Tudo sobre Iya mi Osoronga.
Assentamento de Iya mi Osoronga na Casa de Orunmila em Areia Branca-BA. |
Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola
Quando a imagem negativa precedi o sujeito o texto por mais
elucidativo que seja é incapaz de mudar anos de falta de informações
confiáveis.
Escrever sobre Iya mi deveria ser um compromisso de todo o
sacerdote do culto ao Orixá, é nossa obrigação desmistificar e enaltecer as
divindades do panteão Yoruba.
O Orixá é a razão de culto, é amor, é fé e o ideal é adotar
uma postura de respeito e carinho, se não for assim não tem sentido, por essa
razão vou escrever mais uma vez sobre esse Orixá maravilhoso.
Falar sobre Iya mi é transitar pelos textos dos odus Osá meji,
Ose Oyeku, Irete meji, Ogbe Sa e Irete Owonrin e Irete Ogbe, embora Iya mi se faça
se presente em todos os odus.
Exu, Orunmila e Iya mi respondem nos duzentos e cinquenta e
seis odus, porém em alguns é exaltada a necessidade de pactuar com Iya mi de
forma a criar uma aproximação do indivíduo com a informação e a ritualística
considerando que a energia já o acompanha desde o nascimento.
Vejo constantemente supostos conhecedores falando mal de
Orixá e de determinados odus um desses é Osá meji famoso entre os incultos como
odu negativo, é por essa razão que vamos começar falando do aspecto positivo
contido nesse odu e no culto a Iya mi Osoronga.
No odu Osá meji, Iya mi Odu quando chega a terra age sem
limites desrespeitando os Orixás a ponto de vestir a roupa de Egungun, nesse
odu Iya mi encontra dificuldade para dançar com a roupa de Egungun e Obàtálá
introduz em uma incisão do tecido com uma rede para que permita a ela conseguir
enxergar.
É evidente que posterior a essas confusões algo tinha que
ser feito e Iya mi deveria ser acalmada então após uma consulta a Orunmila, Obàtálá
é aconselhado a dividir seu alimento com Iya mi. A água do igbin (omi ero),
oferecida para Iya odu que imediatamente adota como o seu principal alimento, o
igbin, com esse ato Obàtálá acalma Iya Odu.
O trabalho de um Babalawo é interpretar os versos de ifá,
considerando o citado acima estamos falando de um convívio harmonioso entre um
personagem masculino e um feminino, a água do igbin é conhecido como a água que
acalma, sendo assim esse odu fala de um período de paz e prosperidade.
Já no odu Irete Owonrin, Obàtálá tenta ludibriar Iya mi se
negando a pagar um tributo para a grande mãe ancestral, Iya mi com habilidade percebe
a armação e se antecipa ao embuste criado.
Interpretando essa passagem do Odu Irete Owonrin percebemos
que Iya mi só quer o que é dela por direito deixando bem claro que ela não se
antepõe aos Orixás ou aos seres humanos.
Em uma linguagem popular se fomos comparar o Orun a uma
empresa usando assim uma didática de fácil assimilação o processo seria
composto da seguinte forma:
- Olódùmarè seria o equivalente ao presidente da empresa,
que teria imediatamente dois diretores de total confiança.
- Orunmila seria o equivalente a um diretor administrativo
que identifica e orienta a questão.
- Iya mi seria o equivalente a um diretor executivo com a
função de dar andamento as orientações
fornecidas por Orunmila, sendo assim o
destino por nós escolhido diante de Ajala antes de vir para terra é
testemunhado por Orunmila e informado a Iya mi.
-Iya mi não interfere na escolha de nosso destino, ela segue
as orientações de Orunmila liberando os seus assistentes (ajoguns), para
executarem o trabalho.
Os ajoguns, iku(morte), arun (doença), ejo (problemas),etc,
são liberados por Iya mi em quase a totalidade das situações correspondendo a
uma escolha feita por nós mesmos, não é Iya mi que é ruim ou perversa ela
exerce uma função assim como os demais Orixás.
As pessoas iniciadas em Orixá não podem ser sepultadas em
gavetas o ideal é que seus corpos sejam restituídos a terra, sendo assim o
ajogun iku(morte), não é ruim, ele exerce uma função determinada por Iya mi
porém em data quase sempre escolhida por nós.
No odu Ogbe Yonu, Orunmila orienta os Orixás para oferecerem
efun e osun, além de várias folhas para Iya mi Osoronga, Iya mi se compromete a
não atacar os filhos dos Orixás.
No odu Ogbe Sa, Iya mi se compromete com Orunmila em fazer o
bem quando chega a terra, ela diz a Orunmila, que seus filhos vão ter
prosperidade e felicidade.
No odu Irete meji Orunmila viaja para a cidade de Ota e
descobri o segredo das Iya mi, ele oferece o prato predileto delas e eles se
tornam amigos.
No odu Irete Ogbe, Iya Odu se torna a esposa de Orunmila que
reconhece o poder de Iya quando ela invoca o pássaro Aragamágo como sendo muito
superior ao seu.
No odu Ose Oyeku Orunmila orienta Ogun, Obaluaye, Oduduwa e Obàtálá
para que façam oferenda para Iya mi que reconhece os mesmos como filhos.
A figura materna de Iya mi é confirmada em vários versos de
ifá, uma mãe tem o dever de zelar pelos seus filhos, não tem o dever de
agradá-los, nem tudo que uma mãe faz é compreendido por seus descendentes.
Iya mi é uma mãe zelosa e poderosa que habita dentro de cada
um de nós, em nossas vísceras ela pode se manifestar de maneira positiva ou
negativa. Iya mi pode criar um mal-estar para impedir que a pessoa saia de casa
e seja vítima de algo que não faça parte de seu destino, o problema intestinal
certamente vai ser visto de forma negativa, mas será necessário para manter a
pessoa longe do perigo.
A igreja católica ao longo da história combateu a figura
feminina por temer a capacidade que só as mulheres têm, que é abrigar uma nova
vida dentro delas, as mulheres são muito superiores aos homens em vários
sentidos, essa é a verdadeira razão do combate histórico a figura feminina. Iya
mi foi uma das vítimas desse processo histórico.
Para cultuar Iya mi é necessário amar e respeitar a figura
feminina, respeitar as mães, as irmãs, as filhas, respeitar a natureza e o
poder de criação, Iya mi é a própria vida, é quem nos gerou, é quem nos abrigou
no passado, é que nos abriga no presente, é com certeza quem vai nos abrigar em
um futuro quando passarmos dessa para uma outra.
Algumas pessoas em seu odu de nascimento necessitam se
aprofundar no culto a Iya mi, mais do que outras, isso se deve a própria história
de cada odu e ao destino escolhido pela pessoa, de qualquer forma o culto a Iya
mi pode ser praticado por qualquer um, agradar aos nossos antepassados
femininos é muito mais fácil do que parece. Para agradar Iya mi temos que estar
em harmonia com a natureza e com os nossos semelhantes, a essência do culto a
Iya mi é a força feminina maternal que gera e mantém a vida, manter a vida é
como amamentar o recém-nascido, é conservar a essência e estimular o desenvolvimento
do que temos de melhor.
Iya mi é a força da vida é a capacidade de criar, é a
capacidade de amar, é a manutenção da vida, é o leite que alimenta o recém-nascido
é o desenvolvimento sadio é a evolução, é a capacidade de renovar como forma de
perpetuar a vida.
Em uma arvore grande e sadia podemos observar centenas de
galhos como extensão do tronco, podemos ver milhares de folhas e frutos como
extensão dos galhos, os frutos dentro deles têm centenas de sementes que
geraram outras arvores.
É esse ciclo da vida
que representa Iya mi a arvore é só um exemplo, quando estamos diante de uma
mulher gravida esse mesmo ciclo pode ser observado, assim é a história, nada
acontece sem essas senhoras.
Me causa espanto a falta de conhecimento sobre Iya mi, eu
acredito que com o passar do tempo muito desses mitos devem desaparecer.
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