quarta-feira, 10 de setembro de 2025

A Responsabilidade de um líder

 


A Responsabilidade de um líder

 

Liderar uma comunidade espiritual é carregar um peso que poucos enxergam por inteiro. É uma tarefa que enche o coração de propósito, mas também o aperta com responsabilidades que nunca acabam. Quem assume esse papel se doa por completo, mas descobre, com o tempo, que não pode estar em todos os lugares, nem atender a todas as vozes que o chamam, ao mesmo tempo. É um caminho de entrega, mas também de escolhas difíceis, de solidão silenciosa e de uma força que precisa se renovar mesmo quando o cansaço insiste em ficar.

Quando uma comunidade cresce, ela se transforma em um mar de rostos, histórias... Cada pessoa traz algo único: uma dúvida, uma angústia, uma conquista. Quem lidera quer abraçar todos, ouvir cada um, estar ao lado em cada momento importante. Mas o tempo é finito, e o corpo é apenas um. Não dá para estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Então, vem a necessidade de escolher. Não é uma escolha que se faz com leveza. É como estar diante de muitas mãos estendidas, sabendo que só pode segurar algumas de cada vez. O coração deseja alcançar todos, mas a realidade impõe limites.

Nessas horas, a prioridade muitas vezes recai sobre quem está sofrendo mais. São as dores mais agudas que gritam por atenção, como feridas que precisam de cuidado imediato. Mas isso não significa que as outras dores, mais silenciosas, sejam menos importantes. Cada pessoa merece ser vista, ouvida, acolhida. Quem guia carrega essa culpa silenciosa: a de não poder estar tão presente quanto gostaria, de não ter tempo para conversar mais, perguntar mais, se aproximar mais.

A vida moderna não ajuda. Tudo é corrido, tudo é urgente. Há uma agenda cheia de compromissos, viagens, encontros. A rotina vira uma sequência de deslocamentos, de aeroportos, de carros, de minutos contados. Não sobra espaço para parar, para sentir saudades, para sentar-se com amigos e rir sem pressa. Quem lidera uma comunidade espiritual muitas vezes vive para os outros.

A vida pessoal fica em segundo plano. A dor, a tristeza, o cansaço? Esses precisam esperar, porque há sempre alguém precisando de um conselho, de uma palavra, de uma direção. E, mesmo quando o coração pesa, é preciso seguir em frente, porque muitos dependem disso.

As pessoas esperam muito de quem guia. Elas buscam um pai que acolhe, um mestre que ensina, alguém que parece nunca falhar. É como se o líder precisasse ser mais do que humano, um pilar que nunca treme. Mas ele é humano. Ele sente o peso da idade, as dores do corpo. Ele também tem cansaço, vontade de apenas descansar. Só que parar não é uma opção. Quando você é o farol, todos esperam que sua luz nunca apague. E, se apagar, como os outros vão encontrar o caminho?

Por isso, quem lidera se cobra tanto. Ele sabe que carrega uma responsabilidade enorme, e qualquer erro pode ecoar longe. Então, ele busca a perfeição, mesmo sabendo que ela não existe. Ele se disciplina, se esforça, se levanta mesmo quando está exausto. E, muitas vezes, espera o mesmo de quem está ao seu lado. Não por rigidez ou falta de empatia, mas porque acredita que é assim que se constrói algo sólido. Ele escolhe com cuidado quem vai caminhar junto, quem vai assumir o mesmo compromisso de guiar, de cuidar, de proteger. Porque liderar não é só ensinar. É garantir que o caminho continue.

É fácil olhar para quem está à frente e pensar que ele poderia fazer mais. Poderia estar mais presente, ouvir mais, falar mais. Mas poucos param para pensar no que ele carrega. Cada oração que ele faz para sua família religiosa, cada momento que dedica, é uma escolha de colocar os outros em primeiro lugar. Mesmo na correria, mesmo na distância, o cuidado nunca para. Ele pensa em cada um, leva cada um no coração, mesmo quando não pode estar ao lado. Essa é a força de quem guia: transformar o pouco tempo que tem em gestos que tocam, em palavras que ficam, em preces que alcançam.

Ser grande, como quem lidera, é sofrer grande. É sentir uma solidão grande. Mas é também encontrar soluções grandes. E a maior solução é continuar. Continuar apesar do cansaço, apesar das escolhas difíceis, apesar do peso. Porque, no fim, o que importa é o impacto. É saber que cada gesto, cada palavra, cada momento de entrega deixa uma marca. E essa marca é o que faz tudo valer a pena.

 

Texto desenvolvido a partir das reflexões do Oluwo Ifagbaiyin Agboola

Ifasogbon Ajobi Agboola

 

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