportamento, e as suas atitudes.

Não existem um procedimento para burlar a verdade, mudar a realidade, os Orisas jamais mentem, pode até acontecer uma interpretação errada do sacerdote, mas nunca um erro do Orisa, o Orisa não erra e não mente.

Exercer o sacerdócio com honestidade em caráter amplo é muito difícil, mas é o mínimo que o Orisa espera de você.

 Para muitos, a pessoa honesta é aquela que não mente, não furta, não rouba, que respeita os outros, mas isso só não basta, você deve ser confiável, deve fazer tudo que os Orisas indicam, sem criar artifícios que lhe beneficiem.

Se você não consegue ser honesto e conviver com a verdade, não acredite que possa enganar os Orisas, você engana as pessoas, mas os Orisas jamais serão enganados, você está mentindo, mas a verdade sempre aparece.

Não estou aqui para julgar ninguém, mas acredito que usar uma pele de cordeiro durante o dia e se transformar em fera durante a noite, não é o caminho.

Para ser um sacerdote, você precisa ser verdadeiro, precisa acreditar e praticar tudo aquilo que você indica para as pessoas, caso contrário nada tem sentido.

Não julgue as pessoas como idiotas, toda pessoa merece o seu respeito, todos temos um Ori e um Orisa, se você não sabe o que dizer fique calado, mas não minta em nome dos Orisas.

Você mentindo está ofendendo os Orisas, está ofendendo seus antepassados. Faça somente o que você está habilitado para fazer, diga somente o que os Orisas estão lhe mostrando, não invente nada, não minta, não crie.

 Isso é o mínimo necessário para você se dizer um sacerdote, é o que as pessoas esperam de você, quando lhe procuram para uma consulta, honre a sua religião, honre o seu Orisa.

  Aquele que fala em nome dos Orisas tem obrigação de dizer sempre a verdade!


  Oito bilhões de Deuses    Imaginem oito bilhões de deuses em um conflito incessante. Pensar nessa possibilidade nos remete a uma ideia de ...