terça-feira, 29 de março de 2011


A ética e o sacerdote no Ifá e orixa.




Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola

Quando vemos uma criança apontar um coleguinha como sendo o culpado por uma de suas travessuras, já podemos imaginar como vai ser o futuro dessa pessoa se não houver a interferência dos pais.

Nas diversas áreas podemos sentir as distorções de personalidade,e a falta de caráter,de um indivíduo,que muitas vezes começa lá na infância; quando isso é notado em um sacerdote,me faz lembrar uma conhecida frase Yorubana( En ti ase loore ti ko Du pé buru ju olósa Ti ó kò ní léru ló)aquele a quem concedemos bondades que não expressa gratidão,é pior que o ladrão que rouba nossas coisas.

Quando confiamos em alguém, nossa fé, isso nos torna vulneráveis, abrimos nosso coração e expomos nossas feridas, assim como as mais profundas angústias de nossa alma e, muitas vezes, reconhecemos naquela pessoa um elo de ligação com o sonho e a esperança da realização,e isso nos conduz a conceder bondades a esse suposto confiável,amigo,e orientador.

Quando uma consulta a um sacerdote acontece,nos desnudamos e assumimos nossas falhas,e nossa real condição de impotência para lidar com o desconhecido ou com o inesperado.

Isso coloca,o então, senhor da resposta,como solução as nossas angústias e lhe concede o direito de colocar na solução,custos,mesmo que algumas coisas jamais possam ser pagas, quando de fato acontecem.

A condição de solucionador de problemas do corpo e do espírito,não é verdadeira,na realidade o sacerdote,é somente um elo de ligação,entre a solução e o problema, isso não justifica algumas vaidades exteriorizadas,quando do sucesso do tratamento,até porque a solução partiu do Orisa e não do sacerdote.

Quando analisamos do ponto de vista ético,um orientador,jamais deve afastar uma pessoa de sua religião,e sim fortalecer nela aquilo que naturalmente se desenvolveu: confiança, credibilidade e esperança; jamais tal comportamento deve unir o adepto ao emissário e sim a divindade.


Nada mais justo que por esse caminho não trafegue a ilusão, o dever de quem orienta é ajudar a sonhar e jamais iludir.

Quando buscamos em uma consulta aos Orisas,orientação, evidentemente que os interesses do sacerdote,devem ser omitidos,assim como a opinião pessoal do mesmo.

Tal fato transfere a responsabilidade ao Orisa que orientou,mas em nenhum momento isenta o sacerdote da interpretação.

Acredito de fato que quando alguma coisa deixa de acontecer é um erro de interpretação e nunca um equivoco divino.

Assumir tais erros,é um ato de coragem,e sem dúvida, é uma questão ética, considerando o fato que, além dos interesses envolvidos,houve uma expectativa gerada,nada mais justo que um resultado positivo seja sentido, e a resposta aos questionamentos venha como solução ao problema.
Assumir responsabilidades é um atributo de quem oferece soluções.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Mitos, ritos e Orunmila I 


Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola
    Ao longo dos anos alguns mitos foram criados, nessa oportunidade tentaremos aqui auxiliar para que tais equívocos sejam esclarecidos.

1-Deve dar azeite de oliva para Obatala?
Obatala come comidas temperadas com banha de ori,entre algumas coisas; não se usa azeite de oliva conhecido como azeite doce para nenhum orisa.

2-Sango tem medo de Egungun?
Sango convive em perfeita harmonia com Egungun.

3-Existe vários orisas que não aceitam dendê?
Somente Obatala não aceita dendê.

4-Obatala não aceita bebidas de álcool.
Obatala não deve consumir vinho de palma.

5-Se deve colocar obé em vários Orisas?
Somente Ogun é o dono do obé,que serve para os outros orisas.

6-Vai quartinha com água em todos Orisas?
Em poucos orisas vai quartinha com água, os principais é Osun,Yemonja e Obatala.

7-Ogun pode ser arrumado em vasilha de barro?
Jamais, Ogun pode ser arrumado em vasilha de barro, somente em vasilha de ferro,Ogun pode ser assentado.

8-Olooogun Ede pode ser arrumado em vasilha de louça?
Olooogun deve ser arrumado em vasilha de barro.

9-Os búzios das vasilhas dos orisas devem ser abertos?
Os búzios abertos servem somente para jogo, os búzios das vasilhas sempre devem ser fechados.

10-Osun não aceita pombo?
Os únicos impedimentos de Osun seriam os igbin e a banha de Ori.


11-Esu pode ser assentado com pedra de rio?
Jamais Esu deve ser assentado com pedra de rio.

12- Sango deve ser assentado com pedra de rio?
Sango somente pode ser assentado em edun ara.

13-Agamju é assentado em edun ara?
Não, somente dois orisas levam em seu assentamento edun ara e não é Aganju.

14-Iya mi só deve ser cultuada por mulheres?
O culto a Iya mi está ligado a fecundidade, então não poderia haver fecundidade sem a presença de ambos os sexos.

15-O culto de Egungun é somente praticado por homens.
Toda mulher tem antepassados masculinos que devem ser homenageados.

16-Iya petebi é um cargo que todas as mulheres de Osun podem ocupar.
Iya petebi é uma função da mulher do Babalawo ,independente do orisa que ela cultue.

17-Existe qualidade de orisa?
Não existe qualidades de orisa,o que existe são nomes diferentes, em lugares diferentes dados ao mesmo orisa.

18-Sango não aceita obi?
Sango prefere orogbo,mas aceita obi.

19-O orogbo deve ser aberto com faca e descascado para oferecer ao orisa?
O orogbo não deve ser aberto com faca e não deve ser descascado para oferecer ao orisa.

20-O sacerdote não deve iniciar seus filhos carnais?
O sacerdote não só pode como deve iniciar seus filhos carnais existe um odu de Ifa que fala sobre a iniciação dos próprios filhos.


Em outra oportunidade seguiremos com essa forma de abordagem por entendermos ser de fácil compreensão para todos que estão se iniciando na religião tradicional yoruba,ou até mesmo para as pessoas que ainda não conhecem nossa religião.

sexta-feira, 11 de março de 2011


O Bàbàláwo brasileiro,sacerdote de Ifá.

Autor: Babalawo Ifagbaiyin 

Outro dia me foi perguntado se pode haver um Babalawo brasileiro, e isso me fez pensar, que trauma de inferioridade nosso povo vive ao longo da história, que só o que é estrangeiro é que é considerado bom.

Aprendemos primeiro que o que os Portugueses faziam era melhor, depois aprendemos que os franceses eram melhores e por último no governo militar nos foi ensinado que os americanos que eram os bons em tudo.
Que fato estranho é esse que nosso povo se comporta com tal dificuldade de aceitar os seus compatriotas como pessoas comuns, porque sempre somos vistos, por nossos irmãos como sendo inferiores.

Vivemos em um país rico com pessoas inteligentíssimas que ensinam em faculdades no mundo inteiro os mais diversos temas, porque não poderia um brasileiro ser Babalawo?

Bem essa questão da ótica do comportamento humano eu não sou capacitado para examinar deixo isso para os especialistas em tratamento das pessoas mentalmente perturbadas, ou com transtornos de comportamento.

Com respeito ao aspecto religioso examinarei aqui algumas questões de grande importância: se um brasileiro passa por todos os rituais que um yorubano o que o tornaria menos capaz diante dos olhos de Orunmila?Nada.


O ritual que demora inúmeros dias conhecido como Itefa qualifica a pessoa para ser um sacerdote e dar início a uma caminhada que, dependendo da pessoa, pode ou não levar mais ou menos tempo,antigamente se falava de quinze anos,hoje isso tudo é coisa do passado um sacerdote usa elementos como a informática, áudios,e vídeos para melhorar seus conhecimentos,isso comparado com a forma de estudar de cem anos atrás reduz bastante o tempo de aprendizado.

Se a pessoa for iniciada seguindo os princípios da tradição yoruba existem várias formas de conduzir os rituais; o primeiro odu extraído para o iniciado antecede a entrada dele ao igbodu,e pode ou não orientar a necessidade de alguns diferenciais como ebós distintos ao então possível sacerdote.


Se o mesmo foi submetido no igbodu ao ritual do itefa presumimos que tais rituais foram feitos seguindo a orientação de Ifa,e a partir do momento que é extraído o odu do então agora iniciado segue-se os rituais até a conclusão da feitura,com a extração do terceiro odu que orienta sobre o futuro do sacerdote.

Quando um médico sai da faculdade formado nós o chamamos de enfermeiro? Não, nós o chamamos de médico; quando um aluno se forma na faculdade de engenharia nós o chamamos de mestre de obras ou de engenheiro? O sacerdote que passa por todos os rituais de iniciação deve ser reconhecido pelo titulo que recebeu. Se ele vai ou não corresponder é uma outra coisa que pode acontecer em qualquer profissão escolhida.

O dedo médio do sacerdote brasileiro é diferente do dedo médio do sacerdote yoruba?Esse dedo que passa por tantos rituais para que possa imprimir os odus não é reconhecido porque é branco, ou a mente dos nossos irmãos que permanece na escuridão.


O que me deixa triste é saber que pessoas pensem assim,o fato do sacerdote passar por rituais não o habilita a realizar os mesmos, mas o torna reconhecido como tal,os anos podem transformar esse Babalawo em um bom sacerdote,mas um bom sacerdote com os anos não se transforma em um Babalawo.Sem a feitura não existe o titulo.

Até mesmo quando vamos construir uma casa o alicerce deve ser construído primeiro; porque devemos ser diferentes em nossas carreiras? É claro que todo sacerdote deve ser reconhecido por seu conhecimento, mas os rituais o credenciam ao titulo.
Dizer que todo brasileiro não pode ser um Babalawo,é no mínimo imprudência porque ifa ensina que generalizar não é inteligente.

Devemos estar abertos ao diálogo, as mudanças e as transformações estão acontecendo na natureza a todo momento, porque não aconteceria na nossa religião? Uma das missões que Ifa deu aos Babalawos é que ele ande pelo mundo e inicie novos sacerdotes. Por que deveria iniciar novos sacerdotes, para não serem reconhecidos?
Que uma pessoa que fala yoruba fluentemente tem mais chance de aprender Ifa do que uma que não fala a língua isso eu não discuto, que uma pessoa morando em território yoruba tem mais acesso a informação que uma aqui no Brasil isso eu não discuto,mas não estamos discutindo geografia,ou lingüística,estamos falando os desígnios de Ifa,e eu pergunto quem entre nós sabe mais que o Orisa testemunha da criação?

Bí o se rere yó yọ sí ọ lára; bí o kò se rere yó yọ sílẹ̀.

Se suas ações são boas que os benefícios voltem a você; se suas ações não são boas logo aparecerá claramente.

domingo, 6 de março de 2011

Iniciação o milagre da vida, Ifá e orixa.

Iniciação o milagre da vida, Ifá e orixa.



Autor: Babalawo Ifagbaiyin.

Ao longo da história da humanidade o homem vem desenvolvendo uma série de atividades, criando assim uma maior condição de sobrevivência, e desenvolvendo uma capacidade de adaptação aonde o principio básico é a manutenção da vida.

Essa condição (natural) é sentida desde o primeiro momento após o nascimento quando instintivamente buscamos alimento no seio da mãe.
O desenvolvimento de armas e elementos facilitadores como máquinas e implementos contribuíram para um menor desgaste físico, mas paralelamente a isso houve um desenvolvimento mental habilitando esse mesmo elemento a viver com suas dúvidas e decepções.

Nesse período a crença em uma força superior auxiliou muito na manutenção da esperança e na compreensão das perdas assim como, estimulou a capacitação moral e ética.

Com o surgimento dos rituais de iniciação essa capacidade passou a ser aprimorada em território Yoruba.


As pessoas que são iniciadas para determinados Òrìșàs seguem uma orientação de Ifá baseada em um principio da complementação.

Quando um sacerdote de Ifá é iniciado cumpre uma série de rituais e cultua os Òrìșàs indicados nos odus relativos à sua iniciação, já no caso da pessoa não iniciada em Ifá o processo pode seguir uma orientação um pouco diferente.

A pessoa nascida gêmea já trás abundância e a alegria em seu nascimento; sua vida vai ser de fartura naturalmente, e sua forma alegre de ver as coisas com um pouco de infantilidade jamais vai deixar de existir. Considerando esse fato pode ser que Ifá oriente a mesma a ser iniciada em um Òrìsà que tenha um senso prático mais apurado, facilitando assim a vida da pessoa, trazendo para ela uma capacidade que em muitas vezes é deficiente no dia a dia da mesma.

É verdade que estamos aqui examinando uma iniciação, e não uma feitura; então falamos de necessidades apontadas para complemento, suprindo assim uma deficiência que só não é encontrada em Olodumare.

Então se uma pessoa feita para Osun com uma capacidade enorme de amar, em algum momento de sua vida vier a ter um problema em sua vida afetiva, não vai ser considerado o fato de ela amar demais e sim o fato de amar a pessoa errada, sendo assim lhe falta discernimento na hora de eleger o parceiro.


Nesse caso poderá ser indicada a iniciação ao Òrìșa Ọbàtálá, criando assim uma forma de pensar e agir mais equilibrada na vida sentimental dessa pessoa, se isso não for feito seguirá por toda vida se unindo a pessoa errada trazendo assim uma decepção em sua vida afetiva, gerando uma forma de agir involuntária aonde a mesma termina desenvolvendo um comportamento em desalinho com seu destino.

A pessoa com tal problema poderá se unir por interesse, considerando que houveram inúmeras decepções, ou até mesmo desenvolver um comportamento narcisista e individualista gerado pelo medo de amar a pessoa para de se doar, e assume um comportamento egoísta.

Esse tipo de situação pode ser resolvido com uma iniciação ou com outras formas de tratamento, sempre seguindo a orientação de Ifá, é bem verdade que iniciar uma pessoa não feita não é comum, mas é aceitável; muitas vezes a necessidade de uma iniciação antecede a feitura e em muitos casos substitui.

Vejamos então outro exemplo, uma pessoa nascida com problemas de saúde, por orientação de Ifá poderá ser iniciada no culto de vários Òrìșàs; mas o ideal é que primeiramente seja iniciada em Soponnan ou até mesmo em Olókun, Òrìșàs mais diretamente ligados a essas questões, trazendo assim uma melhor qualidade de vida a essa pessoa que poderá ser feita ou não em um futuro. A diferença entre a feitura que exalta as qualidades já existentes no momento do nascimento, e a iniciação que justifica a reposição do que falta em nossa essência é muito forte: feitura e iniciação se diferem e as mesmas só podem ser indicadas por Ifá.


Assim como a iniciação, deixamos bem claro que a orientação pode ser um ebó, ou algum outro tipo de tratamento, e até mesmo uma feitura em caso extremo.

Voltando as iniciações, no caso de algumas pessoas feitas para Ògún poderá ser indicado iniciação em Yèmojà. O filho de Ògún com toda sua vitalidade para o trabalho e os esportes, com sua valentia e coragem muitas vezes sem perceber se afasta um pouco da família e a iniciação em Yèmojà o ajudará nesse relacionamento com filhos e parentes.

Pode acontecer também que essa mesma pessoa feita de Ògún com toda essa vitalidade necessite da iniciação em Ọbàtálá para que tenha mais calma e enfrente os obstáculos com menos desgaste.

Quando analisamos o milagre da iniciação, depois de algum tempo comparando o comportamento do iniciado, fica claro a mudança; a influência do Òrìșa iniciado na vida da pessoa mesmo que ela já seja feita há muito tempo ou que ainda não tenha seu Òrìșà pessoal, é visível e fica evidenciada em seu comportamento.
A iniciação realmente pode ser descrita como um milagre quando bem feita seguindo as indicações corretas.


Poderia descrever aqui os efeitos das mais diversas iniciações no dia a dia do indivíduo, mas não devemos esquecer que em território Yoruba o número de Òrìșàs assentado para uma pessoa que não vai ser um sacerdote é muito reduzido e não raramente excede a três ou quatro, também pode acontecer que a necessidade de culto a um Òrìșà familiar ou antepassado seja indicada por Ifá, ou que a pessoa jamais seja iniciada ou feita.

A iniciação aqui em nosso país passou a ser tratada como um complemento necessário e não como uma solução indicada; quando nascemos somos imperfeitos e assim seremos por toda a vida, o milagre da iniciação só vai amenizar os efeitos de tais imperfeições.


É muito comum ver pessoas feitas para Òrìșàs, mas que na verdade deveria ser iniciada, criando assim inúmeras dificuldades, essa confusão entre iniciação e feitura limita as realizações pessoais e o não cumprimento do destino, implica em sofrimento e desgosto, esse problema se torna cada dia mais comum por falta de conhecimento dos sacerdotes.


sábado, 5 de março de 2011



A roupa não faz o homem, Ifá?





Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola

Em um país  colonizado por um outro, de  religião católica, é evidente a influência religiosa e cultural,percebemos esses traços a cada minuto.

Quando andamos nas ruas sentimos os hábitos dos colonizadores presentes na cozinha em nossa língua e na cultura, com influência arquitetônica e comportamental, moramos e vivemos como europeus,com raras  exceções.

Até ai estaria tudo correto é a história do vencedor sobre o vencido, natural e em  todos lugares podemos sentir isso,porém é natural que com o tempo as pessoas consigam cortar tais influências,e terminem valorizando grande parte da essência original de uma cultura.

Quando falamos das religiões, podemos citar claramente uma tendência, cada vez maior, dos católicos visitarem Roma na tentativa de se aproximar de sua raiz, o mesmo acontece com os Judaicos,e também com os muçulmanos que constantemente viajam para suas terras de origem buscando informação e aumentando o conhecimento religioso e filosófico.

Para as pessoas que tem como religião o Orisa  a própria palavra em língua Yoruba mostra  o caminho a ser seguido,nossas raízes estão na Nigéria nos estados Yorubas que fazem parte desse país.

O natural seria com o tempo nos aproximarmos cada vez mais desse povo e tentar transformar a religião afro brasileira, em religião Yorubana,se falamos Yoruba nos rituais,e se cultuamos os Orisas divindades Yorubanas,isso é perfeitamente normal.


Em território Yoruba,as mulheres não costumam usar saia de armação,não usam sapatos para dançar para os Orisas entre tantas outras  coisas,todos rituais são praticados com roupas muito simples e tanto homens como mulheres permanecem de pés descalços nos rituais.

Isso é só um detalhe, em nossa terra ainda existe quem leva o iyawo na igreja para rezar.
A minha pergunta é: será que nossos irmãos ignoram  suas raízes ou admiram a origem de outras culturas;ou, seria pior ainda, tem vergonha da real condição de nossa essência?

A roupa não faz o homem, em muitos casos podemos ver um comportamento padrão como se tudo seguisse a famosa receita de bolo da roupa branca, não sabem nossos irmãos que em muitos  rituais o que menos importa é a roupa.

É comum ver um sacerdote Yoruba praticando um ritual sem camisa, isso é natural, praticamos uma religião que  é muito fácil de entender, o Orisa nos conhece desde antes de nascermos e dele não escondemos nada muito menos nosso corpo haja visto que em algumas iniciações o uso da roupa é desnecessário e a divindade se é que podemos chamar assim o Orisa não reconhece o indivíduo vestido.

As informações estão a disposição das pessoas, mas a boa vontade em aprender tem que partir delas,e o esforço para retirar de suas vidas o preconceito, vai exigir muito; temos que estar preparados para o encontro com nossas raízes que certamente não é em Roma,e muito menos em Salvador.

Não tenho nada contra o povo baiano, bem pelo contrário admiro muito esse povo alegre e lutador,mas nossa raiz não está na Bahia e sim na Nigéria.

Na Bahia,Pernambuco,Rio de Janeiro,e no Rio Grande do Sul,assim como em outros estados que receberam grande número de escravos,  foi e continua sendo vivenciada parte de uma história que começa em território Yoruba.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O louco o esperto

 Louco ou esperto, Ifá explica.




Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola

Quando comecei a escrever em meu blog e resolvi criar  uma comunidade,eu sabia das dificuldades que encontraria ,imaginava encontrar opositores  sacerdotes que  têm uma formação diferente da minha,isso tudo seria natural porque sabemos que existem algumas questões que automaticamente geram polêmicas.

Nunca imaginei que teria a dolorosa missão de contrariar inúmeros amigos que acreditam na mesma religião que eu acredito.

Estou entre a cruz e a espada como se diz, de um lado o público leigo e os praticantes que buscam informação,e do outro alguns sacerdotes que ainda nos dias de hoje acreditam na sincrética versão de nossa religião,é inacreditável mas ainda existe gente que leva os iniciados para assistir a missa católica.

Como se isso não bastasse,entre tantas coisas erradas ,tem o grupo que olha a data de nascimento para ver o odu no momento da consulta ao jogo de búzios, então diante de tantos equívocos resolvi compartilhar mais informação para os meus leitores.

Imagine se poderia existir  em território yoruba ,no meio da África , a mais de mil anos um cartório com dados e expedindo certidões de nascimento para os iniciados terem como base uma data para que seja feita a consulta a Ifa?

Existe um grupo de pessoas que acredita que a  numerologia tem  ligação com os odus .
Entre tantas coisas essa semana fui questionado sobre o orisa conhecido no Brasil como Iroko. Essa bela àrvore serve de morada para alguns orisas,mas, que não existe nenhum orisa com esse nome, isso eu posso garantir.

Seria aceitável se algumas pessoas leigas questionassem tais fatos ,mas vejo pessoas com dezenas de anos de iniciado fazendo tais colocações.

Aqueles que acreditam  saber de tudo um pouco,ainda afirmam que existe o odu de placenta,o odu da casa e o odu de nascimento,é tanta besteira junto, que  se torna impossível ficar quieto.

A questão do odu,para aqueles que ainda não sabem, vamos esclarecer."Se você  nascer  em território Yoruba e passar por alguns rituais,durante o período, logo após o seu nascimento, você  terá  um odu, que vai servir como referência para sua criação, e educação,ou se nascer em um outro país e passar por tais rituais ministrados por pessoas capacitadas."

  Existe também uma segunda hipótese, quando você é iniciado em Ifa,e passa por vários rituais, para então saber seu  odu .

Atualmente existe uma farta literatura sobre odu e o número de livros é muito grande, alguns que até confundem o nome dos odus,assim como outros que acreditam que Obara meji, é o odu mais rico que existe.

É tanta criatividade que eu  não sei se o individuo  é um louco, ou esperto,mas não resta  a menor dúvida de que ele é desinformado.

Outro dia encontrei um Babalorisa  na rua que me falou “que para assentar Oloogun Ede é necessário ter um peixe que a pessoa tenha pescado” é muito difícil escutar  tantas coisas  e ficar quieto.

Eu gostaria  muito que tais temas não necessitassem ser abordados,mas, isso se faz necessário, acredito muito na força transformadora do orisa, sei que não estou sozinho em minha caminhada,conheço pessoas que lutam contra tais aberrações, há muitos anos,e me identifico  com elas.

Há muitos anos atrás estivemos reunidos em Brasília com o ministro da cultura e com o ministro da justiça, juntamente com o presidente da fundação palmares, buscando uma solução para tais acontecimentos .Na ocasião fui convidado pelo ministro da justiça da época sua excelência  Mauricio Correa, para um churrasco em sua residência, e deixei bem claro o meu descontentamento, em uma conversa privada que tivemos, quando ele em bom tom me disse,"a culpa é de vocês mesmos, que não têm uma liderança forte no pais e representantes com condições de elaborar um sistema de forma a punir tais elementos,despreparados,que fazem parte do meio."

Hoje começo  a acreditar que ele tinha razão,chegou o momento de colocar tais pessoas despreparadas,em seus devidos lugares,porque,os sacerdotes de outras religiões conseguem o respeito das autoridades e da opinião pública, e nós não temos os mesmos privilégios.

Sempre  nossa religião é mencionada na mídia ou é de forma pejorativa ou em alusão ao treze de maio.

Cansei disso,faz tempo,que  busco outra saída  mais adequada,a cultura ,o conhecimento, e o alinhamento com as raízes religiosas,pois quem não está preparado que não se estabeleça,não é justo que os bons paguem pelos despreparados.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A escolha de um sacerdote

A escolha de um sacerdote no Ifá e no Orixa.




Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola


 A escolha de um sacerdote para lhe orientar em sua vida espiritual, deve seguir um cuidadoso sistema aonde você é a prioridade, trazer para sua vida um elemento que você desconhece pode comprometer o seu futuro.

Além de comprometer sua vida espiritual, você muitas vezes, pode ter grandes prejuízos em sua saúde.


O envolvimento com pessoas que muitas vezes não correspondem a um comportamento moral adequado pode traumatizar e criar seqüelas que jamais serão curadas,afastando para sempre o individuo de sua crença.


Um sacerdote deve ter um comportamento exemplar por várias razões, mas a mais importante delas é, ao longo da vida, adquirir o direito de ser cultuado como antepassado  depois de sua morte.


Um homem de bem é lembrado por seus atos, e sua história se perpetua.
A moral e o comportamento adequado imortaliza o individuo.


Enganar,muitas vezes ,tem uma razão que só a pessoa consegue explicar. 


A insegurança e o medo, se explica mas não se justifica,muitas vezes a mentira é antecipada pelo comportamento,tudo poderia ser previsto,só não poderia ser explicado.


Quem tem orisa  bem assentado , jamais será enganado. O desejo de  acertar muitas vezes cega a razão.


As carências emocionais e espirituais afloram e nos deixamos influenciar por títulos, diplomas e histórias que em um momento de maior lucidez jamais acreditaríamos.


Os antepassados quando bem cultuados, avisam em sonho ou por intuição.
Precisamos estar atentos aos recados que aparecem em nosso dia a dia.


Todos somos vítimas, mas temos que aprender com os fatos, precisamos evoluir com o tempo e crescer com as experiências.


O perdedor na verdade quase sempre ganha, é melhor só  que mal acompanhado.
O homem não precisa ver o que está acontecendo para saber que tem alguma coisa errada, muitas vezes ele sente tudo a sua volta,e quando o orisa quer a verdade aparece.


Deixe o tempo passar e os problemas poderão ser solucionados, suas tristezas  vão diminuir,e certamente você vai sair dessa uma pessoa mais forte,mais experiente e mais segura,não vai lhe fazer falta o que você nunca teve,pelo menos da maneira que você pensava.


Pode acontecer que você tenha somente uma vasilha com uma pedra dentro e que esteja cercado de pessoas que jamais deveria confiar.


"Eni ti o jin si koto ko ara ehin logbon, adaniloro fi agbara k’o."
"Aquele que cai em buraco ensina aos que vêm atrás a terem cuidado"




Por que o Ifá é indicado para quem segue a Umbanda?

  Por que o Ifá é indicado para quem segue a Umbanda? Quando me pediram para escrever sobre a Umbanda e o Ifá, pensei muito antes de aceit...