A filosofia de ifá
Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola
Aproximadamente
dois anos atrás em uma tarde de domingo após ter tomado um café enquanto minha
mulher assistia à televisão entrei na internet e fui surpreendido pelo convite
para fazer parte do facebook de uma jovem iyanifa.
Se não estou
enganado fui uma das primeiras pessoas que ela convidou para o seu facebook,
olhei as fotos e percebi que o ritual do itefa tinha terminado naquele mesmo
dia, observei com bastante cuidado as fotos da jovem iyanifa por saber se
tratar da iya apetebi de um jovem Babalawo, que há um mês ou dois antes também
havia me adicionado.
Como sempre
quando entro na internet converso com um ou dois membros de minha família
porque o facebook não me atrai, as pessoas quem conhecem sabem que não morro de
paixão pela rede social.
No dia seguinte
bem cedo minha iya apetebi me mostrou um texto que a jovem iyanifa tinha
postado fui surpreendido pela quantidade de absurdos contido nesse texto, foi
olhando a internet hoje vendo a foto do jovem casal que resolvi escreve sobre a
filosofia de Orunmila.
Surpreende-me
que algumas pessoas que ainda não conhece sobre seu próprio odu se arrisquem
escrevendo sobre ifá, fico ainda mais espantado quando vejo pessoas que são pré-iniciadas
escreverem sobre ética na religião tradicional yoruba.
Como alguém que
ainda não passou por um itefá ou que recentemente foi submetido a essa
cerimônia pode falar sobre um tema tão extenso e complexo, isso para mim é uma
falta de respeito com as pessoas que leem e uma total falta de consideração com
as divindades, pois ifá adverte que (1) não devemos falar do que não
conhecemos.
A falta de
textos para as pessoas iniciadas dá espaço para que aventureiros se intitulem
conhecedores, normalmente os autores que escrevem sobre a filosofia de ifá
publicam seus textos em inglês e yoruba, criando um grande problema para as
pessoas que não tem conhecimento sobre esses idiomas.
Buscando elucidar
muitas das questões formuladas a nós na rede social resolvi abordar mais
profundamente a questão da filosofia, começarei abordando alguns fatos:
- Se a
pessoa tem o hábito de mentir e dissimular seria possível que ela estivesse
alinhada com algum orisá, eu particularmente não acredito a mentira, a inveja e
a desonestidade afastam as pessoas dos orisás, principalmente Orunmila.
A própria consulta a ifá determina que o uso
do ibo identifique com clareza o sim ou o não, no ifá não existe meio honesto,
meio invejoso, meio mentiroso e se isso acontece à pessoa esta desalinhada com
o orisá.
A falta de caráter
é motivo de orientação na consulta de orisá, implicando em ebó, aconselhamento
e esclarecimento, visando à mudança de postura, isso não acontecendo o
afastamento da divindade é progressivo.
Imaginemos
que um homem que levanta a mão para uma mulher possa imaginar que um dia será
beneficiado por Osun ou Iya mi, isso é um absurdo.
Um homem ou
a mulher adúltero teria condições de jurar dentro do igbodu fidelidade ao seu
Oluwo e ao seu ifá assim como ao seu egbe, isso é impossível, não existe nível
de traição, existe sim uma falta cometida que não é dimensionada por se tratar
de pessoas ou divindades, traição é traição.
No igbodu o
juramento é feito sobre a terra (2) e não importa por onde andemos a terra vai
testemunhar os nossos atos.
Um Babalawo
jamais pode (3) trair, roubar e mentir, sendo assim me surpreende que algumas
pessoas que ganham a vida mentindo publiquem em suas páginas pessoais fotos de
assentamentos de Orunmila e fotos de aves com hábitos noturnos, será que
acreditam esses desavisados que em seus assentamentos respondem Orunmila e Iya
mi.
Na verdade a
energia que responde nesses assentamentos é mobilizada pela exteriorização do
aspecto energético do individuo e propulsionam situações de aspectos negativos,
a filosofia de ifá é clara quando diz no odu Ogbe Otura (4) aquele que tem maus
hábitos é incapaz de invocar forças curadoras ou prosperas.
Existe uma
grande confusão com a filosofia dominante em nosso país, católico, e o que é
pregado por Orunmila, um exemplo que posso citar é que na bíblia diz que
devemos dar a outra face, já no odu ogunda meji fala que devemos estar sempre
preparados para a guerra e que é nossa obrigação reagir contra uma agressão com
a mesma intensidade. Então pensar com uma formação católica cultuando orisá é o
primeiro passo para o erro.
Imaginemos
uma mulher que faz um aborto rezar para Osun algum tempo depois pedindo
fertilidade é no mínimo incoerente, porém a pratica da teologia somada à filosofia
vai instruir essa mesma pessoa criando novos hábitos, aprimorando o pensar,
refinando o sentir, purificando o agir.
Se não
houvesse uma possiblidade de uma nova chance qual seria a razão de reeducar, (5)
sendo assim a revolução do comportamento e do sentir deverão ser retratados no
dia a dia na forma de agir.
A filosofia
é uma ciência dividida em três períodos específicos quando estudada, a
impressão que temos que os sacerdotes do culto ao orisá da atualidade se
deixaram influenciar por hábitos católicos oriundos do período filosófico Helenístico
que tem influência cristã.
O importante
para o culto ao orisá quando estabelecemos um paralelo do pensar seria o período
Pré- Socrático sem influência católica com base na relação do homem com o mundo
ao seu redor.
Alguns desses
sacerdotes da atualidade são capazes de copiar textos, roubar ideias e plagiar descrições
com o objetivo de abordar o tema filosofia, não me espanta se em breve surgir
uma fase nova da filosofia descrita como a mediocridade.
Algum tempo atrás
um conhecido me chamou ao telefone e abordou esse tema, dizia ele, “Baba
Ifagbaiyin o senhor pode me explicar algumas coisas sobre filosofia e ifá”. Conversamos
aproximadamente uma hora e meia, ele se despediu muito feliz com a minhas
explicações, para a minha surpresa no outro dia postou um texto com a nossa
conversa que ele certamente gravou.
Desconhece o
pretenso sacerdote a essência do Ifá que visa (6) lapidar o homem, aprimorando
o raciocínio objetivando um convívio harmonioso com tudo ao seu redor.
É impossível
que pessoas com esse comportamento pretendam divulgar ideias considerando o
fato que Orunmila é aquele que tudo sabe, partindo desse principio toda a
energia gasta na tentativa do convencimento pode estar atingindo única e
exclusivamente o seu autor, gerando em um primeiro estagio uma sensação de
prazer que leva o mesmo a pensar que esta fazendo sucesso.
O problema é
o segundo estagio quando o individuo se vê envolvido em um período depressivo
por conta da consciência da realidade, na verdade ele termina concluindo que a única
pessoa prejudicada é ele mesmo.
Na ecologia
o primeiro período na escala de evolução de um povo é a destruição o segundo é a
conscientização e o terceiro a reconstrução, já na evolução do pensar medíocre a
três fazes são descritas da seguinte forma, a primeira é a inveja que desperta
o desejo de ter o que o outro tem, a segunda fase é a elaboração do projeto
destrutivo, sim destrutivo não que destrua a o invejado e sim que destrói a
verdadeira personalidade do invejoso, dando espaço ao duble do invejado.
O pior de
tudo é a terceira fase após prejudicar a vitima o invejoso percebe que também se
prejudicou.
Se um iniciado
em ifá tem como proibição (7) maior trair e mentir, é evidente que a confiança
é o alicerce para a relação dos indivíduos, por essa razão somente algumas
pessoas pertencentes há alguns seguimentos dentro da estrutura religiosa
tradicional tem acesso a algumas informações.
Aquele que foi
iniciado necessita ter paciência para evoluir dentro de sua família visando
assim atingir um nível que deixa de existir segredos entre seus membros.
É verdade que
um Oluwo não é uma espécie de pai, ele é sim um iniciador e um mestre, o afastamento
dele pelo jovem iniciado não é bem visto em território yoruba, as pessoas
iniciadas em ifá permanecem na mesma família por toda a vida, esse fato facilita
a compreensão da teologia e da filosofia.
As relações
entre os membros no ifá são pautadas (8) na visão que o tempo fortalece os
laços, abre as portas da convivência.
Diminuindo as dúvidas, fortalecendo assim
confiança e a segurança, objetivando a elevação espiritual e moral.
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