quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Por que o Ifá é indicado para quem segue a Umbanda?

 



Por que o Ifá é indicado para quem segue a Umbanda?

Quando me pediram para escrever sobre a Umbanda e o Ifá, pensei muito antes de aceitar.

Ao olhar para trás, vejo os caminhos que percorri: escrevi mais de mil e quinhentos textos, gravei milhares de áudios, sempre com coragem e determinação. Então, por que não aceitar mais um desafio?

Falar da proximidade entre duas tradições sem deixar que se confundam e sem perder a essência de cada uma é um feito complexo. A sorte é que tenho uma memória muito boa e me lembrei de uma conversa que tive com o Baba Niyi (meu Oluwo) em janeiro de 2011.

Em uma tarde de sábado, eu e Ifakemi fomos visitar meu Oluwo, que estava atendendo, e ele nos pediu para aguardar, pois estava terminando uma consulta de uma senhora que era da Umbanda. Quando a senhora saiu, meu Oluwo disse: “Esse espírito que ela tem é bom.” Esperei a senhora ir embora e retomei o assunto, perguntando por que o espírito que a senhora cultuava era bom.

Ele, com aquele português atrapalhado que é sua característica, respondeu: “Ele é bom porque trouxe ela no Ifá para resolver um problema que ele não tinha como resolver.”

Entendi, então, que uma religião não é melhor que a outra; cada uma atua dentro de princípios que dizem respeito à sua ancestralidade. Essa situação que me lembrei com meu Oluwo permitiu que eu desenvolvesse este texto com mais facilidade. O Ifá e a Umbanda, embora nascidos em contextos diferentes, dialogam em sua essência espiritual.

O Ifá, tradição ancestral da cultura yorùbá, organiza o mundo através do oráculo, dos versos do Odù e da sabedoria dos Babalawos. A Umbanda, religião brasileira, reúne elementos africanos, indígenas e cristãos, manifestando-se nos guias espirituais, nos pontos riscados e nos cânticos que vibram força e fé.

Entre esses caminhos, um dos mais conhecidos são os Pretos Velhos: espíritos de sabedoria com conhecimento que atravessa gerações. Eles são ecos de vozes vindas da África: Bantus, Nagôs, Yorubás — homens e mulheres que trouxeram, na memória e na alma, a força da tradição oral.

Nosso povo é versátil, criativo e devoto, expressando no seu sentir a mestiçagem, que termina sendo retratada com naturalidade. Osaala, Osun, Sango, Ogun, Oyá — palavras yorùbá comuns no Ifá e na religião de Orisa — são tomadas pela Umbanda com a propriedade daqueles que reverenciam seus antepassados. Na Umbanda, esses nomes também vivem. Cada ritual é parte de um mosaico de histórias que trazem, na reintegração do antepassado, um saber antigo no novo mundo e em uma nova religião. O ilèkè yorùbá (fio de contas) também está presente na Umbanda, e o processo de consagração é semelhante.

Nas duas religiões, o templo é a própria natureza: rios, mares, montanhas, árvores e cachoeiras são moradas do sagrado. Embora a alma yorùbá seja a influência mais profunda, a Umbanda também é filha de outros povos. Por isso, o diálogo entre Ifá e Umbanda não é um encontro de diferenças, mas de complementaridades.

Autor: Oluwo Ifagbaiyin Agboola

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