sábado, 23 de janeiro de 2016

Orunmila explica.




Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola.

 Hoje um de meus leitores me perguntou sobre Orí méjì em yoruba à palavra Orí que dizer cabeça e a palavra méjì quer dizer dois, em português uma tradução que deixaria muita gente feliz seria “aquele que tem duas cabeças,” mais na realidade essa forma de traduzir não se aplica ao fato descrito por muitos na religião afro brasileira.

Partindo do pressuposto que nossa religião foi trazida do território yoruba, os yorubas deveriam conhecer esse fato a não ser que seja algo que foi criado por outras circunstâncias.

Ao longo de anos atendendo pessoas iniciadas conclui que é uma grande casualidade que as mesmas pessoas que se dizem Orí méjì tenham uma enorme insegurança sobre qual seria o seu verdadeiro Òrìșà, também pudera, quase sempre que esse termo é usado é em razão da falta de certeza do oficiante dos atos que com medo de errar mata dois coelhos com um só tiro.

A verdade é que todas as pessoas podem ser iniciadas para inúmeros Òrìșàs, mas somente um irá lhe conectar com a sua verdadeira realidade ancestral.

No ifá aprendemos que em um odu respondem varios Òrìșàs sendo assim a partir do odu de nascimento iniciações múltiplas são costumeiras, mas nada que implique em incorporações múltiplas e múltiplas personalidades, se fosse assim uma pessoa poderia acordar com a coragem típicas dos filhos de Ògún, passar o dia com senso maternal dos filhos de Yemonja e a noite viver um conflito de bipolaridade se desculpando que esta tendo uma influência de Ibejì.

Se isso acontecesse os iniciados em Òrìșà seriam retratados como doentes mentais ou coisa semelhante.

Quando uma pessoa sem caráter não sabe a resposta a uma pergunta a falta de humildade o proibi de perguntar e ele termina inventando uma resposta que desculpe a sua ignorância, isso tem acontecido ao longo da historia com pessoas que não estão preparadas para exercer a função de sacerdote na religião dos Òrìșàs.

Graças a facilidade criada pelos mecanismos de comunicação nos dias de hoje esse povo criativo termina sendo desmentido com muita facilidade.

Se em todos os odus respondem Èsu, Òrúnmìlà e ìyá mi, além de outros Òrìșàs, imaginem administrar a vida religiosa baseada na tradução de duas palavras, teríamos em nosso território muitas pessoas incorporadas com ìyá mi Osoronga e Òrúnmìlà.

Me custa crer que as pessoas ainda não tenham entendido a necessidade do estudo permanente de um bom sacerdote de Òrìșà, na Nigeria, em qualquer outro país e sobretudo no Brasil.




Iyawó borboleta, isso não existe no Ifá!


Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola

Quando estive na Nigéria vi uma realidade completamente diferente de tudo que é dito em nosso país, a religião tradicional yoruba e a língua yoruba, assim como o culto ao Òrìșà estão intactos e mais fortes que sempre estiveram, lá nenhum templo foi destruído e os iniciados vivem nos mesmos lugares que seus antepassados viveram por gerações.

O discurso que na Nigéria a religião terminou serve de desculpa para aqueles que não querem se adaptar a uma nova realidade, a rede social nos aproximou da verdade de nossas raízes e é muito duro para os supostos donos do saber se identificar em com a terra mãe.

Quanto à comercialização de Òrìșàs isso esta cada vez mais forte em nosso país, alguns brasileiros vendem uma religião que jamais existiu, em uma de minhas viagens em uma cidade próxima de Salvador, tive a comprovação disso, diante de um suposto assentamento de Ìyá mi, feito em um ninho de passarinho com dois ovinhos, imagine a que ponto chegou a nossa religião.

As casas de Òrìșàs deixaram de servir a comida tradicional yoruba e começaram a servir bacalhau para alimentar os convidados.

Existe um grande comercio de fato, sacerdotes chegam a cobrar sessenta mil reais em uma iniciação.
Quanto à questão do não preparar os iniciados, existem muitas histórias, mas a mais comum é daqueles que se afogam em suas vaidades e não suportam a ideia de aprender e acreditam que já nasceram sabendo.

Essas figuras já são muito conhecidas na internet, quase sempre eles têm muitas fotos bonitas e um belo sorriso que se adequa a trajetória de suas vidas religiosas que facilmente podem ser identificadas como os donos da verdade.

O dono da verdade é aquela pessoa que eu denomino como borboleta do facebook:
- O Iyawó borboleta do facebook, pousa em todos os perfis e quase sempre eles dá mortos por testemunha, justifica que perdeu suas fotos de iniciação em um incêndio, além de dizer que o sacerdote anterior ficou com seus assentamentos por pura maldade.

 Sempre justifica o pouco tempo que ficou na casa anterior por algum tipo de perseguição, é comum eles argumentarem que existiam ciúmes ou por sua beleza ou por sua inteligência.
 Eles argumentam que o anterior sacerdote não ensinava, mas eles nunca quiseram estudar, como poderia aprender razão pela qual não sabem absolutamente nada, nem abrir um Obì.

 Com uma roupa muito elegante, sempre muito limpa, a figura encarna um personagem que se confunde entre o hip e o chique. Quase sempre o esperto tem alergia á penas de galinha e não está se sentindo muito bem, razão pela qual se afasta do trabalho braçal, escondendo uma preguiça gigantesca.

Com um ar de quem está atualizado com os fatos e fotos, ele nunca larga o celular, o personagem tem muitos contatos no watsapp e vive o tempo todo na casa de Òrìșà tomando café e respondendo os seus fãs da rede social.

 Postando no facebook todos os dias textos recortados de outros autores esses sabichões estão sempre muito ocupados para aprender com seu sacerdote e recorrem constantemente ao Baba Google e a ìyá Wikipédia.

O Iyawó borboleta tem um perfil no twitter, dois perfis no facebook, é conhecido no instragran, tem uma home page, dois sites e cinco blogs, se incorpora com a pomba gira Maria Gasolina, recebe o ere Gasparzinho que nunca aparece, dá consultas com o caboclo Sultão das mil e uma noites, tem orí méjì e um amplo conhecimento em astrologia, runas, taro, I ching e um notável saber nos búzios africanos.

Facilmente identificáveis como papagaios de piratas tem fotos com todos os famosos e fazem self até dormindo.

Quem não viu um desses personagens descrito acima no facebook fazendo perguntas para montar a sua colcha de retalhos de uma cultura que só eles reconhecem.











sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Jogo de Búzios


Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola

É muito interessante a dimensão que determinados textos alcançam quando despertam a curiosidade pública, segredos são divulgados, inverdades são inventadas e o desconhecido é criado como base do alicerce que mantém a mentira em forma de máscara para a ignorância.

Com o jogo de búzios não foi diferente as novelas, os filmes, as revistas e o diz que me diz conduziram esse oráculo sagrado através da estrada da popularidade de encontro à vulgaridade.
Nas grandes cidades em cada esquina tem um desocupado com um punhado de búzios na mão se dizendo sacerdote.

Essa forma dantesca da popularização do sagrado além de afastar os crédulos alimenta os incrédulos com argumentos incontestáveis gerados pela pior das impressões.

Deveria existir um movimento nacional para combater os falsos sacerdotes que usurpam da popularidade da religião afro brasileiro, enquanto isso não acontece delinquentes travestidos de sacerdotes divulgam um oráculo inventado por eles.

A verdade é que da verdadeira consulta ao mérìndilogun quase tudo se perdeu e muito foi inventados, poucos são aquele que praticam consultas com orientações confiáveis e comportamento ético.

O uso dos ibòs para identificar se o odu esta ire ou ibi foi substituído por uma bola de cristal que auxilia na aura de mistérios propicia ao embuste. As esteiras foram substituídas por um conjunto enorme de adereços que se sabe lá qual seria a intenção considerando o fato que a grande maioria dos objetos em nada se identifica com a religião dos Òrìșàs.

A falta de informação se agravou, a ambição se ampliou e a criatividade extrapolou os limites do aceitável, diante de tantas loucuras até opon ifá está sendo usado como parte da parafernália usada em consulta aos famigerados búzios.

Em mais uma tentativa de auxiliar os bons sacerdotes no combate aos supostos entendidos no uso do mérìndilogun, estamos mais uma vez divulgando a verdade sobre esse oraculo na religião tradicional yoruba.

O mérìndilogun é um instrumento usado somente por babalórisás e Ìyálóòrìsà, Bàbàláwos e Iyanifas costumam usar o opele ou os ikins em suas consultas.

Ao longo do tempo muito se tem falado sobre esse tipo de consulta mais a verdade é que existem inúmeros equívocos abaixo citarei os mais comuns:

1-    Chamar mérìndilogun de ifá.
2-    Consultar búzios sobre opon.
3-    Dizer que Òrúnmìlà fala nos búzios.
4-    Extrair odu de nascimento em consulta.
5-    Anotar a data de nascimento como referência.
6-    Imaginar que o Òrìșà do consulente fala na consulta.

São muitos os erros que poderiam fica descrevendo por longo tempo, por outro lado resolvemos postar informações que caracterizem uma identificação do método oracular mérìndilogun.

Não existe jogo de búzios sem iniciação em Èṣù e Òsun, em hipótese alguma um sacerdote que não seja iniciado nesses dois Òrìșàs poderá consultar o mérìndilogun. Òsun é a dona desse oraculo e Èṣù é o transmissor das informações fornecidas por ela ao consulente.

Os babalórisás e Ìyálóòrìsà que não tem muita experiência  interpretam o mérìndilogun até a decima segunda caída conhecida por ejilá, o odu extraído é identificado através do sistema de ibò se esta em ire ou ibi, por um sistema onde o consulente participa diretamente da consulta. O sistema de ibò mais comum identifica em um objeto confeccionado com búzios o odu em ire e o odu em ibi por um pedaço de o osso, o mecanismo é bastante simples na hora da consulta o consulente é convidado a escolher em qual das mãos sem que o sacerdote veja os búzios e o osso permanecerem posteriormente em um processo seletivo considerando a hierarquia usada em cada método em consultas complementares o sacerdote solicitará a abertura em uma das mãos.

Obs: evidentemente que não vamos descrever com exatidão o processo de seleção das mãos, porém para que o nosso leitor possa ter uma noção de como é o processo descreveremos da seguinte forma, as caídas de búzios pares identificariam a mão direita, e as caídas impares a mão esquerda no processo de ibò.

 O ire (sorte aspecto positivo), e o ibi (aspecto negativo) de um mesmo odu deve ser extraído com muito cuidado por que só assim teremos a capacidade de interpretar a verdadeira mensagem contida no jogo.

Esse texto apresenta algumas características do ire e do ibi constante em todos os odus. A ideia é chamar a atenção que um único odu não pode, como querem alguns, reunir todas as características positivas ou negativas existentes, como na atual obàrà mania.

1) Òkànràn- Èṣù, Ṣàngó.
IRE- Novo caminho, oportunidade material, progresso.
 IBI- Medo, insegurança, impulsividade.

2) Eji oko- Ibeji, Ìyá mi.
IRE-Nascimento, dualidade, inicia.
IBI-Morte, escuridão, desordem.

(3) Ògúndá- Ògún, Ọ̀sanyìn.
IRE-Profissão, construção, força.
IBI-Violência, desastre, doença, brigas.

(4) irosún- Ògún egun Yèmojà
IRE-Caminhos abertos, realização, ambição.
IBI-Intranquilidade, inquietação, arrependimento.

(5) Ose-Osun
IRE-Suavidade, ingenuidade, amor, riqueza, riqueza.
IBI- Ilusão falta de foco, fofoca, curiosidade.

(6) Obàrà- oxalá, Osòosì, Ṣàngó.
IRE-Sorte, paciência, habilidade, potencial.
IBI- Inveja, roubo, perda, inquietação.

(7) Odi -Oloogun Ede, Osòosì, Èṣù.
IRE-Liderança, persistência, sensibilidade.
IBI- Polêmicas, problemas, brigas, traições.

(8) Eji Ogbe- Ọbàtálá, Ifá, Yèmoja, Obàlúwaiyé.
IRE-Alegria, encanto, felicidade, grandeza, sucesso, inicio.
IBI- Nervosismo, preguiça, altos e baixos.

(9) Osa- Iya mi, Oya, Yèmoja.
IRE-Viagens, Espiritualidade, Família, mudança.
IBI- Falta de coragem, duvidas depressão.

(10)- Òfún Òsànlá
IRE-Vitória, determinação, realização, paciência.
IBI- Lentidão, desânimo, fraqueza, fragilidade.

(11) Òwónrín- Oya Egúngún
IRE-Pressa, poder, força, Otimismo, realização.
IBI- Perigo, acidente, violência.

(12) Ejila-(Iwori), Ṣàngó.
IRE-Emprego, dinheiro, negócios, política.
IBI- Avareza processos, loucura.

(13)métala, lka- Soponnan, ìyá mi, Nana.
IRE-Espiritualidade
IBI- Perigos, doenças, feitiços, morte.

(14) mérinlá, Oturupon- ìyá mi Obàlúwaiyé
IRE- Espiritualidade, vidência, intuição.
IBI- Doenças, fase negativa miséria.

(15)Mògún- (Òfún Òkànràn) Èṣù, Olóòkún.
IRE- A capacidade de recomeçar rapidamente.
IBI- A falta de Iniciativa, desilusão, decepção.

(16) mérìndilogun Irete- Ifá, Soponnan, sociedade Ogboni.
IRE-Ligação com a espiritualidade, o renascimento.

IBI-O fracasso, a morte.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Ọbàtálá come dendê?



Autor: Olúwo Ifagbaiyin Agboola

A palavra funfun em Yorùbá quer dizer branco, os Òrìsàs designados funfun no novo mundo adquiriram características no mínimo estranhas a sua origem.

 Na Nigéria esses Òrìsàs pertencem a um grupo bastante cultuado e nada dos rituais foram perdidas sendo assim todas as questões que vamos abordar aqui podem ser facilmente confirmadas.

No Brasil Òrìşà funfun é Oxalá (Ọbàtálá), na Nigéria esse termo é usado para designar vários Òrìsàs entre eles estão Òrìşà Òkè, Olóòkún e Ọbàtálá.

A designação funfun identifica para os Yorùbá Òrìsàs masculinos de primeira geração, embora essa questão possa ser discutida levando em consideração outras abordagens. Considerando o raciocínio inicial os Òrìsàs femininos recebem a designação pupa (vermelho), e os filhos desses seriam conhecidos como Òrìsàs dúdú (preto).

Essa forma descrever um amplo e complexo histórico da religião tradicional Yorùbá teria respaldo no campo da matemática, mas no plano espiritual a questão segue por outro caminho até porque com exceção de poucos autores, o termo Òrìşà pupa (vermelho) e Òrìşà dúdú (preto), não são usados.

Já em nosso país a situação referente a Òrìşà funfun se confundiu mais ainda a partir da proibição do uso do óleo de dendê no culto a Ọbàtálá. A confusão foi tanta que foi inventado um Ṣàngó, um Èşù, uma Oya e até um Ògún que não come dendê.

Em todos os rituais para Èşù, Ṣàngó, Ọya, Ògún e outros òrìsàs o uso do dendê não sofre restrição com exceção dos rituais para Ọbàtálá.

Quando abordamos a questão do culto de alguns òrìsàs em nosso país, no caso de Ṣàngó ser chamado de Aira a situação se complica mais ainda, considerando o fato que na terra mãe esse termo é bem conhecido nos Oríkìs de Ṣàngó. Baseado nesse fato o culto ao conhecido Òrìṣà Aira no Brasil seria mais que uma confusão entre dois òrìsàs, um erro de interpretação da língua Yorùbá e da teologia dos òrìsàs.

Na abordagem inicial colocamos em dúvida a teoria que defini masculino, feminino e elemento procriado em clãs identificados por cores, essa teoria cai por terra quando tomamos consciência que o Òrìṣà feminino Yèmowó também é funfun.

Historiadores e religiosos crédulos e estudiosos tendem a ter opiniões diferentes um religioso diria que na religião tradicional Yorùbá existe um grupo de òrìsàs que antecedem a criação do mundo, que recebe o nome de funfun, entre eles: Òrúnmìlá, Òsun, Olóòkè, Òrìșà Ợkợ, Ajala, Ọbàtálá, Yèmowó, Odùdúwà, Olóòkún, Yèmoja, Olósà, Ajésálúgà, Ikú.

Já um estudioso ficaria inclinado a fazer uma pesquisa mais abrangente e com várias citações de inúmeros escritores entre vírgulas, pontos de exclamação e interrogação assumiria a conhecida abordagem que Odùdúwà seria filho de Lámúrúdù atribuída por muitos com segundas intenções a uma modificação fonética do nome Nimrod, em uma tentativa absurda de identificar òrìsàs com a bíblia católica.

A verdade é uma só os òrìsàs continuam com os seus cultos intactos no território Yorùbá, aqueles que de fato amam a nossa religião tem um amplo campo de pesquisa na busca da verdadeira origem da religião afro brasileira.

Considerando o fato que o uso de dendê é abundante no culto dos òrìsàs funfun Òrúnmìlá, Òsun, Olóòkè, Òrìșà Ợkợ, Ajala, Yèmowó, Odùdúwà, Olóòkún, Yèmoja, Olósà, Ajésálúgà, Ikú, a discursão entre estudioso e religioso deve continuar como forma de esclarecer os adeptos e simpatizantes da religião tradicional Yorùbá.










quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Ifá, Òrìsà, dinheiro e fé



Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola.

Tenho assistido alguns comentários pejorativos na rede social contra os Nigerianos que estão atendendo no Brasil em razão da valorização do dinheiro.

A verdade pode até surpreender as pessoas que não conhecem a religião tradicional yoruba, mas quem é iniciado, não se surpreende, a religião dos Òrìșàs em terras Nigerianas é bem clara e tudo que se pratica está contido nos versos de Ifá.

No verso do Odu Odi Ogbe explica que o dinheiro faz parte do ebó:

ÌDÌN OGBÈ
Bí bèmbé bá ko gúdù
Quando bèmbé faz sons de tambor
Gbogbo aya oba ló njó
Todas rainhas jovialmente dançam
A d’ifá fún adabo
Lançou Ifá para adabo (ajuda na manifestação do ebo)
Adabo nti òrun bò wá ayé
Quando adabo estava vindo do céu para a terra
A rú ebo náà ni owó
Nós estamos fazendo o ebo com dinheiro
Ifá kí o jé ó fín
Ifá por favor faça com que o ebo se manifeste
Tí ó bá tó ebo, kí e jé ó fín
Se os materiais para o ebo são completos deixe que ele se manifeste
Adabo jò ó jé kí ebo, ó dà fún elébo ò adabo
Adabo por favor deixe o ebo se manifestar para o cliente.

Tenho dito exaustivamente que a teologia sem a filosofia é a neblina que ofusca os olhos da verdade daqueles que se dizem religiosos.

Aqueles que querem conhecer a religião tradicional de verdade devem ir até o território Yoruba ou na medida do possível devem buscar uma forma de conviver algum tempo com essas pessoas para que consigam entender essas questões.

Estamos falando de uma religião milenar, estamos falando da cultura de um povo que mora do outro lado do oceano, querer entender outra cultura baseado na educação que recebemos aqui é quase impossível.

O discurso de alguns críticos é infundado e rebuscado de maldade e de inveja daquele que conseguem obter uma renda razoável vivendo da religião.

Na igreja católica nenhuma criança é batizada sem que seja feito o pagamento ao padre, nas igrejas evangélicas todos os rituais são subsidiados pelo dizimo dos fieis.
Porque na religião dos Òrìșàs seria diferente?

O discurso da caridade outrora divulgado pelas bases da igreja católica era proferido por um líder sentado em um trono de ouro, é impossível aplicar isso para todas as religiões.

Uma passagem de ida e volta para a Nigéria tem custo bem alto assim como os materiais que são importados, é evidente que de algum lugar deve sair o dinheiro para pagar esses custos. É bem verdade que alguns exageram na hora de cobrar, mas o pagamento é necessário.

No tocante ao ifá a grande maioria dos sacerdotes começa a se preparar na infância estudando a palavra de Òrúnmìlà, esses mesmos sacerdotes dedicam suas vidas a ifá e aos estudos, como poderiam sustentar suas famílias se não tivesses o pagamento, já que se dedicam com exclusividade a religião.

Se você for sem dinheiro consultar um médico ele vai lhe atender?

Se você for sem dinheiro consultar um dentista ele vai lhe atender?

Se você precisar de um policial e o estado não pagar o salario dele ele vai trabalhar?

Não.

Estou acostumado a escrever sobre assuntos deliciados, porém nesse caso escrever sobre dinheiro para mim fica bastante complicado, porque também sou um sacerdote sendo assim farei uma analogia desprezando o comparativo baseado no fato que a fé é imensurável:

- Quando você vai ao medico necessita fazer o pagamento, os custos das preparações de um bom médico são altíssimos.

- Quando você consulta um advogado necessita fazer o pagamento porque os custos da preparação desse profissional são enormes.

- Um bom Bàbàláwo é medico, advogado, psicanalista, além de orientador financeiro e um profundo conhecedor dos males que afligem os seres humanos.

Por que as pessoas têm dificuldades de entender o obvio?

Se você não se alimenta, você morre, se você não coloca gasolina no automóvel ele não anda, e se você não tiver dinheiro para pagar a água certamente não vai tomar banho, porque o pagamento do trabalho do sacerdote da religião de Òrìșà é visto com maus olhos.

A mola propulsora do asè não é a fé, o que impulsiona os rituais é o conhecimento, com fé sem conhecimento o resultado é um desastre, já o conhecimento aplicado em quem não acredita alcança o mesmo resultado que alcançaria em um crédulo exemplo:

-Se uma pessoa estiver desacordada na UTI e for necessário fazer um ebo, a fé do beneficiado não implica nos rituais, o conhecimento e a fé do sacerdote que vai fazer a diferença.

Toda vez que um trabalho sacerdotal é contratado e o pagamento deixa de existir, o não cumprimento de uma das partes prejudica a continuidade do que foi feito, considerando o fato que o asè é combustível na manutenção da energia empregada.
Vou tentar explicar isso de forma mais clara, mesmo sabendo que certamente serei mal interpretado, mas supondo que o pagamento por um ebo ou iniciação não tenha sido feito, a insatisfação de uma das partes bloqueia a energia gerada por ele em desenvolvimento.

Na grande maioria dos ebos é a energia do sacerdote que é usada para acessar o Òrìșà, um sacerdote doente e fraco encontra limitações para desenvolver os rituais, da mesma forma que um sacerdote insatisfeito encontra dificuldades para impulsionar o seu asè.

Se o maior de todos os Òrìșàs é o Òrì, o poder de realização esta ligada a satisfação, a alegria, a felicidade e ao conhecimento assim como a saúde, esses elementos geram a segurança e a confiança possibilitando a força e a realização.

Um sacerdote insatisfeito ou inseguro tem o asé prejudicado, a preocupação assim como a inquietação prejudicam a concentração, sem concentração a conexão com a força vital é prejudicada.

O asé é desenvolvido com o tempo, ele pode aumentar ou diminuir dependendo do comportamento e do conhecimento do sacerdote, para a manutenção do asé é necessário rituais, rituais custam dinheiro.

Então vai haver quem me pergunte se com dinheiro tudo se consegue, eu responderei não.

 Porem  farei a seguinte consideração, sem o dinheiro pouco ou quase nada se consegue.

Na formação de um bom sacerdote a ética é fundamental, nesse caso ela atua como ponto de equilíbrio na balança que limita a ganância e o poder.

Na década passada alguns lideres religiosos em nosso país desenvolveram um discurso contra os sacerdotes que viviam exclusivamente para a religião, diziam esses senhores que no Brasil era impossível iniciar um Bàbàláwo, o tempo passou e a crise financeira mundial incentivou os mesmos a mudar o discurso, hoje esses mesmos senhores passam horas na internet anunciando iniciações no território nacional.

A falta de fidelidade as convicções outrora divulgadas assim como a falta de ética de alguns supostos sacerdotes terminam alimentando os discursos de ignorantes sedentos de aplausos, essas manifestações contaminam a opinião daqueles que não conhecem a religião yoruba.

A precipitação daqueles que mesmo desconhecendo os assuntos emitem opinião é uma característica clara ou da ignorância ou da ansiedade.

Òkànràn Osá

Ilè iwájú ti Olúwo ló ni k’èbo náà ó fin
Com o ase de meu Olúwo este ebo se manifestará
Ilè ti èyìn ti Ojùbònà ló ni k’èbo náà ó fin
Com o ase de meu Ojùbònà este ebo se manifestará.




quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Minha mãe e o Ifá




Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola.

Os interesses internacionais ao longo da historia fomentaram ideias expansionistas com finalidades comerciais buscando acomodar a falta ou excesso das colheitas em determinadas regiões.

O homem moderno manipulado pelo marketing e pelos interesses governamentais acompanhou esse raciocínio e hoje o que se vê é um relacionamento muito amplo entre pessoas de vários países na rede social, porem por outro lado as pessoas dentro de suas casas mal conseguem se olhar e os relacionamentos familiares permanecem em grande parte por acomodações de interesse.

As religiões no mundo têm como obrigação instruir o homem para que tenha uma vida melhor com seu semelhante, eu faça uma ressalva, o micro cosmo é o ponto de partida para a ampliação do bem querer, se você não se amar e não amar as pessoas da sua família como a sua mãe, ou o seu pai, como pode se iludir de ter um relacionamento positivo com amigos que de fato você nem conhece.

A família é a grande base, é o alimento, é a agua e o ar que nutri a vida, antes de escrever frases feitas na rede social procure olhar para as pessoas que estão ao seu lado, ter amigos é maravilhoso, mas o respeito a família é fundamental.
O carinho, o respeito e o amor afastam as dificuldades que a sociedade moderna criou como forma de dividir os seres humanos em grupos de consumidores.

A religião yoruba tem em seus princípios o respeito à figura materna como a base da educação, o individuo que não respeita a sua mãe não pode almejar em nenhum momento o carinho dos seus filhos, a mãe é aquela que dá a vida e sem ela a realidade é fria e assustadora.

Hoje em grande parte do mundo a comemoração acontece na rua enquanto na verdade a distancia continua aumentando dentro dos próprios lares.

O mundo moderno obrigou as pessoas a uma disputa, hoje as pessoas lutam por um emprego, por mais dinheiro, por uma bela casa e por um belo carro, mas estão se tornando incapazes de lutar por suas famílias.

Os laços familiares devem ser retomados, devemos abraçar as pessoas que estão ao nosso lado. Infelizmente hoje é comum visualizar as pessoas voltadas exclusivamente para o convívio indireto da rede social, se o convívio familiar fosse mais verdadeiro o relacionamento externo seria menos frio e dissimulado, é fantástico o que a tecnologia nos propõe, interagir, aprender é muito bom quando dentro de nós existe uma conformidade com aqueles que nos rodeiam.

Se você não aceita a sua mãe e a sua família, não vai entender que na sua maioria à realidade virtual retrata as frases feitas e as fotos montadas distanciando o sentimento da imagem.

O religioso quase sempre é antipático aos olhos daqueles que se iludem com apelo comercial quando faz comentários como esse que estou fazendo, mas eu não sou o primeiro, o Papa Francisco e outros lideres religiosos já alertaram as pessoas para esse acontecimento.

O grupo de pessoas que é manejado pela mídia é o mesmo grupo que prefere se iludir que uma simples mudança no calendário vai trazer paz e uma vida nova.

A paz, a tranquilidade e o bem viver são construídos primeiramente dentro de cada um, é necessária uma reflexão sobre o caminho que estamos seguindo.

Em 2016 tudo vai mudar se você mudar, nós devemos dar o primeiro passo, a mudança se desenvolve de forma sutil, mas ao longo da caminhada o prazer da mudança pode ser sentindo.
As vésperas de um novo ano eu convido você a iniciar uma caminhada, caminhe primeiramente de mãos dadas com a sua família, ai sim você vai caminhar em direção a paz.

Escrevo esse texto em um momento de grande alegria, recebi hoje a tarde uma ligação telefônica de minha mãe Ifánawóadé (Yeye oibó), me informando que ela esta vindo para a Bahia, seja muito bem vinda minha mãe.

Previsões para 2016, minha mãe vai estar comigo novamente, saudades!





quarta-feira, 2 de dezembro de 2015


TODAS AS PESSOAS PODEM SER INICIADAS EM IFÁ.


Autor:Babalawo Ifagbaiyin Agboola


Odu Iwori odi


Kosi abiyamo ti ko lee bi Awo l’omo,

Kosi abiyamo ti ko lee bi Orunmila.

Baba eni, bioba bi’ni ni pipe,

Bopetiti, a tun nbi Baba eni l’omo’ Yeye.

Eni, bioba bi’ni ni pipe,

Bopetiti, a tun nbi Yeye eni l’omo. 

daa f’Orunmila, ti o wipe:

Oun maa m’Orun bo wa si aye,

Oun maa mu Aye lo s’Orun.

Ki o baa le se bee dandan,

IFA ni ki o ru ohun-gbogbo ni mejimeji,

Abo ati Ako bayi: - Agbo kan, Agutan kan,

Obuko kan, Ewure kan, Akuko-adiye kan,

Agbebo-adiye kan; ati beebee lo. O gbo o

rubo. Bee ni aye nbisii ti won si nre sii.


TRADUÇÃO

Não existe nenhuma mulher que dê a luz a filhos que não possa dar a luz a um Sacerdote de Ifá.

Não existe nenhuma mulher que dê a luz a filhos que não possa dar a luz a Òrúnmìlà.

Nosso pai, se ele nos dá a luz em plenitude, inevitavelmente nós devemos em tempo dar a luz a ele em retribuição.

Nossa mãe, se ela nos dá a luz em plenitude, inevitavelmente nós devemos em tempo dar a luz a ele em retribuição.

O Ifá foi consultado por Òrúnmìlà, quando ele disse que “Ele trará os Céus abaixo para a Terra, Ele trará a Terra acima para os Céus.”

De forma que ele possa realizar com sucesso sua missão, a Ele foi dito para oferecer tudo em dois, um macho e uma fêmea.

Um carneiro e uma ovelha, um bode e uma cabra, um galo e uma galinha etc.

 Òrúnmìlà escutou, prestou atenção, obedeceu e sacrificou. Assim a Terra tornou-se frutífera e multiplicou grandemente.

( Epega)


Por que o Ifá é indicado para quem segue a Umbanda?

  Por que o Ifá é indicado para quem segue a Umbanda? Quando me pediram para escrever sobre a Umbanda e o Ifá, pensei muito antes de aceit...