Por que o Ifá é indicado para quem segue a Umbanda?
Quando me pediram para escrever sobre a Umbanda e o Ifá,
pensei muito antes de aceitar.
Ao olhar para trás, vejo os caminhos que percorri: escrevi
mais de mil e quinhentos textos, gravei milhares de áudios, sempre com coragem
e determinação. Então, por que não aceitar mais um desafio?
Falar da proximidade entre duas tradições sem deixar que se
confundam e sem perder a essência de cada uma é um feito complexo. A sorte é
que tenho uma memória muito boa e me lembrei de uma conversa que tive com o
Baba Niyi (meu Oluwo) em janeiro de 2011.
Em uma tarde de sábado, eu e Ifakemi fomos visitar meu
Oluwo, que estava atendendo, e ele nos pediu para aguardar, pois estava
terminando uma consulta de uma senhora que era da Umbanda. Quando a senhora
saiu, meu Oluwo disse: “Esse espírito que ela tem é bom.” Esperei a senhora ir
embora e retomei o assunto, perguntando por que o espírito que a senhora
cultuava era bom.
Ele, com aquele português atrapalhado que é sua
característica, respondeu: “Ele é bom porque trouxe ela no Ifá para resolver um
problema que ele não tinha como resolver.”
Entendi, então, que uma religião não é melhor que a outra;
cada uma atua dentro de princípios que dizem respeito à sua ancestralidade.
Essa situação que me lembrei com meu Oluwo permitiu que eu desenvolvesse este
texto com mais facilidade. O Ifá e a Umbanda, embora nascidos em contextos
diferentes, dialogam em sua essência espiritual.
O Ifá, tradição ancestral da cultura yorùbá, organiza o
mundo através do oráculo, dos versos do Odù e da sabedoria dos Babalawos. A
Umbanda, religião brasileira, reúne elementos africanos, indígenas e cristãos,
manifestando-se nos guias espirituais, nos pontos riscados e nos cânticos que
vibram força e fé.
Entre esses caminhos, um dos mais conhecidos são os Pretos
Velhos: espíritos de sabedoria com conhecimento que atravessa gerações. Eles
são ecos de vozes vindas da África: Bantus, Nagôs, Yorubás — homens e mulheres
que trouxeram, na memória e na alma, a força da tradição oral.
Nosso povo é versátil, criativo e devoto, expressando no seu
sentir a mestiçagem, que termina sendo retratada com naturalidade. Osaala,
Osun, Sango, Ogun, Oyá — palavras yorùbá comuns no Ifá e na religião de Orisa —
são tomadas pela Umbanda com a propriedade daqueles que reverenciam seus
antepassados. Na Umbanda, esses nomes também vivem. Cada ritual é parte de um
mosaico de histórias que trazem, na reintegração do antepassado, um saber
antigo no novo mundo e em uma nova religião. O ilèkè yorùbá (fio de contas)
também está presente na Umbanda, e o processo de consagração é semelhante.
Nas duas religiões, o templo é a própria natureza: rios,
mares, montanhas, árvores e cachoeiras são moradas do sagrado. Embora a alma
yorùbá seja a influência mais profunda, a Umbanda também é filha de outros
povos. Por isso, o diálogo entre Ifá e Umbanda não é um encontro de diferenças,
mas de complementaridades.
Autor: Oluwo Ifagbaiyin Agboola
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