Egúngún e Ifá.
Autor: Bàbàláwo
Ifagbaiyin Agboola
Na cultura yoruba
a morte é encarada com naturalidade, o povo deste território tem uma forma bem
clara para definir esse momento, a morte não representa o fim, ela representa sim
o começo de um novo ciclo.
A morte não é o fim da vida, existe outro
mundo paralelo ao nosso, conhecido como òrún (céu), que é dividido em nove
partes.
Este local
para o povo yoruba é a morada dos Òrìșàs e dos antepassados, sendo assim o
contato entre o òrún (céu) e o aiye (terra) acontece de forma constante.
O fato de
poder ir e vir é um privilégio, somente espíritos com um caráter exemplar serão
escolhidos para serem cultuado como egúngún.
Continuar
voltando a terra para ver seus descendentes é um prazer, participar da vida da
comunidade ou da família possibilita ao individuo eternizar-se, entrar para
historia e ser louvado por seus descendentes.
Tenho
assistido algumas discussões sobre esse tema com surpresa, a desinformação
sobre esse assunto é muito grande, existe uma aura de mistério confundida com
mentiras e interesses que distancia muito os iniciados da verdade, imagina-se
então o que acontece com o público leigo que ignora completamente a realidade.
Passarei
agora a uma analise dos fatos sempre considerando a visão do povo yoruba de
forma tradicional, não a visão afro brasileira.
Não existe egúngún
do Òrìșà Ògún ou de Osun ou de Obàtálá, esse é um erro bastante comum, existe
sim um espírito de um ancestral (egúngún) que um dia foi feito para um
determinado Òrìșà, ou não.
Não existe
comida de Òrìșà que se serve para um determinado egúngún, existe sim pratos
tradicionais de um povo que podem ser servidos ou não de acordo com a
preferência do antepassado.
É possível
sim que um espírito feminino seja homenageado após a sua morte em um ritual de egúngún.
É permitido
sim à permanência de mulheres nos rituais para egúngún, eu não acredito quais
seriam os objetivos de tais rituais que não fossem os de manter a família e a
estrutura de um povo sem que a presença da mulher deixe de ser fundamental.
Todas as
casas que cultuam Òrìșà devem ter sim um assentamento de egúngún, todos tem
antepassados que devem ser louvados.
Sim é possível
o culto de egúngún e Òrìșà assim como de ìyá mi no mesmo local, um ritual se
completa com o outro, até por que estamos prestando homenagens antepassados
masculinos e femininos.
Espíritos
evoluídos e de grande compreensão, espíritos desinformados não merecem tais
rituais e sim outros.
Uma pessoa
com cargo de Babalorisa sim pode ser um iniciado em Egúngún outros cultos como
o de Iya mi e de Baba Oro, sem nenhum problema, como disse anteriormente os
rituais se completam, todos temos antepassados femininos e masculinos.
Uma pessoa
deve sim cultuar egúngún de sua família, assim como o egúngún da família de òrìsà
a qual ela foi iniciada; cultuar um egúngún de alguém que não tem nada em comum
com você é no mínimo desperdício para não dizer total desinformação.
Assentamento
de egúngún sim pode ser feito em casa alugada, quando a pessoa vai mudar para
outro lugar tem um ritual que deve ser feito com uma parte da terra do local e
o assentamento jamais deve ser desfeito e sim transferido.
Toda pessoa
um dia pode ser um egúngún cultuado sim, o que vai diferenciar quem merece ou
não ser cultuado é a finalidade do assentamento, para ser mais claro se eu
quero um amigo que vai me orientar, não assentarei um espírito de alguém que
não tenho informações.
Existe sim
um odu que autoriza a abertura de um buraco no chão para culto dos
antepassados, não mencionaremos aqui por razões óbvias, mas todo ritual em
nossa religião consta dos versos dos odus de Ifá.
Sim um egúngún
assim como um òrìsà não necessita de um número exato de animais para ser assentado,
acontece que o homem esta tão pretensioso que administra os rituais sem mesmo
questionar a divindade e suas preferências.
Quanto à
questão da roupa volto a dizer de forma bem clara, quem quiser acreditar em
historia de faz de conta que assim o faça, somente quem conhece os rituais de
preparação de uma roupa de egúngún sabe a importância da mesma na preservação
dos membros ali envolvidos.
Quanto ao
fato de usar egúngún para fazer maldade, eu sei que faz parte da historia
humana lançar mão de tudo que é possível para atingir seus intentos, mas é bem
verdade que se amamos um egúngún e o respeitamos jamais pediremos para
interferir em nosso beneficio causando qualquer tipo de dificuldade ao outro, é
claro que isso faz parte da formação da pessoa e não de uma religião específica,
algumas pessoas não merecem ter o acesso a tais informações, mas isso é outra
história.